Necrobiopoder informacional: um olhar a partir do episódio “engenharia reversa” de Black Mirror
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-795X.2023.e93953Palavras-chave:
Necrobiopoder, Série Black Mirror, Episódio “Men Against Fire”, FascismoResumo
Este ensaio tem como objetivo interpelar e tensionar os mecanismos contemporâneos de poder sobre a vida e a morte. Para tanto, como suporte de análise, faz uso do episódio “Engenharia Reversa”, da série Black Mirror. O episódio apresenta o extermínio de um povo degenerado, denominado pejorativamente de “baratas”. Para garantir a imunidade do restante da população, o extermínio é responsabilidade de um grupo de soldados que possui um chip implantado em seus cérebros e que tem a função de desumanizar o rosto dessas pessoas. Durante um dos ataques feitos contra as “baratas”, uma delas projeta por meio de um aparelho uma luz nos olhos de um dos soldados, que então passa a ter problemas com a configuração de seus sentidos e começa a enxergar as “baratas” como pessoas. Em termos conceituais, se opera um deslocamento da noção foucaultiana de biopoder e biopolítica para uma que compreenda os mecanismos de supressão da vida contemporânea, em que alguns passam a ter não apenas o direito à vida, mas sim seu oposto radical: a exigência de morte. Se discute tais operações a partir das incursões das biotecnologias sobre os corpos, assim como pelos mecanismos de validação de saberes assentados nas biomolecularidades. Na discussão se destaca os modos como tais pressupostos podem ser análogos do episódio em questão com o contexto social mais amplo. Por fim, reforça os argumentos apresentados ao longo do texto e se advoga a necessidade de mecanismos de suspensão e criticidade dessa “engenharia reversa” social e cultural.
Referências
AGAMBEN, Giorgio. Estado de exceção (I. Poleti, Trad.). São Paulo, SP: Boitempo, 2004.
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade e ambivalência. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999.
BENTO, Berenice. Necrobiopoder: Quem pode habitar o Estado-nação? Cadernos Pagu. Campinas, v. 53, 2018. Disponível em: https://www.scielo.br/j/cpa/a/MjN8GzVSCpWtxn7kypK3PVJ/?format=pdf&lang=pt Acesso em: 06 março de 2023.
BUARQUE, Chico; LOBO, Edu. Ode aos Ratos. In Cambaio. São Paulo, BMG: 2001. CD (38 min).
BUTLER, Judith. Quadro de Guerra: quando a vida é passível de luto? Rio de Janeiro, RJ: Civilização Brasileira. 2018.
CHELOTT, Julia de David. Black Mirror e a utilização da tecnologia em favor do extermínio: uma análise do episódio “engenharia reversa” à luz da biopolítica. In: Anais XVI Seminário de demandas sociais e políticas públicas na sociedade contemporânea UNISC. 2019. Disponível em: https://online.unisc.br/acadnet/anais/index.php/sidspp/article/view/19540 Acesso em: 19 abril de 2023.
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. O anti-édipo: Capitalismo e esquizofrenia Trad. Luiz Orlandi. São Paulo: Editora 34 Ltda, 2010.
DIGILIO, Patricia. La biotecnología en los limites de la biopolítica. En: Bartleby: preferiría no. Lo biopolítico, lo post-humano. Buenos Aires: La Cebra, 2008.
DUARTE, Rosália. Cinema e Educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2002.
ENGENHARIA REVERSA. In: Black Mirror. Criação e direção de Charlie Brooke. Reino Unido: Netflix, 2016. 60min. Temporada 3, episódio 5. Série exibida pela Netflix. Acesso em: janeiro de 2023.
ESPOSITO, Roberto. Immunitas: protección y negación de la vida. Buenos Aires – Madrid: Amorrotu, 2019.
ESPOSITO, Roberto. Bios: biopolítica e filosofia. Tradução de Wander Melo Miranda. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2017.
FOUCAULT, Michel. Aula de 17 março de 1976. In: Em defesa da sociedade: curso no Collège de France (1975-1976). São Paulo – Martins Fontes, 2002. págs. 286-315.
FIORE, Matheus. Black Mirror 3x05 – Engenharia reversa. Planalto aberto. 23 de outubro de 2016. Cinema. Disponível em: https://www.planoaberto.com.br/critica-black-mirror-3x05-engenharia-reversa/ Acesso em: 19 de abril de 2023.
JOAHANN, Maria Regina; FENSTENSEIFER, Paulo Evaldo. Giro hermenêutico & outros escritos. Cruz Alta: Ilustração, 2021.
KAFKA, Franz. A Metamorfose. São Paulo, SP: Martin Claret, 2002.
LE BRETON, David. Rostos: ensaios de antropologia. Petrópolis, RJ: Vozes, 2019.
LIMA, Fátima. Bio-necropolítica: diálogos entre Michel Foucault e Achille Mbembe. Revista Arquivo brasileiros de psicologia. Rio de Janeiro vol.70, págs. 20-31. 2018. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?lng=pt&nrm=iso&pid=S1809-52672018000400003&script=sci_arttext&tlng=pt Acesso em: 19 de abril de 2023.
MBEMBE, Achille. Políticas da inimizade. Lisboa: Antígona, 2017.
MBEMBE, Achille. Necropolítica. São Paulo, SP: n-1 edições, 2018.
RODRÍGUEZ, Pablo Manolo. Las palabras en las cosas: saber, poder y subjetivación entre algoritmos y biomoléculas. Ciudad Autônoma de Buenos Aires: Cactus, 2019.
ROLNIK, Suely. Esferas da Insurreição: Notas para uma vida não cafetinada, n-1 edições, 2018.
REVEL, Judith. Michel Foucault: Conceitos essenciais. Trad. Maria do Rosário Gregolin, Nilton Milanez, Carlo Piovesani. São Carlos: Claraluz, 2005.
SANTOS, Daniel Christian dos. Altericídio: como a filosofia de Achille Mbembe analisa a negação do outro. 1ed, Jundiaí [SP]: Paco, 2022.
SUTTER, Laurent de. ¿Qué es la pop-filosofía? Buenos Aires: Cactus, 2020.
TIQQUN. Contribuições para a guerra em curso. Tradução de Vinícius Nicastro Honesko. São Paulo: N-1 edições, 2019.
UOL. “‘Black Mirror’ explora mau uso da tecnologia para expor ‘falhas’ humanas” 2016. Disponível em: https://tvefamosos.uol.com.br/noticias/redacao/2016/10/21/black-mirror-explora-mau-uso-datecnologia-para-expor-falhas-humanas.htm Acesso em: 04 março 2023.
ZOBOLI, Fabio; GALAK, Eduardo. Prometeu, Epimeteu e Pandora: corpo, técnica e tecnologia em “black mirror”. Revista Internacional Interdisciplinar Art&Sensorium, Curitiba, v.5, n.1, p. 1-15, jan./jun. 2018. Disponível em: https://periodicos.unespar.edu.br/index.php/sensorium/article/view/2199 Acesso em 13 junho de 2023.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2023 Fabio Zoboli, Carleane Soares da Silva, George Saliba Manske
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Esta revista proporciona acesso público a todo seu conteúdo, seguindo o princípio de que tornar gratuito o acesso a pesquisas gera um maior intercâmbio global de conhecimento. Tal acesso está associado a um crescimento da leitura e citação do trabalho de um autor. Para maiores informações sobre esta abordagem, visite Public Knowledge Project, projeto que desenvolveu este sistema para melhorar a qualidade acadêmica e pública da pesquisa, distribuindo o Open Journal Sistem (OJS) assim como outros software de apoio ao sistema de publicação de acesso público a fontes acadêmicas. Os nomes e endereços de e-mail neste site serão usados exclusivamente para os propósitos da revista, não estando disponíveis para outros fins.
A Perspectiva permite que os autores retenham os direitos autorais sem restrições bem como os direitos de publicação. Caso o texto venha a ser publicado posteriormente em outro veículo, solicita-se aos autores informar que o mesmo foi originalmente publicado como artigo na revista Perspectiva, bem como citar as referências bibliográficas completas dessa publicação.