“Levados da breca”: a medicalização infantil no âmbito escolar

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/2175-795X.2020.e67338

Resumo

A infância, entendida como “invenção moderna”, é permeada por processos culturais que incidem nos corpos infantes nos mais variados espaços onde estão inseridas. Nesse ínterim, uma multiplicidade de saberes técnico-científicos constrói verdades organizando os modos de compreensão da infância. Esta pesquisa foi realizada junto aos profissionais de educação de escolas públicas de um município do sul do Brasil a fim de compreender como ocorrem os processos de encaminhamento de crianças aos especialistas da área da saúde responsáveis pelo diagnóstico e tratamento biomédico de transtornos relacionados à infância. O diagnóstico e elaboração de laudos mostrou-se uma maneira rápida de resolver problemas que demonstram incômodo na escola, tais como agitação, falta de atenção, baixo desempenho escolar, transformando comportamentos indesejados em patologias. A problemática que está em questão não realizar um juízo de valor, mas repensar como práticas de medicalização se disseminam dentro e fora das escolas e que efeitos geram na construção de sujeitos e comunidades.

Biografia do Autor

George Saliba Manske, Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI).

Doutor em Educação (PPGEDU/UFRGS).

Docente do curso de Educação Física (UNIVALI).

Docente do PPG em Saúde e Gestão do Trabalho (PPGSGT/UNIVALI).

Docente do PPG em Educação (PPGEDU/UNIVALI).

 Líder do Grupo de Estudos e Pesquisa em Estudos Culturais  (GEPEC/UNIVALI).

Daniela Cristina Rático de Quadros, Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI).

Mestre em Saúde e Gestão do Trabalho (PPGSGT/UNIVALI).

Docente do curso de enfermagem (UNIVALI).

Doutorando em Educação (PPGEDU/UNIVALI).

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Publicado

2020-12-31

Como Citar

Manske, G. S., & Quadros, D. C. R. de. (2020). “Levados da breca”: a medicalização infantil no âmbito escolar. Perspectiva, 38(4), 1–17. https://doi.org/10.5007/2175-795X.2020.e67338