A instrução da criança desvalida no Maranhão oitocentista

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DOI :

https://doi.org/10.5007/2175-795X.2019.e61993

Résumé

O crescente aumento da pobreza na Província do Maranhão no oitocentos, após a Revolta da Balaiada, contribui com a criação da Casa dos Educandos Artífices em 1841 que recolhe crianças desvalidas do sexo masculino. Os admitidos aprendiam as primeiras letras, a doutrina cristã e recebiam uma instrução mecânica que se adquiria no Arsenal de Guerra, nas obras públicas do governo e em oficinas particulares. O ensino dividido em lições teóricas e literárias é organizado como as demais aulas de instrução primária; educandos que aprendiam a ler, escrever e contar; recebiam noções de gramática nacional e aulas de música vocal e instrumental. A modalidade profissional consistia na aprendizagem de uma arte mecânica: pedreiro, alfaiate, marceneiro, serralheiro e tanoeiro. Objetiva-se resgatar o ciclo de vida dessa Instituição que culmina com a Proclamação da República, recorrendo-se ao cruzamento de diversas fontes: manuscritas; ofícios dos diretores aos presidentes de Província; relatórios dos próprios presidentes de Província; regulamentos; leis e os jornais que circularam em São Luís no período de 1841 a 1889, à luz dos aportes teóricos de Norbert Elias. As categorias de análises adotadas foram: processos de criação e instalação da Instituição; caracterização e utilização do espaço físico, relações de poder (entre diretor, escrivão e professores); fluxo das disciplinas e organização do tempo escolar; professores, legislação, normas e administração. Contribui-se com esta pesquisa para compreendermos a natureza da instrução profissional e as características das instituições escolares destinadas ao acolhimento de crianças desvalidas no Maranhão do século XIX.  

Biographie de l'auteur

Samuel Luis Velázquez Castellanos, Universidade Federal do Maranhão - UFMA

Doutor em Educacao pela Universidade Estadual Paulista - Unesp. Professor da Universidade Federal do Maranhão - UFMA

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Publiée

2019-09-30

Comment citer

Castellanos, S. L. V. (2019). A instrução da criança desvalida no Maranhão oitocentista. Perspectiva, 37(3), 791–815. https://doi.org/10.5007/2175-795X.2019.e61993

Numéro

Rubrique

Dossiê Infância, Cultura e História