Haroldo de Campos e a interpretação luciferina
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-7968.2014v3nespp182Resumen
O caminho que Haroldo de Campos empreende em sua leitura de Dante Alighieri (Traduzir e Trovar e Pedra e luz na poesia de Dante) abre para uma leitura audaz da obra do fundador da língua e tradição cultural italiana. Traduzindo partes do Paradiso, ele invoca a metáfora da luz, que remete à visão de um grande intelectual medieval da época de Dante: Robert Grosseteste. Traduzir, para Haroldo, equivale a ler de forma hipercrítica, provocando uma desestabilização radical no texto. Tresler, tresluzir, transcriar, transparecer: são conceitos produto do agrupamento entre leitura/criação, luz e o prefixo trans ou três. Tresler, por ex., pode ter o significado de ler às avessas, mas também: “perder o juízo” ou “dizer tolices”. Há, portanto, um movimento vorticoso em diagonal ou “às avessas” típico de Haroldo de Campos, que salienta uma tensão entre o intelecto em Dante e o caminho místico, que a luz paradisíaca deixa transparecer. O que leva Haroldo a uma recuperação de Lúcifer (Satanás), de acordo com a etimologia “o que traz luz”, que segundo uma tradição popular, é dono da sabedoria superior, negada ao homem comum. Uma singular analogia com o Golem, da tradição hebraica.
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