Museu colonial x Antimuseu: uma abordagem sobre relações étnico-raciais a partir do Museu de Ciências do Observatório Astronômico da Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/2175-7941.2024.95156

Palavras-chave:

Museus de Ciências, Racismo, Interculturalidade, Antimuseu

Resumo

As relações entre museu, universidade e escola, como parte da cultura, são ainda pouco estudadas, sobretudo no contexto das Ciências Físicas. Analisamos, em abordagem qualitativa, elementos museológicos (arquitetura; material documental, bibliográfico e instrumental; objetos científicos; mediação pedagógica) do Museu de Ciências do Observatório Astronômico da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (MOA-UFRGS). Amparados nas discussões sobre as relações étnico-raciais, em referenciais teóricos da museologia e de outras ciências sociais e humanas, classificamos o MOA-UFRGS como um exemplo típico de museu colonial de ciências. Com base em questões históricas, de memória e de educação patrimonial, refletimos a partir da definição mais atual de museu, o papel dos museus de ciências na desarticulação do racismo epistêmico e do compromisso ético com epistemologias outras que são historicamente negligenciadas nas ciências. Respaldados na ideia de antimuseu, articulada pelo pensador africano Achille Mbembe, apresentamos uma proposta alternativa de narrativa museológica para o MOA-UFRGS que leva em conta perspectivas inclusivas e descolonizadoras da ciência. 

Biografia do Autor

Alan Alves-Brito, Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Cursou Bacharelado em Física na Universidade Estadual de Feira de Santana (2002), Mestrado (2004) e Doutorado (2008) em Ciências (Astrofísica Estelar) no Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP. Atualmente é Professor Adjunto no Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde desenvolve atividades de ensino, pesquisa, extensão, divulgação científica e gestão. Tem trabalhado em pesquisa (Programas de Pós-Graduação em Física/UFRGS; PPG em Ensino de Física/UFRGS; PPG em Divulgação em Ciências/Fiocruz; e no Núcleo de Estudos Africanos, Afro-Brasileiros e Indígenas/UFRGS) em temas voltados para a evolução química de diferentes populações estelares da Via Láctea, educação e divulgação de Astronomia e Física, incluindo questões decoloniais, étnico-raciais, de gênero e suas intersecções nas ciências exatas.

Cicera Nunes, Universidade Regional do Cariri - URCA

Doutora em Educação Brasileira pela Universidade Federal do Ceará (2010). É Mestra em Educação Brasileira também pela Universidade Federal do Ceará (2007). Pedagoga e Especialista em Arte-Educação pela Universidade Regional do Cariri (2003). Realizou estágio de pós-doutoramento no Programa de Pós-Graduação em Museologia da Universidade Federal da Bahia (2020/2021). Foi professora da educação básica da rede municipal e particular de Juazeiro do Norte (2000-2008), da Universidade Federal de Alagoas (2008-2010) e da Universidade Federal de Campina Grande (2010-2011). Atualmente é Professora Adjunta vinculada ao Departamento de Educação da Universidade Regional do Cariri – URCA. Professora Permanente do Mestrado Profissional em Educação e do Mestrado Profissional em Ensino de História da URCA.

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Publicado

2024-12-05

Como Citar

Alves-Brito, A., & Nunes, C. (2024). Museu colonial x Antimuseu: uma abordagem sobre relações étnico-raciais a partir do Museu de Ciências do Observatório Astronômico da Universidade Federal do Rio Grande do Sul . Caderno Brasileiro De Ensino De Física, 41(3), 687–714. https://doi.org/10.5007/2175-7941.2024.95156

Edição

Seção

Currículo de Ciências/Física