Subjetividades da Comunicação Científica: a educação e a divulgação científicas no Brasil têm sido estremecidas em tempos de pós-verdade?

Autores

  • Alan Alves-Brito Universidade Federal do Rio Grande do Sul
  • Neusa Teresinha Massoni Universidade Federal do Rio Grande do Sul
  • Ricardo Rangel Guimarães Universidade Federal do Rio Grande do Sul

DOI:

https://doi.org/10.5007/2175-7941.2020v37n3p1598

Resumo

O neologismo pós-verdade é uma metonímia contemporânea para pensarmos o léxico verdade sob diferentes perspectivas. O principal objetivo deste ensaio é descrever, discutir e examinar como o fenômeno da pós-verdade tem se constituído e interferido na educação e na divulgação científicas. Assumimos uma atitude crítica frente ao problema da pós-verdade, procurando discutir seus reflexos na educação, e fortalecer as plataformas e as políticas públicas voltadas à educação e à divulgação científicas no Brasil contemporâneo. Defendemos que a verdade, como bem material (enquanto corpo sistematizado de conhecimento) e simbólico, parece diluir-se e enfraquecer-se no debate público, especialmente com novos ambientes de tecnologias digitais (Facebook, YouTube, WhatsApp, Twitter, Instagram, entre outros), nos quais circulam de forma indiscriminada e acrítica informações, fatos, fake news, corroborando para o estabelecimento de um estado de pós-verdade em que o que vale são os bytes de informação. Essa informação pode ser falsa (e muitas vezes é), o que desperta emoções através de mecanismos de persuasão. Nós, então, pensamos e argumentamos que subjetividades que pouco levam em conta fatos, evidências, convicção científica, epistemológica, política (ou cosmopolítica) tendem a ser nefastas à educação e à divulgação científicas.

Biografia do Autor

Alan Alves-Brito, Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Bacharel em Física (UEFS), Mestre e Doutor em Ciências (USP) com estágios de pós-doutorado no Chile e na Austrália. Atualmente é Professor Adjunto no Instituto de Física da UFRGS. Membro permanente dos Programas de Pós-Graduação em Física e Ensino de Física da UFRGS. Atua nas áreas de Astrofísica, Educação e Divulgação de Ciências. Autor de 2 livros de divulgação, um deles finalista no Prêmio Jabuti 2020 na categoria Ensaios/Ciências. Orcid: https://orcid.org/0000-0001-5579-2138

Neusa Teresinha Massoni, Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Doutora em Ciências, na área de concentração em Ensino de Física e Mestre em Física, área de concentração Ensino de Física, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul; Licenciada em Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul; atualmente é Professora Associada no Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul; é docente permanente do Programa de Pós Graduação em Ensino de Física do Instituto de Física da UFRGS.  Orcid:  https://orcid.org/0000-0002-1145-111X

Ricardo Rangel Guimarães, Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Pesquisador Bolsista de Pós-Doutorado (PNPD/CAPES) no Programa de Pós-Graduação em Ensino de Física do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (IF / PPGEnFis - UFRGS (Conceito 6 CAPES)), Doutor e Mestre em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Bacharel e Licenciado em Filosofia e Licenciado em Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Bacharelando em Física na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Possui experiência com pesquisa em Epistemologia Analítica Contemporânea e em Ensino de Ciências e de Filosofia na Educação Básica e Superior, atuando e tendo interesse nos seguintes temas: Epistemologia da Memória, História e Filosofia da Ciência, Lógica e Argumentação na Educação Científica, Filosofia da Educação, Epistemologia Social, Filosofia da Mente e da Linguagem, Teorias da Cognição e da Aprendizagem.

Referências

ABREU, T. B.; FERNANDES, J. P.; MARTINS, I. Levantamento sobre a produção CTS no Brasil no período de 1980-2008 no Campo de Ensino de Ciências. Alexandria: Revista de Educação em Ciência e Tecnologia, v. 6 n. 2, p. 3-32, 2013.

ALVES-BRITO, A.; BOOTZ, V.; MASSONI, N. T. Uma sequência didática para discutir as relações étnico-raciais (Leis 10.639/03 e 11.645/08) na educação científica. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v. 35, p. 917-955, 2018.

ALVES-BRITO, A. et al. Astronomy for development in Portuguese-speaking countries. Nature Astronomy, v. 3, 366, 2019.

ALVES-BRITO, A et al. Histórias (in)visíveis nas ciências. I. Cheikh Anta Diop: um corpo negro na física. Revista da Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as, v. 12, n. 31, 2020.

ARENDT. H. Verdade e Política. In: Entre o passado e o futuro. São Paulo: Perspectiva, 2007.

AULER, D.; DELIZOICOV, D. Ciência-Tecnologia-Sociedade: relações estabelecidas por professores de ciências. Revista Electrónica de Enseñanza de las Ciencias, Vigo (Espanha) v. 5, n. 2, p. 337-355, 2006.

BACHELARD, G. Epistemología. Barcelona: Editorial Anagrama, 1973.

BLOOR, D. Conhecimento e imaginário social. São Paulo: Editora UNESP, 2009.

BOARO, D. A.; MASSONI, N. T. O uso de elementos da História e Filosofia da Ciência (HFC) em aulas de Física em uma disciplina de Estágio Supervisionado: alguns resultados de pesquisa. Investigações em Ensino de Ciências (online), v. 23, n. 3, p. 110-144, 2018. Disponível em: https://www.if.ufrgs.br/cref/ojs/index.php/ienci/article/view/1132/pdf.

BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Dispõe sobre as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário Oficial da União, Brasília, 23 dez.1996.

CELLAN-JONES, R. Como o Facebook pode ter ajudado Trump a ganhar a eleição. BBC News Brasil. 12/11/2016. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-37961917. Acesso em: 02 mar. 2020.

CHAUI, M. Introdução à história da filosofia: dos pré-socráticos a Aristóteles. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. v. 1.

CORPORACIÓN LATINOBARÓMETRO. Informe 2018, 2018. Disponível em: http://www.latinobarometro.org/lat.jsp. Acesso em: 09 out. 2020.

ELACQUA, G. Profesión: profesor en América Latina ¿Por qué se perdió el prestigio docente y cómo recuperarlo? BID- Banco Interamericano de Desarrollo, División de Educación, 2018. Disponível em: https://publications.iadb.org/publications/portuguese/document/Profiss%C3%A3o-professor-na-Am%C3%A9rica-Latina-Por-que-a-doc%C3%AAncia-perdeu-prest%C3%ADgio-e-como-recuper%C3%A1-lo.pdf. Acesso em: 25 set. 2020.

ENGLISH OXFORD DICTIONARIES. World of the Year 2016 is. Available on; https://languages.oup.com/word-of-the-year/2016/. Acesso em: 02 mar. 2020.

FEYERABEND, P. Contra o método. São Paulo: UNESP, 2007.

FORATO, T. C. M.; MARTINS, R. A.; PIETROCOLA, M. A história e a natureza da ciência no ensino de ciências: obstáculos a superar ou contornar. In: ENCONTRO DE PESQUISA EM ENSINO DE FÍSICA, XII, 2010, Águas de Lindóia. Atas eletrônicas... Águas de Lindóia: SBF, 2010.

FOUCAULT, M. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 1979.

FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. 36. ed. Rio de Janeiro: Edições Paz e Terra, 2003.

FREIRE, P. Educação como prática da liberdade. 17. ed. Rio de Janeiro: Edições Paz e Terra, 1979.

GOMES, N. L. O movimento negro educador: Saberes construídos nas lutas por emancipação. São Paulo: Vozes, 2017.

HARVEY, D. A loucura da razão econômica: Marx e o capital no século XXI. São Paulo: Boitempo, 2018.

JUNGES, A. L.; MASSONI, N. T. O consenso científico sobre aquecimento global antropogênico: considerações históricas e epistemológicas e reflexões para o ensino dessa temática. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, v. 18, p. 455-491, 2018.

KUHN, T. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Perspectiva, 1997.

LACEY, H. Valores e Atividade Científica. São Paulo: Discurso Editorial, 1998.

LAKATOS, I. O falseamento e a metodologia dos programas de pesquisa científica. In: LAUDAN, L. El progreso y sus problemas. Madrid: Encuentro Ediciones, 1977.

LATOUR, B. Bruno Latour: “O sentimento de perder o mundo, agora, é coletivo”. El País Internacional. Entrevista concedida a MARC BASSETS. 31/03/2019. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2019/03/29/internacional/1553888812_652680.html. Acesso em: 07 mar. 2020.

LATOUR, B. Reagregando o social: uma introdução à Teoria do Ator-Rede. Salvador: Edufba, 2012.

LATOUR, B. Disinventare la Modernità: conversazioni com François Ewald. Milano (Italia): Elèuthera Edizioni, 2008.

LATOUR, B.; WOOLGAR, S. A Vida de Laboratório: a produção dos fatos científicos. Rio de Janeiro: Relume Dumara, 1997.

LÉVI-STRAUSS, C. Antropologia estrutural dois. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1993.

MASSONI, N. T.; MOREIRA. A. A visão epistemológica de Isabelle Stengers. Ensino, Saúde e Ambiente, v. 8, n. 2, p. 111-141, 2015.

MASSONI, N. T.; MOREIRA, M. A. David Bloor e o “programa forte” da Sociologia da Ciência: um debate sobre a natureza da ciência. Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências (on line), v. 22, e10625, 2020.

MATTHEWS, M. R. História, filosofia, e ensino de ciências: a tendência atual de reaproximação. Caderno Catarinense de Ensino de Física, v. 12, n. 3, p. 164-214, 1995.

MBEMBE, A. Necropolítica. Arte & Ensaios, v. 32, dezembro 2016.

MOREIRA, M. A. (Org.). Representações Mentais, Modelos Mentais e Representações Sociais. Porto Alegre, UFRGS, Instituto de Física, 2005.

MOREIRA, M. A.; MASSONI, N. T. Epistemologias do século XX. São Paulo: EPU, 2011.

MOSCOVICI, S. Representações Sociais: investigações em Psicologia Social. Petrópolis: Vozes, 2015.

MOSER, P. K.; MULDER, D. H.; TROUT, J. D. A teoria do conhecimento: uma introdução temática. São Paulo: Martins Fontes, 2011.

NASCIMENTO, G. Racismo Linguístico: os subterrâneos da linguagem e do racismo. Belo Horizonte: Letramento, 2019.

ORTEGA, F.; ZORZANELLI, R. Corpo em evidência: a ciência e a redefinição do humano. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.

OTERO, M. R.; FANARO, M. A.; ARLEGO, M. Investigación y desarrollo de propuestas didácticas para la enseñanza de la Física en la Escuela Secundaria: Nociones Cuánticas. Revista Electrónica de Investigación en Educación en Ciencias (REIEC), Argentina, Año 4, n. 1, p. 58-74, 2009.

PAGLIARINI, C. R.; ALMEIDA, M. J. P. M. Leituras por alunos do ensino médio de textos de cientistas sobre o início da física quântica. Ciência & Educação, Bauru, v. 22, n. 2, p. 299-317, 2016.

POPPER, K. A lógica da pesquisa científica. 6. ed. São Paulo: Cultrix, 1996.

RAICIK, A. C.; PEDUZZI, L. O. Q. O contexto da descoberta e o contexto da justificativa em sala de aula. In: CONFERÊNCIA LANITOAMERICANA DEL INTERNATIONAL, HISTORY AND PHILOSOPHY OF SCIENCE TEACHING GROUP IHPST-LA, III, CO3, 2014, Santiago de Chile. Disponível em: http://laboratoriogrecia.cl/wp-content/uploads/2015/04/C03-RAICIK-PEDUZZI.pdf. Acesso em: 28 set. 2020.

REIS, J. C.; GUERRA, M. BRAGA. Da necessidade de valorizar a história e a filosofia da ciência na formação de professores. In: ENCONTRO DE PESQUISA EM ENSINO DE FÍSICA, XII, 2010, Águas de Lindóia. Atas eletrônicas... Águas de Lindóia: SBF, 2010.

SANTOS, B. S. O fim do império cognitivo: A afirmação das epistemologias do Sul. São Paulo: Autêntica, 2019.

SELLES, S. E. A polêmica instituída entre ensino de evolução e criacionismo: dimensões do público e do privado no avanço do neoconservadorismo. Ciência & Educação, Bauru, v. 22 n. 4, 2016. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-73132016000400831&lng=pt&tlng=pt. Acesso em 25 set. 2020.

SILVEIRA, F. L. D. A filosofia de Karl Popper e suas implicações no ensino da ciência. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, Florianópolis, v. 6, n. 2, p. 148-162, 1989.

STADERMANN, H. K. E.; VAN DEN BERG, E.; GOEDHART, M. J. Analysis of secondary school quantum physics curricula of 15 different countries: different perspectives on a challenging topic. Physical Review Physics Education Research, v. 15, p. 010130/1- 010130-25, 2019.

STENGERS, I. L’invention des sciences modernes. Paris: Champs-Flammarion, 1995.

STENGERS, I. “La Propuesta Cosmopolítica”. Revista Pléyade, v. 14, p. 17-41, 2014.

TARSKI, A. A Concepção semântica da verdade: textos clássicos de Alfred Tarski. In: MORTARI, C. A.; DUTRA, L. H. A. (Orgs.). São Paulo: Editora UNESP, 2007.

THEOCHARIS, T.; PSIMOPOULOS, M. Where science hás gone wrong. Nature, v. 329, n. 6140, p. 595-598. 1987.

TESICH, S. A Government of Lies. The Nation, p. 6-13. (January 1992):12. Available on: https://www.thefreelibrary.com/A+government+of+lies.-a011665982. Acesso em: 24 set. 2020.

TOLLEFSON, J. Ricardo Galvão Science defender. Nature, v. 576, 19/26 December 2019. Disponível em: https://www.nature.com/immersive/d41586-019-03749-0/pdf/d41586-019-03749-0.pdf. Acesso em: 02 mar. 2020.

THORP, H. H. Do us a favor. Science, v. 367, Issue 6483, p. 1169, mar. 2020.

Downloads

Publicado

2020-12-16

Como Citar

Alves-Brito, A., Massoni, N. T., & Guimarães, R. R. (2020). Subjetividades da Comunicação Científica: a educação e a divulgação científicas no Brasil têm sido estremecidas em tempos de pós-verdade?. Caderno Brasileiro De Ensino De Física, 37(3), 1598–1627. https://doi.org/10.5007/2175-7941.2020v37n3p1598

Edição

Seção

Artigos

Artigos mais lidos pelo mesmo(s) autor(es)

1 2 > >>