Subjetividades da Comunicação Científica: a educação e a divulgação científicas no Brasil têm sido estremecidas em tempos de pós-verdade?
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-7941.2020v37n3p1598Resumo
O neologismo pós-verdade é uma metonímia contemporânea para pensarmos o léxico verdade sob diferentes perspectivas. O principal objetivo deste ensaio é descrever, discutir e examinar como o fenômeno da pós-verdade tem se constituído e interferido na educação e na divulgação científicas. Assumimos uma atitude crítica frente ao problema da pós-verdade, procurando discutir seus reflexos na educação, e fortalecer as plataformas e as políticas públicas voltadas à educação e à divulgação científicas no Brasil contemporâneo. Defendemos que a verdade, como bem material (enquanto corpo sistematizado de conhecimento) e simbólico, parece diluir-se e enfraquecer-se no debate público, especialmente com novos ambientes de tecnologias digitais (Facebook, YouTube, WhatsApp, Twitter, Instagram, entre outros), nos quais circulam de forma indiscriminada e acrítica informações, fatos, fake news, corroborando para o estabelecimento de um estado de pós-verdade em que o que vale são os bytes de informação. Essa informação pode ser falsa (e muitas vezes é), o que desperta emoções através de mecanismos de persuasão. Nós, então, pensamos e argumentamos que subjetividades que pouco levam em conta fatos, evidências, convicção científica, epistemológica, política (ou cosmopolítica) tendem a ser nefastas à educação e à divulgação científicas.
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