Protesto, insubordinação e reminiscências da escravidão na construção da ferrovia Bahia-Minas na década da abolição

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/1984-9222.2020.e75386

Resumo

Em 1888 foi abolida a escravidão no Brasil. A década da abolição, no extremo sul da Bahia, foi acompanhada de conflitos e tensões envolvendo senhores, escravos, abolicionistas e autoridades provinciais. A este cenário se somou a presença de uma multidão de trabalhadores para a construção da estrada de ferro Bahia-Minas, oriundos de várias regiões. Os operários que construíam a ferrovia protagonizaram uma série de protestos, motins e reivindicações ao longo da década, contribuindo para o “clima de instabilidade” que marcou as lutas em torno da escravidão e da liberdade na região. Em 1888, depois da aprovação da lei de 13 de maio, após um protesto armado, uma turma de trabalhadores portugueses engajados nas obras da estrada de ferro foi presa no tronco e permaneceu durante meses na prisão. Este artigo, através da documentação policial e judicial, analisa este episódio e discute as reminiscências escravistas nas relações de trabalho na ferrovia no período imediato à abolição.

Biografia do Autor

Iacy Maia Mata, Universidade Federal da Bahia (UFBA)

Professora Adjunta do Departamento de História, da Universidade Federal da Bahia. Atua na área de História da América e História do Brasil. Integra o Grupo de Pesquisa Escravidão e Invenção da Liberdade, da UFBA.

Robério Santos Souza, Universidade do Estado da Bahia (UNEB)

Professor Titular do Departamento de Ciências Humanas, da Universidade do Estado da Bahia. Atua na área de História do Brasil, História Social do Trabalho e da Cultura. Integra o Grupo de Pesquisa Escravidão e Invenção da Liberdade, da UFBA.

Referências

ALBUQUERQUE, Wlamyra Ribeiro de. O jogo da dissimulação: Abolição e cidadania negra no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

BATALHA, Claudio Henrique Moraes. Limites da liberdade: trabalhadores, relações de trabalho e cidadania durante a Primeira República. In: LIBBY, Douglas Cole; FURTADO, Júnia Ferreira (org). Trabalho livre, trabalho escravo: Brasil e Europa, séculos XVIII e XIX. São Paulo: Annablume, 2006.

BATISTA, Luan Lima. E... cuidado com o estomago! É uma víscera intolerante": experiências de trabalho, carestia e as lutas dos ferroviários da Estrada de Ferro Central da Bahia. (1875-1909). Dissertação (Mestrado em História) - Departamento de Ciências Humanas e Filosofia, Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana, 2016.

BRITO, Jailton Lima. A abolição na Bahia (1870-1888). Salvador: Centro de Estudos Baianos da UFBA, 2003.

CARMO, Alane Fraga do. Colonização e escravidão na Bahia: a Colônia Leopoldina (1850-1888). 2010. Dissertação (Mestrado em História) - Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2010.

CECHIN, José. A construção e operação das ferrovias no século XIX. Dissertação (Mestrado em História), Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1978.

CHALHOUB, Sidney. A força da escravidão. Ilegalidade e costume no Brasil oitocentista. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

CHALHOUB, Sidney. Trabalho, lar e botequim: o cotidiano dos trabalhadores no Rio de Janeiro da belle époque. 2ª edição. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2001.

CRUZ, Maria Cecília Velasco e. Tradições negras na formação de um sindicato: Sociedade de Resistência dos Trabalhadores em Trapiche e Café, Rio de Janeiro, 1905-1930. Afro-Ásia, Salvador, n. 24, p. 243-290, 2000.

FONER, Eric, O significado da liberdade. Revista Brasileira de História, São Paulo, n. 8, 1988.

FONER, Eric. Nada além da liberdade: a emancipação e seu legado. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.

FRAGA FILHO, Walter. “O 13 de maio e as celebrações da liberdade, Bahia, 1888-1893”. História Social, Campinas, v. 1, n. 19, p. 63-90, segundo semestre de 2010.

FRAGA FILHO, Walter. Encruzilhadas da liberdade: histórias de escravos e libertos na Bahia (1870-1910). Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2006.

FRENCH, John. As falsas dicotomias entre escravidão e liberdade: continuidade e rupturas na formação política e social do Brasil moderno. In: LIBBY, Douglas Cole; FURTADO, Júnia Ferreira (Orgs). Trabalho livre, trabalho escravo. São Paulo: Annablume, 2006.

GARCÍA RODRÍGUEZ, Gloria. Conspiraciones y revueltas. La actividad política de los negros en Cuba, 1790-1845. Santiago de Cuba: Editorial Oriente, 2003.

GRADEN, Dale. From Slavery to Freedom in Brazil: Bahia, 1835-1900. Albuquerque: University of New Mexico Press, 2006.

LAMOUNIER, Maria Lúcia. Ferrovias e mercado de trabalho no Brasil do século XIX. São Paulo: Editora da USP, 2012.

LAMOUNIER, Maria Lúcia. Ferrovias, agricultura de exportação e mão de obra no Brasil no século XIX. História econômica e história de empresas, v. 3, n. 1, p. 43-76, 2000.

LARA, Silvia H. Escravidão, cidadania e história do trabalho no Brasil. Projeto História, São Paulo, n. 16, 1998.

LARA, Silvia Hunold. Campos da violência: escravos e senhores na Capitania do Rio de Janeiro, 1750-1808. São Paulo: Paz e Terra, 1988.

LIBBY, Douglas Cole; FURTADO, Júnia Ferreira (org.). Trabalho livre, trabalho escravo: Brasil e Europa, s´éculos XVIII e XIX. São Paulo: Annablume, 2006.

MATA, Iacy Maia. “Libertos de 13 de maio e ex senhores na Bahia: conflitos no pós-abolição”. Afro-Asia, Salvador, n. 35, p.163-198, 2007.

MATA, Iacy Maia. Conspirações da raça de cor: Escravidão, liberdade e tensões raciais em Santiago de Cuba (1864-1881). Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2015.

MATA, Iacy Maia. Os ‘treze de maio’: ex-senhores, polícia e libertos na bahia pós-abolição (1888-1889). 2002. Dissertação (Mestrado em História) - Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2002.

MELO, Cleiton Jones. “Vem aí a imigração”: expectativas, propostas e efetivações da imigração na Bahia (1816-1900). Dissertação (Mestrado em História). Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. Universidade Federal da Bahia, Salvador.

MORATELLI, Thiago. Operários de empreitada. Os trabalhadores da construção da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil (São Paulo e Mato Grosso, 1905-1914). Campinas: Editora da Unicamp, 2013.

REIS, João José. De Olho no Canto: Trabalho de Rua na Bahia na Véspera da Abolição. Afro-Asia (UFBA), Salvador, v. 24, p. 199-242, 2000.

REIS, João José. Nos achamos em campo a tratar da liberdade': a resistência negra no Brasil oitocentista. In: MOTA, Carlos Guilherme (org.). Viagem incompleta. A experiência brasileira (1500-2000). Formação: histórias. São Paulo: Editora do SENAC, 2000, p. 241-263.

SILVA, Eduardo. Barões e escravidão. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.

SILVA, Ricardo Tadeu Caires. Criminalidade, resistência escrava e abolicionismo na Colônia Leopoldina, Bahia (1880-1888). Revista de História Regional, 21(1), p. 83-109, 2016.

SILVA, Ricardo Tadeu Caires; MATA, Iacy Maia. Resistência e rebeldia: escravidão e pós-abolição no extremo sul da Bahia (1888-1889). [No prelo.]

SOUZA, Robério S. Trabalhadores dos Trilhos: imigrantes e nacionais livres, libertos e escravos na construção da primeira ferrovia baiana (1858-1863). Campinas: Editora da Unicamp, 2015.

SOUZA, Robério S. Tudo pelo trabalho livre: trabalhadores e conflitos no pós-abolição (Bahia, 1892-1909). Salvador/São Paulo: Edufba/Fapesp, 2011.

Downloads

Publicado

2020-12-07

Como Citar

MATA, Iacy Maia; SOUZA, Robério Santos. Protesto, insubordinação e reminiscências da escravidão na construção da ferrovia Bahia-Minas na década da abolição. Revista Mundos do Trabalho, Florianópolis, v. 12, p. 1–19, 2020. DOI: 10.5007/1984-9222.2020.e75386. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/mundosdotrabalho/article/view/75386. Acesso em: 23 nov. 2024.

Edição

Seção

D2 "Trabalhadores de construção: por estradas, ferrovias, açudes e outras obras"