Gênero e raça no trabalho doméstico livre em Salvador em fins do século XIX: o surgimento de uma classe fatalmente segmentada
DOI:
https://doi.org/10.5007/1984-9222.2018v10n20p81Resumen
Em 1887, um conjunto de posturas para disciplinar o trabalho doméstico, em Salvador, foi publicado pela Câmara Municipal. Dentre outras determinações, estabelecia-se que os criados de servir fossem matriculados na Secretaria de Polícia. Foram realizadas 897 matrículas, contendo muitas informações pessoais sobre os trabalhadores, acompanhadas de uma minuciosa descrição física. A partir desse material, foram realizadas análises sobre as possíveis clivagens de gênero, classe e raça dentro da categoria constituída pelos trabalhadores domésticos, cujos resultados são apresentados no presente artigo. Segundo a pesquisa, verificou-se que a atividade mais comum foi a de cozinheira, que abrigava grande quantidade
de matriculadas de cor preta e fula. E apesar de haver funções ocupadas tanto por homens quanto por mulheres, a maior parte delas era restrita a um dos grupos. Esses resultados refletem, igualmente, o que se observa atualmente na caracterização geral do serviço doméstico: mulheres negras confinadas aos trabalhos de cozinha, enquanto homens brancos ocupam posições que deram origem a categorias profissionais que hoje são vistas como destacadas do trabalho doméstico.
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