Entre palavras e imagens de um mundo surreal: pensamentos matemáticos em uma experiência com crianças e Salvador Dalí
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-795X.2020.e63215Resumo
Inaugurada por Flores (2013), a “perspectiva da visualidade em educação matemática” surge como uma estratégia de análise e alargamento das pesquisas sobre o visual, discutindo como nosso olhar foi constituído historicamente e formas outras de pensar a relação da arte com a matemática. O presente artigo é a escrita de uma experiência com crianças no encontro com a arte de Salvador Dalí, com o objetivo de experimentar e problematizar uma geometria não-euclidiana junto à sua obra. Usando a ideia de oficina-dispositivo, criou-se uma oficina a partir de alguns aspectos da obra do pintor que tinha a intenção de provocar visualidades, fazendo emergir pensamentos e saberes matemáticos. A partir da escuta atenta a uma história que narrava características de um mundo surreal, crianças do 5º ano do Ensino Fundamental do Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Santa Catarina foram convidadas a imaginar e construir o seu próprio mundo, fazendo colagens de figuras em caixas de ovo. A colagem, na superfície ondulada da caixa, causou inquietação e fez com que pensamentos matemáticos emergissem do estranhamento com uma geometria não-euclidiana. Durante a oficina, puderam ser observadas narrativas que ligavam a deformação das figuras a algo errado ou feio, e também tentativas de não-deformação das figuras através de estratégias diversas. Além disso, de outro modo, a oficina efetivou um espaço em que o ensino e a aprendizagem da matemática elaboram-se a partir dos sentidos da experiência, problematizando conexões com o real e o surreal.
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