Marketing verde: tentáculos da ecogovernamentalidade no mercado das subjetividades
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-795X.2020.e62713Resumo
O presente artigo decorre de uma análise das táticas de propagandas lidas, neste ensaio, como mecanismos de convencimento para a compra e o consumo de produtos que utilizam como slogans enunciados que se apoiam no discurso da sustentabilidade. Na composição foucaultiana aqui adotada, provoca-se a leitura da sustentabilidade como efeito de agenciamentos coletivos que produzem modos de vida, seduzidos por uma série de táticas de poder, dentre elas as estratégias empresariais, entendidas na atual fase do capitalismo mundial integrado como articuladas a uma estratégia de poder recente nas sociedades ocidentais. Apresentamos e discutimos neste texto dois exemplos de propagandas que caracterizam práticas de governamento analisadas sob a ótica da noção de dispositivo, o que orienta subjetividades operacionalizadas pelas estratégias de mercado verde. Entendemos a noção de dispositivo como central, não apenas por que sustenta, mas porque se inclina a fabricar modos de vida cunhados sob o crivo do discurso sustável que enceta inúmeros setores de mercado. Na heterogeneidade de formas em que os dispositivos de controle operam, o marketing é aqui reconhecido como uma faceta das formas estratégias de poder em circulação, denominadas por ecogovernamentalidade.
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