Marketing verde: tentáculos da ecogovernamentalidade no mercado das subjetividades

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/2175-795X.2020.e62713

Resumo

O presente artigo decorre de uma análise das táticas de propagandas lidas, neste ensaio, como mecanismos de convencimento para a compra e o consumo de produtos que utilizam como slogans enunciados que se apoiam no discurso da sustentabilidade. Na composição foucaultiana aqui adotada, provoca-se a leitura da sustentabilidade como efeito de agenciamentos coletivos que produzem modos de vida, seduzidos por uma série de táticas de poder, dentre elas as estratégias empresariais, entendidas na atual fase do capitalismo mundial integrado como articuladas a uma estratégia de poder recente nas sociedades ocidentais. Apresentamos e discutimos neste texto dois exemplos de propagandas que caracterizam práticas de governamento analisadas sob a ótica da noção de dispositivo, o que orienta subjetividades operacionalizadas pelas estratégias de mercado verde. Entendemos a noção de dispositivo como central, não apenas por que sustenta, mas porque se inclina a fabricar modos de vida cunhados sob o crivo do discurso sustável que enceta inúmeros setores de mercado. Na heterogeneidade de formas em que os dispositivos de controle operam, o marketing é aqui reconhecido como uma faceta das formas estratégias de poder em circulação, denominadas por ecogovernamentalidade.

Biografia do Autor

Adalberto Ferdnando Inocêncio, Universidade Estadual de Londrina, UEL

Doutor em Ensino de Ciências pelo Programa de Pós-graduação em Ensino de Ciências e Educação Matemática da Universidade Estadual de Londrina, UEL

Moisés Alves Oliveira, Universidade Estadual de Londrina, UEL

Professor do Programa de Pós-graduação em Ensino de Ciências e Educação Matemática da Universidade Estadual de Londrina (UEL).

Referências

BRÜGGER, Paula; ABREU, Elise; CLIMACO, João Victor. Maquiagem verde: a estratégia das transnacionais versus a sustentabilidade real. in. GUIMARÃES, Leandro Belinasso; BRÜGGER, Paula; SOUZA, Suzani Cassiani; ARRUDA, VERA Lícia Vaz de (Orgs.). Tecendo subjetividades em educação e meio ambiente. Florianópolis: NUP/CED/UFSC, 2003.

CARNEIRO, Beatriz Scigliano. A construção do dispositivo de meio ambiente. Ecopolítica, vol 4: set-dez, 2012 (p. 2-15).

DELEUZE, Gilles. Conversações. São Paulo: Ed. 34, 1992.

FISCHER, Rosa Maria Bueno. O dispositivo pedagógico da mídia: modos de educar na (e pela) TV. Educação e Pesquisa, São Paulo. v. 28. n. 1, p. 151-162, jan./jun. 2002.

FISCHER, Rosa Maria Bueno. Uma agenda para debate sobre mídia e educação. in. VEIGA-NETO, Alfredo... [et al.] (org.). A educação em tempos de globalização. Rio de Janeiro: DP&A, 2001.

FOUCAULT, Michel. História da sexualidade 1: a vontade de saber. São Paulo, Paz e Terra, 2014a.

FOUCAULT, Michel. Nascimento da biopolítica: curso dado no Collège de France (1978-1979). São Paulo: Martins Fontes, 2010.

FOUCAULT, Michel. As técnicas de si. in. MOTTA, Manoel Barros da. Ditos e escritos, volume IX: genealogia da ética, subjetividade e sexualidade. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2014b.

FOUCAULT, Michel. A governamentalidade. in. Microfísica do poder. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2015.

GIACOMINI FILHO, Gino. Ecopropaganda. São Paulo: Editora Senac, 2004.

GODOY, Ana. Conservar docilidades ou experimentar intensidades. in. PREVE, Ana Maria; CORRÊA, Guilherme (orgs.). Ambientes da ecologia: perspectivas em política e educação. Santa Maria: Editora da UFMS, 2007.

GUATTARI, Félix. As três ecologias. São Paulo: Papirus, 1990.

HENNING, Paula Corrêa. Provocações para este tempo... a educação ambiental e os atravessamentos midiáticos. in. PREVE, Ana Maria Hoepers; GUIMARÃES, Leandro Belinaso; BARCELOS, Valdo; LOCATELLI, Julia Schadeck (orgs.). Ecologias inventivas: conversas sobre educação. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2012.

HENNING, Paula Corrêa; MUTZ, Andresa Silva da Costa; VIEIRA, Virgínia Tavares. Possíveis ecos de Michel Foucault na Educação Ambiental. in. HENNING, Paula Corrêa; MUTZ, Andresa Silva da Costa; VIEIRA, Virgínia Tavares (orgs.). Educações Ambientais possíveis: ecos de Michel Foucault para pensar o presente. Curitiba: Appris, 2018.

LARROSA, Jorge. Tecnologias do Eu e Educação. in. SILVA, Tomaz Tadeu da (org.). O sujeito da educação: estudos foucaultianos. 8. ed. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2011.

LIMA, Gustavo da Costa. O discurso da sustentabilidade e suas implicações para a educação. Revista Ambiente & Sociedade. Vol. VI. n. 2. 2003. Disponível em: http://www.mma.gov.br/port/sdi/ea/deds/arqs/gustlima_ambsoc.pdf. Acesso em 12/09/2017.

MALETTE, Sébastien. Foucault para o próximo século: ecogovernamentalidade. Revista ecopolítica. V. 1. 2011. (p. 4-25). Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/ecopolitica/article/view/7654/5602. Acesso em: 15/04/2017.

MARÍN-DIAZ, Dora Lilia. Autoajuda, educação e práticas de si: genealogia de uma antropotécnica. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2015.

PASSETTI, Edson. Ecopolítica: procedências e emergência. in. CASTELO-BRANCO, Guilherme; VEIGA-NETO, Alfredo (orgs.). Foucault: filosofia & política. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2013.

PONTES, Fernando; TAVARES, Frederico. Ecosofia das marcas: um breve olhar sobre as três ecologias através da publicidade. Revista Augustus. Rio de Janeiro. V. 19. n. 37 (p. 55-66). 2014. Disponível em: http://apl.unisuam.edu.br/revistas/index.php/revistaaugustus/article/view/1981-1896.2014v19n37p55. Acesso em: 12/09/2017.

PREVE, Ana Maria Hoepers; GUIMARÃES, Leandro Belinaso; BARCELOS, Valdo; LOCATELLI, Julia Schadeck. Ecologias inventivas: um começo de conversa... in. PREVE, Ana Maria Hoepers; GUIMARÃES, Leandro Belinaso; BARCELOS, Valdo; LOCATELLI, Julia Schadeck (orgs.). Ecologias inventivas: conversas sobre educação. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2012.

ROLNIK, Suely. Geopolítica da cafetinagem. 2006. Disponível em: http://www.pucsp.br/nucleodesubjetividade/Textos/SUELY/Geopolitica.pdf. Acesso em 23/05/2018.

SAMPAIO, Shaula Maíra Vicentini de; GUIMARÃES, Leandro Belinaso. O dispositivo da sustentabilidade: pedagogias no contemporâneo. Perspectiva, Florianópolis, v. 30, n. 2: mai-ago, 2012 (p. 395-409).

SILVA, Priscila Oliveira; VIEIRA, Virginia Tavares; HENNING, Paula Corrêa. Educação Ambiental e discursos midiáticos: gerenciando modos de vida contemporâneos. IX ANPED Sul: Seminário de pesquisa em educação da região sul, 2012. Disponível em: http://www.ucs.br/etc/conferencias/index.php/anpedsul/9anpedsul/%0Bpaper/viewFile/2255/839. Acesso em 05/01/2017.

STENGERS, Isabelle. No tempo das catástrofes: resistir à barbárie que se aproxima. São Paulo: Cosac Naify, 2015.

VEIGA-NETO, Alfredo. Ecopolítica: um novo horizonte para a biopolítica. Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental. Ed. Especial Impressa – Dossiê Educação Ambiental, jan/jun, 2014.

Downloads

Publicado

2020-10-28

Como Citar

Inocêncio, A. F., & Oliveira, M. A. (2020). Marketing verde: tentáculos da ecogovernamentalidade no mercado das subjetividades. Perspectiva, 38(3), 1–21. https://doi.org/10.5007/2175-795X.2020.e62713