A relação família-escola na percepção da gestão escolar: entre estratégias e negociações para a convivência
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-795X.2021.e70650Resumo
Este trabalho pretende contribuir para os estudos da relação família-escola, de gestão e organização escolar, trazendo como agente desta trama o gestor escolar e sua capacidade de mobilizar recursos de senso prático para enfrentar os conflitos e tensões do cotidiano de um estabelecimento situado em um território vulnerável. Munidos de uma espécie de perspicácia sociológica “espontânea”, os gestores criam estratégias com o objetivo de sensibilizar as famílias para as necessidades da ordem escolar. O artigo analisa duas dessas estratégias: a) utilização de uma pedagogia do controle emocional que envolve aconselhamento e sutis demonstrações de respeito e consideração aos alunos e suas famílias e b) invocação de discursos de matiz religiosa para resolver conflitos institucionais, sobretudo de ordem disciplinar. A metodologia incluiu observação de campo ao longo de quinze meses e sete entrevistas semiestruturadas com os diretores e coordenadores pedagógicos. Concluiu-se que as estratégias mobilizadas, embora não sejam suficientes para dirimir as dissonâncias entre as ordens escolar e doméstica, iluminam aspectos menos explícitos e também menos estudados da relação entre escola e famílias, e nesse sentido auxiliam na compreensão de como essa relação se constitui na convivência cotidiana.
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