Língua, identidade e alteridade: um estudo sobre as relações entre alunos brasileiros e bolivianos em uma escola paulistana

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/2175-795X.2020.e65980

Resumo

O fluxo migratório de bolivianos para a cidade de São Paulo ganhou visibilidade a partir da década de 1990. Mesmo estabelecida na cidade há algumas décadas, a colônia boliviana ainda enfrenta muitas dificuldades na interação com os brasileiros, e isso está presente também no ambiente escolar. Após etnografia realizada em uma escola pública municipal de São Paulo, em que há um número considerável de alunos bolivianos, nasceu este artigo, cujo objetivo é discutir as relações entre alunos bolivianos e brasileiros e como a língua é vista como um elemento que organiza a identidade e classifica a alteridade entre eles no espaço da escola. A língua torna-se não apenas um veículo de comunicação, mas a maneira pela qual o outro, neste caso o aluno migrante boliviano, é estereotipado a partir de sua condição social, seus hábitos sociais e o lugar que tem no imaginário da sociedade em que se inseriu. A análise aponta que a língua é vista por professores e alunos brasileiros como um defeito da cultura dos estudantes bolivianos. O pluralismo cultural é, para aqueles, restrito à língua, vista como algo a ser superado para dar lugar à língua hegemônica. Assim, os alunos bolivianos são rotulados como iletrados, mesmo estando no processo inicial de alfabetização. A prática escolar baseia-se na ideia de adaptação dos bolivianos ao ambiente escolar, pensado como homogêneo e homogeneizante, contrária à perspectiva da educação intercultural. Embora haja o reconhecimento da alteridade, esta é vista negativamente, e a identidade dos bolivianos é estigmatizada.

Biografia do Autor

Janaina Silva Gondin, Universidade de São Paulo

Doutoranda na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, na área de concentração: Formação, Currículo e Práticas Pedagógicas. Mestra em Ciências Humanas e Sociais pela Universidade Federal do ABC. Possui graduação em Pedagogia pela Faculdade de Educação e bacharelado em Biblioteconomia pela Escola de Comunicações e Artes, ambas na Universidade de São Paulo. Facilitadora do curso de Pedagogia da UNIVESP. Professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental na Prefeitura Municipal de São Paulo. Participa como pesquisadora do IPLURES - Grupo de Pesquisa em Identidades Plurais e Representações Simbólicas da UFABC. Possui experiência na área de educação, especialmente em ensino fundamental. Principais áreas de atuação: multiculturalismo crítico e educação intercultural.

Ana Keila Mosca Pinezi, Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM)

Professora associada do Departamento de Saúde Coletiva (DESCO) da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), é licenciada em História e bacharel em Ciências Sociais pela Universidade de Brasília (1995), mestre em Psicologia pela Universidade de São Paulo (1999) e doutora em Ciências pela Universidade de São Paulo (2003). Sob a perspectiva da Antropologia e Sociologia, entre suas temáticas de interesse de pesquisa destacam-se: Religião, pentecostalismos e protestantismos; Políticas Públicas em Educação e Ações Afirmativas; Corpo, gênero e saúde; Processos identitários, memória e simbolismos; Itinerários de cura religiosa. Coordenou o programa de Pós-Graduação em Ciências Humanas e Sociais, da Universidade Federal do ABC (UFABC). É membro da Associação Brasileira de Antropologia (ABA); é membro da diretoria da ANINTER-SH (Associação Interdisciplinar em Sociais e Humanidades). Coordena o Grupo de Pesquisa IPLURES - "Identidades Plurais e Representações Simbólicas" (http://plsql1.cnpq.br/buscaoperacional/detalhepesq.jsp?pesq=4234482551885719). 

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Publicado

2020-12-31

Como Citar

Gondin, J. S., & Pinezi, A. K. M. (2020). Língua, identidade e alteridade: um estudo sobre as relações entre alunos brasileiros e bolivianos em uma escola paulistana. Perspectiva, 38(4), 1–17. https://doi.org/10.5007/2175-795X.2020.e65980

Edição

Seção

Dossiê Migração e Educação