Ideologia de gênero e o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos
DOI:
https://doi.org/10.1590/1806-9584-2022v30n373882Palavras-chave:
democracia, reação ao gênero, políticas para as mulheres, políticas para minorias sexuaisResumo
A ansiedade sexual e o retorno ao passado patriarcal mítico são elementos de uma política
fascista em implementação no Brasil. O patriarca da família funciona como um arquétipo para o governante fascista, privilegiando homens cis e heterossexuais. Trata-se de uma reação violenta aos estudos feministas e queer sobre o gênero que se articula em torno de uma “ideologia de gênero de natureza familista” e espalha pânico contra os feminismos e população LGBTIQ+. Como esse discurso se articula no governo federal? Sustentamos que o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH) é o principal locus de difusão da ideologia familista. Pesquisa documental e uma análise crítico-feminista das principais ações no primeiro ano do atual governo permitem afirmar que o MMFDH fortalece políticas em defesa da família patriarcal, contra os feminismos e os movimentos LGBTIQ+.
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