A noção de controle social em Bachelard: contribuições para a confiança nos consensos científicos
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-7941.2025.e107142Palavras-chave:
Epistemologia Bachelard, Realismo como Filosofia Inata, Controle social, Confiança na CiênciaResumo
Considerando a importância da epistemologia de Bachelard para a educação em ciências, sobretudo as noções de perfil epistemológico e obstáculo epistemológico, notamos que há uma lacuna na educação quanto à discussão da dimensão social em seus estudos. Partindo disso, o interesse deste trabalho é discorrer sobre o modo como a dimensão social aparece no pensamento do autor através da noção de controle social para os conhecimentos científicos, a qual está presente tanto na formação científica quanto nos conhecimentos produzidos pela ciência mais especializada. Para chamar a atenção para esse aspecto do conhecimento, retomamos algumas noções importantes dentro dessa epistemologia: realismo como filosofia inata, retificação e vigilância epistemológica. Nesse sentido, a noção de controle social permite considerar a importância do escrutínio feito pela comunidade científica especializada na produção de conhecimento científico. Por fim, discutimos possíveis desdobramentos da noção de controle social de Bachelard para a educação em ciências quanto ao problema do negacionismo, especialmente, em relação à confiança nos consensos científicos.
Referências
ALMEIDA, D. F. Concepções de alunos do ensino médio sobre a origem das espécies. Ciência & Educação, v. 18, n. 1, p. 143-154, 2012.
AMARAL, E. M.; MORTIMER, E. F. Uma proposta de perfil conceitual de calor. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, v. 3, n. 1, 2011.
ANDRADE, B. L.; ZYLBERSZTAJN, A.; FERRARI, N. As analogias e metáforas no ensino de ciências à luz da epistemologia de Gaston Bachelard. Ensaio - Pesquisa em Educação em Ciências, v. 2, n. 2, p. 182-192, 2000.
ANDRADE, J. d.; SMOLKA, A. B. A construção do conhecimento em diferentes perspectivas: contribuições de um diálogo entre Bachelard e Vigostsky. Ciência & Educação, v. 15, n. 2, p. 245-268, 2009.
ARAÚJO, D. V. A noção de ruptura epistemológica no pensamento de Gaston Bachelard. 2017. 141 f. Dissertação (Mestrado em Filosofia) - Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, UFBA, Salvador.
ARAÚJO, L. A.; ROSA, R. D. Obstáculos à compreensão do pensamento evolutivo: análise em livros didáticos de biologia aprovados pelo PNLD 2012. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, v.15, n. 3, p. 581-596, 2015.
AVELAR, L. A.; BORGES, F. d.; DUARTE, M. d.; MESQUITA, N. A. (2022). Os experimentos de William Harvey sobre o movimento circular ddo sangue: uma releitura história sob as lentes da epistemologia de Bachelard. Ensino & Multidisciplinaridade, v. 8, n. 1, 2022.
BACHELARD, G. A filosofia do não: filosofia do novo espírito científico. Tradução: J. J. Ramos. 3. ed. Lisboa: Editorial Presença, 1984.
BACHELARD, G. A formação do espírito científico: contribuição para uma psicanálise do conhecimento. Tradução: Estela dos Santos Abreu. 10. ed. Rio de Janeiro: Contraponto, 2013. 314 p.
BAGDONAS, A.; Neto, C. P. O papel epistêmico da diversidade e as origens metafísicas da teoria do Big Bang: reflexões para a educação científica. Ciência & Educação, v. 29, e23029, 2023.
BAGDONAS, A.; ZANETIC, J.; GURGEL, I. O maior erro de Einstein? Debatendo o papel dos erros na ciência através de um jogo didático sobre cosmologia. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v. 35, n. 1, p. 97-117, 2018.
BARBOSA, L. G.; LIMA, M. E.; MACHADO, A. H. Ciência, política e mídia na perspectiva centrada no esclarecimento: a sociologia de Alan Irwin em diálogo com a educação em ciências. Investigações em Ensino de Ciências, v. 23, n. 1, p. 79-94, 2018.
BELTRAN, M. H.; SAITO, F. História da ciência, epistemologia e ensino: uma proposta para atualizar esse diálogo. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS, VIII/ CONGRESSO IBEROAMERICANO DE INVESTIGACIÓN EM ENSEÑANZA DE LAS CIÉNCIAS, I, 2011, Campinas. Atas [...]. Campinas: Imprensa Universitária da UNICAMP, 2012.
BONFIM, C. S.; STRIEDER, R. B. Enfrentamentos para o negacionismo científico: explorando a natureza da ciência a partir de fact-checking. Investigações em Ensino de Ciências, v. 29, n. 3, p. 101-124, 2024.
BRICCIA, A.; CARVALHO, A. M. Visões sobre a natureza da ciência construídas a partir do uso de um texto histórico na escola média. Revista Electrónica de Enseñanza de las Ciências, v. 10, n. 1, p. 1-22, 2011.
CASSIANI, S.; SELLES, S. L.; OSTERMANN, F. Negacionismo científico e crítica à ciência: interrogações decoloniais. Ciência & Educação, v. 28, 2022.
CEZARE, L., P. S.; ANDRADE, M. A. A epistemologia de Bachelard e a construção do conceito de adaptação das espécies. Investigações em Ensino de Ciências, v. 21, n. 3, p. 53-73, 2016.
COLOMBO JUNIOR, P. D.; SILVA, C. C. A percepção da gravidade na "casa maluca" do CDCC/USP: Uma análise à luz de Gaston Bachelard. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, v. 13, n. 2, p. 115-140, 2013.
COUTINHO, F. A.; MARTINS, R. P.; RIBEIRO, N. A. Por uma abordagem relacional ao conceito de vida no ensino de biologia. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, v. 14, n. 3, p. 139-158, 2014.
DIMOV, L. F.; PECHLIYE, M. M.; JESUS, R. C. Caracterização ontológica do conceito de fotossíntese e obstáculos epistemológicos e ontológicos relacionados com o ensino deste conceito. Investigações em Ensino de Ciências, v. 19, n. 1, p. 7-28, 2014.
FARIAS, T.; SIMÕES, B. dos S.; TRINDADE, E. C. A. Tentativa de superar obstáculos de aprendizagem. Alexandria¸ v. 6, n. 3, p. 121-150, 2013.
FERREIRA, C. T. T.; NARDI, L. M. C.; SILVA, C. C. "A ciência apenas joga matemática em você": a influência da matemática na crise de confiança na ciência. In: Gurgel, I. (Org.). Por que confiar nas ciências? Epistemologias para o nosso tempo. São Paulo: Livraria da Física, 2023. cap. 8, p. 159-182.
FERREIRA, L. M.; PEDUZZI, L. O. As intuições atomísticas de Bachelard. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, v. 14, n. 3, p. 119-137, 2014.
FEYERABEND, P. (2011). Contra o método. Tradução: Cezar Augusto Mortari. 2. ed. São Paulo: Editora Unesp, 2011. 373 p.
FILHO, A. L. A construção de um perfil para o conceito de referencial em física e os obstáculos a aprendizagem da teoria da relatividade restrita. Investigações em Ensino de Ciências, v. 15, n. 1, p. 155-179, 2010.
FILHO, M. P.; BOSS, S. L.; CALUZI, J. J. Problematização no ensino de tópicos do eletromagnetismo por meio das etapas da psicanálise bachelardiana. Nuances: Estudos sobre Educação, v. 22, n. 23, p. 72-95, 2012.
GOIS, E.; LIMA, N. W.; GUERRA, A. d. M. Não tem saída fácil: tensão entre autonomia epistêmica e confiança na ciência como caminho para a educação em ciências contemporânea. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, v. 24, p. 1-64, 2024.
GOMES, H. J.; OLIVEIRA, O. B. Obstáculos epistemológicos no ensino de ciências: um estudo sobre suas influências nas concepções de átomo. Ciência & Cognição, v. 12, p. 96-109, 2007.
GOMES, S. R.; ZAMORA, M. H. Negacionismo: definições, confusões epistêmicas e implicações éticas. Ciência & Educação, v. 30, 2024.
HADDAD, T. Confiar nas ciências, apesar da história. In: Gurgel, I. (Org.). Por que confiar nas ciências? Epistemologias para o nosso tempo. São Paulo: Livraria da Física, 2023. cap. 14. p. 367-378.
HENDGES, A. P.; SANTOS, R. A. Obstáculos epistemológicos em livros didáticos de física: o gênero na ciência-tecnologia. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v. 39, n. 2, p. 584-611, 2022.
JUNGES, A. L.; ESPINOSA, T. Ensino de ciências e os desafios do século XXI: entre a crítica e a confiança na ciência. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v. 37, n. 3, p. 1577-1597, 2020.
JUSTINA, L. A.; CALDEIRA, A. M. Uma investigação com graduandos da licenciatura em ciências biológicas sobre a relação genótipo-fenótipo na perspectiva da epistemologia de Gaston Bachelard. Revista Electrónia de las Ciencias, v. 13, n. 2, p. 179-200, 2014.
KAKUTANI, M. A morte da verdade: notas sobre a mentira na era Trump. Tradução: André Czarnobai e Marcela Duarte. 1. ed. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2018. 272 p.
KASSEBOEHMER, A. C.; FERREIRA, L. H. O método investigativo em aulas teóricas de química: estudo das condições da formação do espírito científico. Revista Electrónica de Enseñanza de las Ciências, v. 12, n. 1, p. 144-168, 2013.
LABATI-TERRA, L. L. et al. Identificação de obstáculos epistemológicos em um artigo de divulgação científica - entraves na formação de professores de ciências? Revista Electrónica de Enseñanza de las Ciencias, v. 13, n. 3, p. 318-333, 2014.
LATOUR, B. Ciência em Ação: como seguir cientistas e engenheiros sociedade afora. Tradução: Ivone C. Benedetti. 2. ed. São Paulo: Editora Unesp, 2011. 460 p.
LIMA, N. W. et al. Educação em ciências nos tempos de pós-verdade: reflexões metafísicas a partir dos estudos das ciências de Bruno Latour. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, p. 155-189, 2019.
LÔBO, S. F. O ensino de química e a formação do educador químico, sob o olhar bachelardiano. Ciência & Educação, v. 14, n. 1, p. 89-100, 2007.
LOPES, A. R. Bachelard: o filósofo da desilusão. Caderno Catarinense de Ensino de Física, v. 14, n. 1, p. 248-273, 1996.
MARINELI, F. O terraplanismo e o apelo à experiência pessoal como critério epistemológico. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v. 37, n. 3, p. 1173-1192, 2020.
MARTINS, A. F.; PACCA, J. L. O conceito de tempo entre estudantes de ensino fundamental e médio: uma análise à luz da epistemologia de Gaston Bachelard. Investigações em Ensino de Ciências, v. 10, n. 3, p. 299-336, 2005.
MEGLHIORATTI, F. A.; BATISTA, I. d. Perspectivas da sociologia do conhecimento científico e o ensino de ciências: um estudo em revistas da área de ensino. Investigações em Ensino de Ciências, v. 23, n. 1, p. 01-31, 2018.
MELO, A. C.; PEDUZZI, L. Q. Contribuições da epistemologia bachelardiana no estudo da história da óptica. Ciência & Educação, v. 13, n. 1, p. 99-126, 2007.
MILNITSKY, R.; GURGEL, I.; MUNHOZ, M. G. O quark como objeto de análise histórica e epistemológica: a física de partículas elementares em uma perspectiva bachelardiana. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v. 38, n. 2, p. 1309-1338, 2021.
MORTIMER, E. F. Construivismo, mudança conceitual e ensino de ciêcias: para onde vamos? Investigações em Ensino de Ciências, v. 1, n. 1, p. 20-39, 1996.
MOURA, C. B. Para que história da ciência no ensino? Algumas direções a partir de uma perspectiva sociopolítica. Revista Brasileira de Ensino de Ciências e Matemática, v. 4, Edição Especial, p. 1155-1178, 2021.
MULINARI, G. E a história da ciência serve para...? A superação de obstáculos epistemológicos associados ao ensino sobre microrganismos a partir de um episódio da história da ciência. Revista Brasileira de História da Ciência, v. 15, n. 2, p. 451-468, 2022.
PEREIRA, A. A.; SANTOS, C. A. Proposta teórico-conceitual para a análise da confiabilidade e credibilidade de (des)informações científicas nas mídias: implicações para o ensino de ciências. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v. 39, n. 3, p. 688-711, 2022.
PEREIRA, F. P.; GURGEL, I. O ensino de natureza da ciência como forma de resistência aos movimentos anticiência: o realismo estrutural como contraponto ao relativismo epistêmico. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v. 37, n. 3, p. 1278-1319, 2020.
PESSANHA, M. Obstáculos cognitivo-epistemológicos e modelos explicativos no estudo sobre a estrutura da matéria nas aulas de física. Investigações em Ensino de Ciências, v. 23, n. 2, p. 383-405, 2018.
PIETROCOLA, M. et al. Risk Society and science education lessons from the Covid-19 pandemic. Science & Education, v. 30, n. 2, p. 209-233, 2021.
PIVARO, G. F.; GIROTTO JÚNIOR, G. Qual a ciência é negada nas redes sociais? Reflexões de uma pesquisa etnográfica em uma comunidade virtual negacionista. Investigações em Ensino de Ciências, v. 27, n. 1, p. 435-458, 2022.
RAMOS, T. A.; SCARINCI, A. L. Análise de concepções de tempo e espaço entre estudantes do ensino médio, segundo a epistemologia de Gaston Bachelard. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, v. 16, n. 2, p. 9-25, 2013.
RANNIERY, T.; TELHA, R.; TERRA, N. Educação científica, (pós) verdade e (cosmo)políticas das ciências. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v. 37, n. 3, p. 1120-1146, 2020.
SABINO, J. D.; AMARAL, E. M. Utilização do perfil conceitual de substância no planejamento do ensino e na análise do processo de aprendizagem. Investigações em Ensino de Ciências, v. 23, n. 1, p. 245-265, 2018.
SANTOS, M. E. V. M. Mudança conceitual na sala de aula: um desafio pedagogicamente fundamentado. 2. ed. Lisboa: Livros Horizonte, 1998.
SILVA, F. C. et al. Ensino de ciências como prática social: relações entre as normas sociais e os domínios do conhecimento. Investigações em Ensino de Ciências, v. 27, n. 1, p. 39-51, 2022.
SILVA, V. C. da. Realismo crítico e a teoria axiológica da verdade como condições necessárias nas ciências. In: Gurgel, I. (Org.). Por que confiar nas ciências? Epistemologias para o nosso tempo. São Paulo: Livraria da Física, 2023. cap. 16, p. 391-428.
TAVARES, H. Da previsão à ação: ciência e transformação da realidade no Brasil (1940-1950). In: Gurgel, I. (Org.). Por que confiar nas ciências? Epistemologias para o nosso tempo. São Paulo: Livraria da Física, 2023. cap. 6, p. 107-130.
VIDEIRA, A. A. P. É a ciência, enquanto tal, confiável?. In: Gurgel, I. (Org.). Por que confiar nas ciências? Epistemologias para o nosso tempo. São Paulo: Livraria da Física, 2023. cap. 4, p. 57-80.
VILELA, M. L.; Selles, S. E. É possível uma educação em ciências crítica em tempos de negacionismo científico? Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v. 37, n. 3, p. 1722-1747, 2020.
ZIMMERMANN, E.; BERTANI, J. A. Um olhar sobre os cursos de formação de professores. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v. 20, n. 1, p. 43-62, 2003.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
DECLARAÇÃO DE RESPONSABILIDADE Certifico que participei da concepção do trabalho, em parte ou na íntegra, que não omiti quaisquer ligações ou acordos de financiamento entre os autores e companhias que possam ter interesse na publicação desse artigo. Certifico que o texto é original e que o trabalho, em parte ou na íntegra, ou qualquer outro trabalho com conteúdo substancialmente similar, de minha autoria, não foi enviado a outra revista e não o será enquanto sua publicação estiver sendo considerada pelo Caderno Brasileiro de Ensino de Física, quer seja no formato impresso ou no eletrônico.

Caderno Brasileiro de Ensino de Física, Florianópolis, SC, Brasil - - - eISSN 2175-7941 - - - está licenciada sob Licença Creative Commons > > > > >
