Culturas de trabalho e associações de práticos em Manaus e Belém (anos finais do século XIX)

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/1984-9222.2019.e65676

Resumo

O trecho fluvial entre Belém e Manaus há muitos anos era percorrido por populações nativas e suas práticas de navegação. O prático é ainda hoje o embarcadiço que guia e/ou pilota navios de diferentes calados. Com os avanços capitalistas na região, impulsionados pela expansão da navegação a vapor, a necessidade de compor tripulações com práticos experimentados obrigou armadores e comandantes a negociarem com habitantes e suas culturas de trabalho. Nos anos finais do oitocentos, de maior movimento náutico e portuário, companhias armadoras passaram a questionar o controle destes profissionais sobre o mercado de trabalho e os rumos dos navios. No advento da República, o governo provisório estabeleceu uma série de critérios que retirava a independência de trabalho dos marinheiros. O processo associativo dos práticos de Manaus e Belém é construído com base na força da tradição e do histórico de solidariedade, à revelia dos ataques políticos do empresariado e outros setores sociais dominantes. Foram esses os elementos que reforçaram a defesa de um associativismo que ia além das fronteiras delimitadas pela federação.

 

Biografia do Autor

Caio Giulliano Paião, Universidade Estadual de Campinas

Doutorando em História Social pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), vinculado ao Centro de Pesquisa em História Social da Cultura (CECULT/IFCH) e bolsista da FAPESP/Processo n° 2018/18252-0.

Referências

BALACHANDRAN, Gopalan. Cultures of Protest in Transnational Contexts: Indian Seamen Abroad,1886-1945. Transforming Cultures eJournal, v. 3, n. 2, pp. 46–75, 2008.

BATALHA, Claudio. Sociedades de trabalhadores no Rio de Janeiro do século XIX: algumas reflexões em torno da formação da classe operária. Cadernos AEL, v. 6, n. 10/11, pp. 42-68, 1999.

BATALHA, Claudio. Vida associativa: por uma nova abordagem da história institucional nos estudos do Movimento Operário. Anos 90, Porto Alegre, n. 8, pp. 91-9, 1997.

CARUSO, Laura. Embarcados. Los trabajadores marítimos y la vida a bordo: sindicato, empresas y Estado en el puerto de Buenos Aires, 1889-1921. Buenos Aires: Imago Mundi, 2016.

CONSELHO NACIONAL DE PRATICAGEM. De 1808 a 2008: 200 anos de praticagem regulamentada no Brasil. Rio de Janeiro: Conapra, 2008.

DIAS, Camila Loureiro. O comércio de escravos indígenas na Amazônia visto pelos regimentos de entradas e de tropas de resgate (séculos XVII e XVIII). Revista Territórios & Fronteiras, Cuiabá, vol. 10, n. 1, pp. 238-259, jan.-jul., 2017.

DUFFY, Eve M.; METCALF, Alida. The Return of Hans Staden: A Go-between in the Atlantic World. Baltimore: The Johns Hopkins University Press, 2012.

FARIAS, William Gaia; PEREIRA, Pablo Nunes. A Marinha de Guerra na Amazônia: atuação e questões de modernização técnica (final do século XIX e início do XX). Navigator, Rio de Janeiro, vol. 10, pp. 55-69, 2014.

FINK, Leon. Sweatshops at Sea: Merchant Seamen in the World’s First Globalized Industry, from 1812 to the Present. Chapel Hill: The University of North Carolina, 2011.

JAFFER, Aaron. Lascars and Indian Ocean Seafaring, 1780-1860. Shipboard Life, Unrest and Mutiny. Woodbridge: The Boydell Press, 2015.

LACERDA, David P. Solidariedades entre ofícios: a experiência mutualista no Rio de Janeiro imperial (1860-1882). Dissertação (mestrado em História). Campinas, SP: Unicamp, 2011.

LARA, Silvia Hunold. Escravidão, cidadania e história do trabalho no Brasil. Projeto História, São Paulo, v. 16, pp. 25-38, 1998.

LINEBAUGH, Peter; REDIKER, Marcus. A hidra de muitas cabeças: marinheiros, escravos, plebeus e a história oculta do Atlântico revolucionário. São Paulo: Companhia das letras, 2008.

OLIVEIRA, Vitor. Nas águas do Prata: os trabalhadores da rota fluvial entre Buenos Aires e Corumbá (1910-1930). Campinas, SP: Ed. da Unicamp, 2009.

PAIÃO, Caio. Para além das chaminés: memória, trabalho e cidade – a navegação a vapor no Amazonas (1850-1900). Dissertação (mestrado em História). Manaus: UFAM, 2016.

PETERSEN, Silvia. Cruzando fronteiras: as pesquisas regionais e a história operária brasileira. Anos 90, Porto Alegre, v. 3, pp. 129-53, 1995.

PINHEIRO, Luís Balkar; PINHEIRO, Maria Luiza Ugarte. Mundos do trabalho na cidade da borracha: trabalhadores, lideranças, associações e greves operárias em Manaus (1880-1930). Jundiaí: Paco Editorial, 2017.

PORRO, Antonio. As crônicas do rio Amazonas. Petrópolis: Vozes, 1993.

PREZIOSI, Giovanni. Uno Stato nello Stato: la Cooperativa Garibaldi della gente di mare. Firenze: Vallecchi Editore, 1923.

SOLANO, Sergio Paolo. De bogas a navegantes: los trabajadores del transporte por el río Magdalena, 1850-1930. Historia Caribe, vol. 3, pp. 57-70, 1998.

TERRÉS, Juan Zamora. El sindicato libre de la Marina Mercante, un intento de unidad sindical (notas para una historia del movimiento obrero en la Marina Mercante). Barcelona: Facultat Nàutica de Barcelona (Departament de Ciència i Enginyeria Nàutiques), 1996.

VIAUD, Ronan. Le syndicalisme maritime français: Les organisations, les hommes, les luttes (1890-1950). Rennes: Presses Universitaries de Rennes, 2005.

Downloads

Publicado

2019-10-22

Como Citar

PAIÃO, Caio Giulliano. Culturas de trabalho e associações de práticos em Manaus e Belém (anos finais do século XIX). Revista Mundos do Trabalho, Florianópolis, v. 11, p. 1–22, 2019. DOI: 10.5007/1984-9222.2019.e65676. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/mundosdotrabalho/article/view/1984-9222.2019.e65676. Acesso em: 19 abr. 2024.

Edição

Seção

Artigos