“Costuma fornecer a diversas pessoas drogas abortivas”: o ofício das parteiras, disputas profissionais e sociabilidades femininas (Porto Alegre, RS, Primeira República)

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/1984-9222.2020.e75240

Resumo

O artigo versa sobre o ofício das parteiras, sua importância social, as disputas por clientela e as sociabilidades femininas que giravam em torno deste exercício profissional. A parteira era uma presença limite entre a vida e a morte, entre um bom parto e um desfecho indesejado. Era ela que trazia a criança ao mundo, cortava o cordão umbilical, cuidava da mulher que acabara de parir, limpava o recém-nascido, providenciava (às vezes, no próprio pátio da casa dos pais) o enterro do natimorto, batizava os nascidos in periculo mortis, amadrinhava os sobreviventes. A análise dessa trabalhadora da saúde usa documentos judiciários como observatórios sociais e através deles maneja o cruzamento com outras fontes, procurando as experiências sociais das agentes ali presentes, tanto no exercício do ofício como recebendo atendimentos diversos. Parte das mulheres que aparecem neste artigo, se consultando ou usando efetivamente os serviços das parteiras, são trabalhadoras do serviço doméstico, assim, também versaremos sobre questões desse universo laboral. O lócus de nossa pesquisa é a cidade de Porto Alegre, capital do estado do Rio Grande do Sul, na parte mais meridional do Brasil.

Biografia do Autor

Paulo Roberto Staudt Moreira, Universidade do vale do Rio dos Sinos - Unisinos

Professor titular da Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Diretor-presidente do Núcleo RS da Associação Nacional de História (2016/2018). Possui graduação em História pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos, mestrado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1993), doutorado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2001) e pós-doutoramento na Universidade Federal Fluminense. Exerceu o cargo de Coordenador do Programa de Pós-graduação em História da Universidade do Vale do Rio dos Sinos de 2010 a 2014. Membro da Comissão de Avaliação Quadrienal de PPGHs - CAPES (2013/2016). Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq - Nível 2 (2010/atual). Membro do Comitê de Ciências Humanas e Sociais da FAPERGS: como suplente (designação de 20 de agosto de 2015) e membro (06.09.2017 a 05.09.2019). Tem experiência na área de História, com ênfase em História do Brasil Colônia e Império, atuando principalmente nos seguintes temas: História da escravidão e do negro; História social dos movimentos populares; Patrimônio histórico documental; Identidade étnica; Abordagens de fontes documentais; História urbana no século XIX; Raízes e presença africana na América Latina; associativismo negro; saúde e doença

Nikelen Acosta Witter, Universidade Federal de Santa Maria - UFSM

Graduada em História pela Universidade Federal de Santa Maria. Possui Mestrado em História do Brasil pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e é Doutora em História Social pela Universidade Federal Fluminense. Suas pesquisas de mestrado e doutorado centraram-se em História da Saúde e das Práticas de Cura. Atualmente, é professora do Departamento de História da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e dedica-se a investigações de questões que envolvam Gênero e a História das Mulheres na época Contemporânea

Referências

ALMALEH, Priscilla Almaleh. Ser Mulher: Cotidianos, Representações e Interseccionalidades da Mulher Popular (Porto Alegre 1889 – 1900). Dissertação (Mestrado em História) - Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo, 2018.

BARRETO, Maria Renilda. A Medicina Luso-Brasileira: instituições, médicos e populações enfermas em Salvador e Lisboa (1808–1851). Tese de Doutorado. (Doutorado em História das Ciências da Saúde) – FIOCRUZ. Rio de Janeiro, 2005.

CARVALHO, Natália Silveira de. Mirem-se no exemplo daquelas mulheres: contracepção, dano à saúde e dispositivo da sexualidade. Revista Direitos Fundamentais e Alteridade, Salvador, V. 3, n.º 1, p. 77 a 93, jan-jun, 2019.

DARNTON, Robert. O Grande Massacre de Gatos. Rio de Janeiro, Graal, 1986.

FEDERICI, Silvia. Mulheres e caça às Bruxas. São Paulo: Boitempo, 2019.

FIGUEIRÓ, Raquel Braun. O médico, a raça e o crime: a apropriação das teorias raciais pelo médico porto-alegrense, Sebastião Leão, no final do século XIX. Dissertação (Mestrado em história) - Universidade Federal Fluminense, Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, Niterói, 2014.

FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade I: a vontade de saber. Rio de Janeiro: Graal, 1988.

FREIRE, Maria Martha de Luna. Mulheres, Mães e Médicos: discurso maternalista no Brasil. Rio de Janeiro: editora FGV, 2009.

GANS, Magda Roswita. Presença Teuta Em Porto Alegre no Século XIX: 1850-1889. Editora da UFRGS. Porto Alegre, 2004.

GINZBURG, Carlo. Provas e Possibilidades à margem de “Il ritorno de Martin Guerre”, de Natalie Davis. A Micro-História e Outros Ensaios. Lisboa: DIFEL; Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1991.

GRAHAM, Sandra Lauderdale. Proteção e obediência: criadas e seus patrões no Rio de Janeiro, 1860-1910. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

JARDIM, Rejane Barreto. Desvelando o implícito: irmãs de caridade e parteiras na formação do saber médico em Porto Alegre, 1872-1940. Dissertação (Mestrado). Porto Alegre, PPGH/Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 1998.

MARTINS, Ana Paula Vosne. Visões do feminino: a medicina da mulher nos séculos XIX e XX. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2004.

MOREIRA, Paulo Staudt. Recordações da casa dos mortos: projetos carcerários e sociabilidades carcerárias (a Casa de Correção de Porto Alegre no século XIX). In: Sociabilidades, justiças e violências: práticas e representações culturais no Cone Sul (séculos XIX e XX).2 ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2013, p. 61-94.

MOREIRA, Paulo Staudt. Os Cativos e os Homens de Bem. Experiências Negras no Espaço urbano. Porto Alegre: Edições EST, 2003.

MOREIRA, Paulo Staudt. Entre o deboche e a rapina. Os cenários sociais da criminalidade popular (Porto Alegre - século XIX). Porto Alegre: Armazém Digital, 2009.

NECKEL, Roselane (et. al.). Aborto e infanticídio nos códigos penais e nos processos judiciais: a pedagogia de condutas femininas. In: PEDRO, Joana Maria (org.). Práticas Proibidas: práticas costumeiras de aborto e infanticídio no século XX. Florianópolis: Cidade Futura, 2003.

PEDRO, Joana Maria. A experiência com contraceptivos no Brasil: uma questão de geração. Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 23, nº 45, pp. 239-260 – 2003.

PERROT, Michele. Minha história das mulheres. São Paulo: Contexto, 2007.

PROSPERI, Adriano. Dar a alma: História de um infanticídio. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

ROHDEN, Fabíola. A arte de enganar a natureza: contracepção, aborto e infanticídio no início do século XX. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2003.

ROSSI, Daiane Silveira. Assistência à Saúde e à Pobreza no Interior do Sul do Brasil (1903-1913). Tese (Doutorado em História das Ciências e da Saúde) – Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2019.

SCOTT, Joan Wallach. “Gênero: uma categoria útil de análise histórica”. Educação & Realidade. Porto Alegre, vol. 20, nº 2, jul./dez. 1995, pp. 71-99.

SOUZA, Flavia Fernandes de. Criados, Escravos e Empregados: O serviço doméstico e seus trabalhadores na construção da modernidade brasileira (cidade do Rio de Janeiro, 1850-1920). Tese (Doutorado em História) - Universidade Federal Fluminense, Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, Departamento de História, 2017.

TELLES, Lorena Féres da Silva. Libertas entre sobrados: mulheres negras e trabalho doméstico em São Paulo (1880-1920). São Paulo: Alameda, 2013.

VÀZQUEZ, Georgiane Garabely Heil. Mais cruéis do as próprias feras: aborto e infanticídio nos Campos Gerais entre o século XIX e o século XX. Dissertação de Mestrado para o Programa de Pós-Graduação em História. Setor de Ciência Humanas, Letras e Artes. Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2005.

VÁZQUEZ, Georgiane Garabely Heil; LOCH, Fernanda. Práticas Criminosas, Práticas Egoístas, Práticas Proibidas: O aborto no discurso do médico Nino Magno Baptista, 1930. Gênero. Niterói, volume 19, nº 1, 2º sem. 2018, p. 130/147.

WITTER, Nikelen Acosta. Dizem que foi feitiço: as práticas da cura no sul do Brasil (1845 a 1880). Porto Alegre: EDIPUCRS, 2001.

WITTER, Nikelen Acosta. Males e epidemias: sofredores, governantes e curadores no sul do Brasil (Rio Grande do Sul, século XIX). Tese (Doutorado em História) - Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2007.

WEBER, Beatriz Teixeira. As artes de curar: Medicina, Religião, Magia e Positivismo na República Rio-Grandense – 1889/1928. Bauru/SMA: EDUSC/UFSM, 1999.

ZENHA, Celeste. As práticas da justiça no cotidiano da pobreza. Revista Brasileira de História. V. 5, nº10. São Paulo: Marco Zero.

Downloads

Publicado

2020-11-04

Como Citar

MOREIRA, Paulo Roberto Staudt; WITTER, Nikelen Acosta. “Costuma fornecer a diversas pessoas drogas abortivas”: o ofício das parteiras, disputas profissionais e sociabilidades femininas (Porto Alegre, RS, Primeira República). Revista Mundos do Trabalho, Florianópolis, v. 12, p. 1–22, 2020. DOI: 10.5007/1984-9222.2020.e75240. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/mundosdotrabalho/article/view/75240. Acesso em: 28 mar. 2024.

Edição

Seção

D1 "Os mundos do trabalho e suas interfaces com a ciência, a saúde e a doença”