A educação cartográfica precisa de uma epistemologia? Tradições e transições na cartografia escolar brasileira
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-795X.2022.e83989Palavras-chave:
Epistemologias cartográficas, Cartografia escolar no Brasil, Teorias e metodologias para o estudo de mapasResumo
Filosofias do conhecimento têm sido um tema constante na cartografia nas últimas três décadas e resultaram em um debate animado sobre uma variedade de abordagens (moderna, pós-moderna, pós-processual e pós-representacional) na disciplina. Essas discussões não tiveram um impacto significativo sobre as teorias e metodologias na educação cartográfica. O ensino sobre e com mapas adota ideias bem-estabelecidas, mas está reticente em aceitar modos alternativos. Este artigo busca analisar epistemologias e visões cartográficas no contexto da cartografia escolar no Brasil para apontar tradições, transições e tendências que consolidam princípios fáceis de seguir, mas que podem coibir a diversidade de abordagens na subdisciplina ao mesmo tempo. Eu argumento que o ensino com mapas exige um debate mais amplo sobre ajustes e inovações além dos padrões tidos como certos. Para essa finalidade, discutirei brevemente epistemologias no contexto da cartografia científica e, a seguir, com base na bibliografia substancial existente no Brasil, delinearei tradições específicas que criaram as fundações da cartografia escolar atual no país. Identificam-se obstáculos e desafios para o desenvolvimento e aprimoramento do ensino, com a intenção de repensar práticas comuns e experimentar com formas e modos alternativos e complementares em sala de aula. A revisão e reformulação de princípios, conceitos e temas específicos podem fortalecer uma visão inclusiva, diversificada e pluralista na educação cartográfica que possa servir como instrumento útil para uma cartografia cidadã no Brasil.
Referências
ALMEIDA, Rosângela Doin de; ALMEIDA, Regina Araujo de. Fundamentos e perspectivas da cartografia escolar no Brasil. Revista Brasileira de Cartografia, v. 66, n. 4, p. 885-897, 2014.
ARCHELA, Rosely; SIMIELLI, Maria Elena. Bibliografia analítica da cartografia e ensino. Portal de Cartografia, v.2., n.1, p. 137-174, 2009.
ARNBERGER, Erik. Die Kartographie als Wissenschaft und ihre Beziehungen zur Geographie und Geodäsie. In: ARNBERGER, Erik, org. Grundsatzfragen der Kartographie. Vienna: Österreichischen Geographischen Gesellschaft, 1970, p. 1-28.
BERGMANN, Luke; LALLY, Nick. For geographical imagination systems. Annals of the American Association of Geographers, v.111, n.1, p. 1-25, 2021. https://doi.org/10.1080/24694452.2020.1750941
BERTIN, Jacques, Sémiologie graphique. Les diagrammes. Les réseaux. Les cartes, Paris/La Haye, Mouton; Paris, Gauthier-Villars, 1967.
BERTIN, Jacques. O teste de base da representa¬ção gráfica. Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, v.42, n.1, p.160-182, jan./mar. 1980.
BERTIN, Jacques; GIMENO, Roberto. A lição de Cartografia na escola elementar. Boletim Goiano de Geografia, Goiânia, v.2, n. 1, p. 35-56, jan./jun. 1982.
BITTNER, Christian; GLASZE, Georg. Excluding effects of cartographic epistemologies - thinking about mapping paradigms in OpenStreetMap and Wikimapia. KN – Journal of Cartography and Geographic Information, v.68, n.3, p. 120-126, 2018.
BOLIGIAN, Levon; ALMEIDA, Rosângela Doin de. Cartography in textbooks published between 1824 and 2002 in Brazil. In: ZENTAI, László; NUNEZ, Jesús Reyes, orgs. Maps for the future: children, education and internet. Berlin: Springer, 2012, p. 75-84.
BONIN, Serge. Novas perspectivas para o ensino da Geografia. Boletim Goiano de Geografia, Goiânia, v. 2, n. 1, p. 73-87, jan./jun.1982.
CAUVIN, Colette; ESCOBAR, Francisco; SERRADJ, Aziz. Thematic cartography and transformations. London: Wiley, 2010.
CLOZEL, José. Latitude e longitude. Boletim Geográfico, Rio de Janeiro, v. 4, n. 45, p. 1151-1154, dez. 1946.
CRAMPTON, Jeremy. Cartography: maps 2.0. Progress in Human Geography, v.33, n.1, p. 91-100, 2009. https://doi.org/10.1177%2F0309132508094074
DUARTE, Ronaldo Goulart. Educação geográfica, cartografia escolar e pensamento espacial no segundo segmento do ensino fundamental. São Paulo: USP, 2016 (doctoral dissertation).
ESTEVES, Marcella Gomes. A concepção de linguagem no termo linguagem cartográfica. Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.6., n.3, p. 10635-10676, mar. 2020. https://doi.org/10.34117/bjdv6n3-079
FERNÁNDEZ, Pablo; BUCHROITHNER, Manfred. Paradigms in cartography. An epistemological review of the 20th and 21st century. Heidelberg: Springer, 2014.
GARTNER, Georg. Web mapping 2.0. Mitteilungen der Österreichischen Geographischen Gesellschaft, v.151, p. 277-290, 2009.
GERBER, Rod. Is mapping in schools reflecting developments in cartography and geographical information? In: NAISH, Michael, org. Geography and education: national and international perspectives. London: University of London Institute of Education, 1992, p. 194-211.
GIRARDI, Gisele. Apontamentos para uma cartografia da cartografia geográfica brasileira. Revista da ANPEGE, v.7, n.1, p. 237-250, out. 2011. https://doi.org/10.5418/RA2011.0701.0020
HARLEY, J.B. Deconstructing the map. Cartographica, v.26, n.2, p. 1-20, 1989. https://doi.org/10.3138/E635-7827-1757-9T53
HETHERINGTON, Stephen. What is epistemology? Cambridge: Politi Press, 2019.
KITCHIN, Rob; DODGE, Martin; PERKINS, Chris. Introductory essay: conceptualizing mapping. In: DODGE, Martin; KITCHIN, Rob; PERKINS, Chris, orgs. The map reader. Theories of mapping practice and cartographic representation. Oxford: Wiley, 2011, p. 2-7.
KITCHIN, Rob; PERKINS, Chris; DODGE, Martin. Thinking about maps. In: DODGE, Martin; KITCHIN, Rob; PERKINS, Chris, orgs. Rethinking maps. New frontiers in cartographic theory. London: Routledge, 2009, p. 1-25.
KUHN, Thomas. The structure of scientific revolutions. Chicago: University of Chicago Press, 1962.
LE SANN, Janine. Elaboration d'un matériel pédagogique pour l'apprentissage de notions géographiques de base, dans les classes primaires, au Brésil: une proposition à partir des apports théoriques de la géographie, de la pédagogie, de la psychologie et de la graphique. Paris: EHESS, 1989. (doctoral dissertation).
MACEACHREN, Alan. Some truth with maps. A primer on design and symbolization, Washington D. C.: Association of American Geographers, 1994.
MACEACHREN, Alan. How maps work. Representation, visualization, and design. First paperback edition. New York: Guilford Press, 2004.
OLIVEIRA, Lívia de. Estudo metodológico e cognitivo do mapa. São Paulo: USP, 1978.
OLIVEIRA, Lívia de; MACHADO, Lucy Marion. Como adolescentes percebem, geograficamente, relações espaciais topológicas e euclidianas, através de pré-mapas. Boletim de Geografia Teorética, Rio Claro, v. 5, n.9/10, p. 33-62, 1975.
PADOVESI, Fernanda; OLIVA, Jaime. Cartografia. São Paulo: Melhoramentos, 2013.
PAGANELLI, Tomoko. Para a construção do espaço geográfico na criança. Rio de Janeiro: FGV/Instituto de Estudos Avançados, 1982 (doctoral dissertation).
PIAGET, Jean. La naissance de l'intelligence chez l'enfant, Neuchâtel, CH: Delachaux et Niestlé, 1936.
PIAGET, Jean; INHELDER, Bärbel. La représentation de l'espace chez l'enfant. Paris: PUF, 1948.
PIAGET, Jean; INHELDER, Bärbel. A representação do espaço na criança. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993.
PIAGET, Jean. O nascimento da inteligência na criança. Rio de Janeiro: Zahar, 1970.
PINTO, Maria Magdalena V. Orientação metodológica para uso do atlas geográfico escolar. Boletim Geográfico, Rio de Janeiro, v. 22, n. 178, p. 114-120, jan./fev. 1964.
QUINTIERE, Léia. Leituras de mapas e fotografias: bloco-diagrama. Boletim Geográfico, Rio de Janeiro, v. 5, n. 57, p.1022-1029, dez. 1947.
SANTOS, Boaventura de Sousa. Epistemologies of the South. Justice against epistemicide. London: Routledge, 2014.
SANTOS, Milton. O espaço do cidadão. São Paulo: Nobel, 1987.
SEEMANN, Jörn; CARVALHO, Mariano Oliveira de. Cartografia escolar em ação: caminhos para uma geografia cidadã e militância cartográfica no Brasil. Geografia, Ensino & Pesquisa, Santa Maria, v.21, n.1, p. 123-136, 2017.
SENA, Carla Cristina Reinaldo Gimenes de; CARMO, Waldirene Ribeiro do. School cartography in Brazil and its inclusive perspective. International Journal of Cartography, v.6, n.3, p. 316-330, 2020. https://doi.org/10.1080/23729333.2020.1824565
SIMIELLI, Maria Elena. O mapa como meio de comunicação: implicações no ensino do primeiro grau. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1987 (doctoral dissertation).
TEIXEIRA NETO, Antônio. Imagem... e imagens. Boletim Goiano de Geografia, v.2, n.1, p. 123-135, jan/jun. 1982.
WEIS, Arthur Bernardes. O atlas geográfico escolar do IBGE-CNG-MEC. Boletim Geográfico, Rio de Janeiro, v. 17, n. 152, p. 518-522, set. 1959.
WIEGAND, Patrick. Education cartography. International Research in Geographical and Environmental Education, v.12, n.4, p. 344-353, 2003.
WIEGAND, Patrick. Learning and teaching with maps, London: Routledge, 2006.
WOOD, Denis. The power of maps. New York: Guilford Press, 1992.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2022 Jorn Seemann
![Creative Commons License](http://i.creativecommons.org/l/by/4.0/88x31.png)
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Esta revista proporciona acesso público a todo seu conteúdo, seguindo o princípio de que tornar gratuito o acesso a pesquisas gera um maior intercâmbio global de conhecimento. Tal acesso está associado a um crescimento da leitura e citação do trabalho de um autor. Para maiores informações sobre esta abordagem, visite Public Knowledge Project, projeto que desenvolveu este sistema para melhorar a qualidade acadêmica e pública da pesquisa, distribuindo o Open Journal Sistem (OJS) assim como outros software de apoio ao sistema de publicação de acesso público a fontes acadêmicas. Os nomes e endereços de e-mail neste site serão usados exclusivamente para os propósitos da revista, não estando disponíveis para outros fins.
A Perspectiva permite que os autores retenham os direitos autorais sem restrições bem como os direitos de publicação. Caso o texto venha a ser publicado posteriormente em outro veículo, solicita-se aos autores informar que o mesmo foi originalmente publicado como artigo na revista Perspectiva, bem como citar as referências bibliográficas completas dessa publicação.