Descolonização de nós mesmos e possibilidades de construir caminhos metodológicos bricolados

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/2175-795X.2023.e85968

Palavras-chave:

Educação, Caminhos bricolados, Metodologia

Resumo

Este estudo, a partir de uma abordagem qualitativa, tem a intenção de esboçar possibilidades que podem auxiliar no campo teórico e, ao mesmo tempo, metodológico, para a construção de caminhos bricolados ao se fazer pesquisa com grupos sociais e culturais, que, de certa forma, divergem do nosso modelo ocidental de sociedade. Para tal, a presente discussão é constituída por meio do estudo bibliográfico e de nossas experiências. No intuito de atingirmos o objetivo e produzirmos indagações sobre o processo de pesquisa, apoiamo-nos nas contribuições pós-críticas do campo dos estudos culturais, em pressupostos das teorias pós-coloniais, em autores do Grupo Modernidade/Colonialidade. As percepções iniciais indicam que o ato de pesquisar com grupos sociais secularmente subalternizados deve ser de respeito às diferenças, e por isso é imprescindível traçarmos caminhos descolonizados, buscando a descolonização de nós no percurso da pesquisa. Dessa maneira, trabalhar com teorias que descortinam os encobrimentos coloniais colabora para o ato de ressignificação da pesquisa e para uma postura epistemológica baseada na bricolagem que funciona como rasuras metodológicas que nos permitiram desviar de caminhos fixos, de olhares naturalizados, cristalizados sobre os sujeitos que pesquisamos e com quem pesquisamos. Logo, é imperativo que estejamos em processo contínuo de descolonização de nós mesmos.

Biografia do Autor

Jonatha Daniel dos Santos, Universidade Federal do Amazonas, UFAM, Brasil

Professor da Universidade Federal do Amazonas, UFAM, Brasil. Doutor em Educação.

Rozane Alonso Alves, Universidade Federal do Amazonas

Professora da Universidade Federal do Amazonas, campus Humaitá. Doutora em Educação.

 

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Publicado

2023-03-17

Como Citar

Daniel dos Santos, J., & Alonso Alves, R. (2023). Descolonização de nós mesmos e possibilidades de construir caminhos metodológicos bricolados. Perspectiva, 41(1). https://doi.org/10.5007/2175-795X.2023.e85968