Identidade, diferença e poder: narrativas escolares sobre estudantes de “sucesso ou insucesso”
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-795X.2023.e86460Palavras-chave:
Cultura Escolar, Sucesso Escolar, Insucesso EscolarResumo
Investigar a educação escolar de crianças de anos iniciais, matriculadas em escolas públicas, em tempos em que vislumbramos ora defesas, ora críticas às instituições educacionais contemporâneas é refletir as novas formas de ensinar e aprender em uma sociedade desigual. O estudo objetiva compreender como os professores de anos iniciais do Ensino Fundamental, atuantes em escola pública, concebem e narram os estudantes considerados exemplos de sucesso ou de insucesso. A investigação, numa perspectiva pós-estruturalista, adotou entrevistas narrativas, direcionadas a docentes de anos iniciais, gravadas, transcritas e examinadas pela perspectiva da análise do discurso, com referenciais foucaultianos. As reflexões propiciadas por Foucault e seus seguidores compõem a fundamentação teórica, evidenciando noções como subjetivação e poder. O estudo permite concluir que os professores, frequentemente, adotam estereótipos ao caracterizar o que consideram estudantes de sucesso ou de insucesso. Os discursos legais, midiáticos, educacionais, pedagógicos, enaltecem a escola inclusiva e a educação para todos. Mas, as narrativas evidenciam a crença de que o trabalho docente é exitoso, predominantemente, quando a criança segue as normas escolares e a família é “estruturada” e presente na escola, desconsiderando as desigualdades sociais e os desafios da sociedade/família contemporânea. A diferença na escola causa estranhamentos docentes, uma vez que a expectativa predominantemente é da identidade, a partir de tempos e espaços iguais para todos, e currículos padronizados.
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