A didática desenvolvimental na formação inicial docente: por uma ética do encontro
DOI :
https://doi.org/10.5007/2175-795X.2024.e98289Mots-clés :
Didática Desenvolvimental, Obutchénie, LicenciaturasRésumé
Este artigo objetivou reconhecer se o ensino nas licenciaturas de uma universidade federal logrou contribuições à constituição da práxis docente. Para alcançá-lo, apresentamos os sentidos produzidos por licenciandos/as acerca de sua formação inicial. Baseamo-nos na estrutura conceitual da psicologia histórico-cultural e empregamos núcleos de significação para analisar 16 entrevistas individuais com licenciandos/as dos cursos presenciais dessa instituição. As análises utilizaram as unidades da obutchénie como escopo analítico, conceito que une ensino, aprendizagem e desenvolvimento. Os sentidos atribuídos pelos/as licenciandos/as revelaram a interdependência entre teoria e prática no contexto da docência, ressaltaram a importância de transcender os fundamentos teórico-metodológicos das ciências e de aprender a planejar movimentos didáticos que efetivem a práxis. O enquadramento presencial das aulas e a mediação de professores/as formadores/as de qualidade facilitaram que os/as licenciandos/as refletissem sobre a práxis docente. Os encontros e a dinâmica didático-pedagógica das aulas potencializaram a unidade entre ensino e aprendizagem e propiciaram o desenvolvimento de docentes e discentes por meio de um processo dialético analisado a partir do conceito de obutchénie. Uma educação emancipatória e omnilateral se nutre no/do encontro, enfrentando o desafio ético-político de construir um projeto de educação que se oriente para além do capital.
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