Atenção à crise no campo da saúde mental O acolhimento como dispositivo clínico
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Resumo
Neste artigo daremos protagonismo à crise em sua extensão clínica na atual política pública de saúde mental em nosso país. O estudo problematiza as práticas de cuidado com usuários sem história prévia de sofrimento mental grave e contínuo. De maneira geral, a natureza desta demanda associa-se a acontecimentos traumáticos, aos contextos do luto, do suicídio e das perdas e conflitos amorosos e profissionais. Pela regularidade dos casos no cotidiano dos serviços de saúde, a abordagem do tema é relevante tanto em seu valor clínico, quanto pela importância que ocupa nos rumos do projeto reformista. Situados no campo da psicanálise e da atenção psicossocial, a noção de crise é compreendida como um momento específico da existência expresso por um sofrimento agudo que condensa uma série de afetos e impasses próprios à heterogeneidade dos modos de viver na contemporaneidade. Do ponto de vista clínico e institucional, postulamos o acolhimento - em sua dimensão simbólica - como dispositivo privilegiado de tratamento à crise em pacientes sem transtorno grave e contínuo nos diferentes níveis de atenção em saúde.
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