SAÚDE MENTAL E SISTEMA PRISIONAL: USO DE PSICOFÁRMACOS POR MULHERES PRIVADAS DE LIBERDADE Mental health and the prison system: use of psychiatric drugs by imprisoned woman
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Resumo
A utilização da medicação como uma das principais estratégias para lidar com o sofrimento psíquico advindo do cárcere, pode ser considerada uma ferramenta para controle e contenção de corpos de mulheres em privação de liberdade, que enfrentam dificuldades em acessar um cuidado integral em saúde em unidades prisionais. O objetivo deste estudo foi investigar o uso de psicofármacos por mulheres privadas de liberdade e as relações estabelecidas nas unidades prisionais, que possibilitam ou impedem o acesso integral à saúde no sistema prisional. Tratou-se de um estudo qualitativo exploratório, realizado por meio de entrevistas semiestruturadas com profissionais de saúde e mulheres sob custódia em uma unidade prisional do Rio Grande do Sul. Os achados foram sistematizados a partir de núcleos argumentais, analisados a partir da hermenêutica-dialética, buscando estabelecer diálogo com os referenciais teóricos da pesquisa. Verificou-se um uso intenso de psicofármacos, bem como a não garantia do direito ao acesso integral à saúde, assim como uma tendência à medicalização das questões sociais, que afetam as mulheres privadas de liberdade em um movimento de conter comportamentos desviantes. Buscou-se contribuir para as discussões acerca da importância da construção de estratégias de cuidado em saúde mental que promovam a garantia de direitos, a humanização e atenção integral à saúde no sistema prisional com base nos princípios do SUS e da Reforma Psiquiátrica.
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