Desinformação nas bordas do planeta: Deslocamentos epistêmicos na experiência da Rede Wayuri

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/1807-1384.2025.e107172

Palavras-chave:

comunicação indígena, tecnologias ancestrais, desinformação, resistência, deslocamentos epistêmicos

Resumo

Neste artigo, analisamos a atuação da Rede Wayuri de comunicadores indígenas, formada em 2017 por representantes de 23 povos do Alto Rio Negro, no estado do Amazonas. A Rede articula tecnologias digitais e saberes tradicionais, com produção sonora em cinco idiomas e distribuição híbrida. O estudo de caso centra-se no episódio “Lições da mitologia indígena contra as fake news”, da série “Amazônia: mentira tem preço”, que recorre à cosmologia Tukano para refletir sobre as fake news. A narrativa de Inaburrê, apresentada pelo antropólogo indígena Dagoberto Lima Azevedo, serve como operador conceitual para compreender os impactos da mentira. Ao valorizar epistemologias indígenas como formas legítimas de produção de conhecimento, o trabalho propõe um deslocamento epistêmico que tensiona os limites da teoria da comunicação tradicional e do enfrentamento ocidental à desinformação.

Biografia do Autor

Evandro José Medeiros Laia, Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP)

Professor do Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal de Ouro Preto, é doutor em Comunicação e Cultura (UFRJ) , com estágio doutoral no Departamento de Antropologia Aplicada da Columbia University, em Nova Iorque. Realiza está pós-doutoral no Departamento de Comunicação e Pesquisa Social da Università di Roma La Sapienza.

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Publicado

12.08.2025

Edição

Seção

Dossiê: Perspectivas críticas de gênero e decoloniais na internet. Organização: Drª Cristina Scheibe Wolff e Drª Elaine Schmitt