Encenação de si em Sangue de amor correspondido, de Manuel Puig
DOI:
https://doi.org/10.5007/1807-1384.2025.e108831Palavras-chave:
práticas de si, veridicção, performance, encenação de si, Manuel PuigResumo
Este trabalho realiza uma análise discursiva dos enunciados de si proferidos por Josemar, protagonista de Sangue de Amor Correspondido (1982), um romance de Manuel Puig, como técnica de encenação de sua subjetividade. Partindo das noções foucaultianas de cuidado de si e veridicção, propomos uma atualização à discussão, explorando como o monólogo da personagem, inspirado em um trabalhador real, reflete uma crise das práticas de si. A hipótese é que o discurso de Josemar reflete uma performance alienada, característica da modernidade, que não visa ao dizer-verdadeiro. A materialidade discursiva compõe-se de excertos que revelam contradições internas (histórias repetidas com detalhes inconsistentes) e externas (fantasias em contraste com a precariedade material), amplificadas pelo uso da terceira pessoa, que distancia Josemar de seu eu. Além disso, a centralidade do discurso sexual, pautado por uma performance de masculinidade padrão, revela práticas de si reduzidas a repetições não reflexivas, reguladas pela biopolítica da cultura de massa. Assim, este estudo evidencia o empobrecimento das tecnologias do eu na modernidade, conectando a subjetividade de Josemar às dinâmicas de poder e controle social.
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