Governamentalidade, consumo e violência especistas: um estudo discursivo dos produtos Sadia e Sadia Bio

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/1807-1384.2025.e108923

Palavras-chave:

Discurso, Consumo, governamentalidade, ética, animais não humanos

Resumo

Este trabalho propõe uma análise das práticas discursivas envolvidas na produção e comercialização dos produtos Sadia e Sadia Bio. Com base na teoria de Michel Foucault e nos Estudos Críticos Animais (Critical Animal Studies – CAS), a pesquisa discute como os discursos de ética, bem-estar animal e sustentabilidade são mobilizados para legitimar o consumo de animais não humanos, ao mesmo tempo em que deslocam a crítica estrutural para o campo da escolha individual. A partir de uma análise de elementos linguísticos e visuais presentes nas embalagens e no site da empresa Sadia, argumenta-se a hipótese de o frango Sadia Bio operar como um dispositivo de governamentalidade que permite ao consumidor manter práticas especistas sob a aparência de responsabilidade moral. Nesse sentido, o trabalho busca contribuir para o debate sobre os regimes de verdade que sustentam o especismo contemporâneo e a sofisticação dos mecanismos de dessubjetivação animal. A metodologia adotada se apoia na análise de elementos discursivos e visuais extraídos das embalagens físicas e do site da marca Sadia, com atenção à omissão da morte e à estetização da vida animal. A análise revela dois regimes de verdade coexistentes: o da carne "convencional", marcada pela dessubjetivação e apagamento do animal, e o da carne "ética", associada à transparência e ao cuidado. Ambos operam sob a lógica neoliberal de mercado, produzindo subjetividades distintas e modulando a culpa e a responsabilidade do consumo. A partir da articulação interdisciplinar entre os estudos discursivos foucaultianos e os CAS, a análise apresenta como a indústria alimentícia se adapta às demandas éticas contemporâneas sem romper com o especismo estrutural, oferecendo alternativas morais que garantem a permanência da exploração animal sob novas roupagens discursivas.

Biografia do Autor

Adriano Henriques Lopes da Silva, Universidade Federal de Santa Catarina,Universidade Federal de Santa Catarina ,Universidade Federal de Santa Catarina

Professor no Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG). Ex-professor do  Instituto Federal do Sertão Pernambucano, locais onde ministrei disciplinas no ensino fundamental, médio técnico e superior. Durante minha trajetória profissional, atuei também como professor no curso de Letras/Inglês da Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR)-Campus Paranaguá e na Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Doutorando em Linguística na Universidade Federal de Santa Catarina, mestre em Estudos Linguísticos pela Universidade Federal de Uberlândia e Licenciado em Letras/Inglês pela mesma instituição. Além disso, sou bacharel em Turismo graduado pela Universidade Federal de Ouro Preto. Academicamente, tenho desenvolvido trabalhos com temáticas relacionadas aos estudos discursivos, formação de professores e aprendizagem de LE.

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Publicado

30.12.2025

Edição

Seção

Dossiê: Vigiar e Punir: tecnologias do eu cinquenta anos depois. Organização: Dr. Atilio Butturi Junior