O sujeito-corpo professor: uma análise dos enunciados da Imprensa do Brasil Imperial
DOI:
https://doi.org/10.5007/1807-1384.2025.e109116Palavras-chave:
Brasil Imperial, professor, discurso, arqueogenealogia, poder pastoralResumo
Situada na interseção entre a história da educação e estudos do discurso, a pesquisa coloca em suspenso enunciados sobre o professor, publicados em documentos, revistas e jornais de grande circulação na imprensa do Brasil Imperial. Esse período, marcado por intensas transformações políticas, sociais e culturais, teve um impacto significativo na organização do sistema educacional e da formação de professores. Trata-se de um momento histórico que sediou as primeiras leis educacionais e os primeiros tensionamentos travados entre a classe dos professores e o Estado. Neste contexto histórico e sob a égide da perspectiva arqueogenealógica, o estudo se dedica a mapear e analisar os discursos sobre o corpo-sujeito professor. O percurso metodológico se deu em três etapas: a primeira envolveu o levantamento da materialidade discursiva, em revistas e jornais, na Hemeroteca Digital Brasileira, a partir do descritor “professor”; na segunda demarcou-se o corpus de enunciados, definindo como locus de análise publicações que orbitaram a institucionalização da instrução primaria; e, na última etapa, monumentaliza-se os achados discursivos e empenha-se um ensaio analítico, operando com conceitos de formação discursiva e relação saber-poder. A análise dos enunciados deflagrou regularidades discursivas que colocam em funcionamento discursos de desvalorização da docência – ofício e locus de trabalho - e uma ocupação do sujeito-corpo professor, ancorada nos domínios jurídico e do poder pastoral.
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