Os 50 anos de Vigiar e punir: um livro eficaz como uma bomba e bonito como fogos de artifício

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/1807-1384.2025.e109418

Palavras-chave:

Michel Foucault, Vigiar e punir, cinquenta anos, capturas algorítmicas, insurreição dos saberes sujeitados

Resumo

Neste texto, não procuramos diagnosticar os efeitos e as repercussões do conjunto da obra de Michel Foucault no Brasil e no mundo, tampouco nos propomos a julgar todos os usos que se fazem de seus escritos. Como indica o título, trata-se de um breve ensaio sobre os cinquenta anos do livro-acontecimento Vigiar e punir: nascimento da prisão. Inspirando-nos na analítica genealógica de combate ao poder e da explicitação das relações de força de Foucault, destacamos como algumas das críticas e das teses mais comentadas do livro pela filosofia, pela história e pelas ciências sociais domesticam e capturam a eficácia da obra. Defendemos que a força de Vigiar e punir está nos diagnósticos e nas hipóteses que nem sempre foram tão celebrados ao longo desses cinquenta anos, em especial aqueles que dizem respeito à indissociação entre a militância política de Foucault e a escrita de Vigiar e punir; à crítica ao humanismo, que privilegiava o elogio do progresso ocidental e entendia a prisão como aquela que produziu a humanização dos castigos, ignorando as relações entre a criação do homem pelas ciências humanas e as táticas disciplinares e de vigilância; às hipóteses de que a prisão produz a delinquência e o delinquente com o objetivo de organizar e controlar as ilegalidades populares, sendo este um dos principais motivos de sucesso e permanência entre nós, o que não impediu Foucault de diagnosticar processos, em seu presente, que foram capazes de restringir o uso da prisão nas sociedades ocidentais e de transformar o seu funcionamento interno; e à presença relâmpago da vida singular de uma criança e do seu discurso entendido como uma ilegalidade que permanecia rebelde às coerções disciplinares. Concluímos que as insurreições de saberes sujeitados são os efeitos explosivos e belos que continuam sendo animados por Vigiar e punir.

Biografia do Autor

Priscila Piazentini Vieira, Universidade Estadual de Campinas,Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)

Tem experiência na área de História, com ênfase em Teoria e Filosofia da História e História Moderna e Contemporânea. Graduada, Mestre e Doutora em História pelo IFCH/UNICAMP, sob a orientação da Profa. Dra. Margareth Rago. Foi bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (FAPESP) na Iniciação Científica, no Mestrado e no Doutorado. Em seu Mestrado, dedicou-se principalmente ao estudo da concepção de história genealógica proposta pelo filósofo francês Michel Foucault, destacando a importância da noção de relações de força em Vigiar e Punir. Foi bolsista da CAPES pelo Programa de Doutorado no País com Estágio no Exterior - PDEE, em Paris, entre 2010 e 2011, sob a orientação do Prof. Dr. Frédéric Gros. Doutorou-se em História pelo IFCH/UNICAMP em 2013 e trabalhou com o interesse de Michel Foucault pela questão da coragem da verdade (parrhesía) na cultura antiga, para articulá-la com as suas reflexões sobre a construção de uma ética do intelectual no presente. Entre fevereiro de 2013 e janeiro de 2014, foi professora substituta no Departamento de História da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Ministrou as seguintes disciplinas: Tópicos Especiais I em História Antiga (diurno e noturno); História Moderna II (noturno); História e Ciência (diurno e noturno) e Um olhar sobre a História dos Estados Unidos (diurno e noturno). Atualmente é pós-doutoranda em História Cultural pelo IFCH/UNICAMP, sob a supervisão da Profa. Dra. Margareth Rago, com o projeto intitulado: "Michel Foucault e a figura do sujeito de direito: Pela criação de um direito novo e de modos de vida éticos e libertários".

Acácio Augusto, Universidade Federal de São Paulo ,Universidade Federal de São Paulo

Professor no Departamento de Relações Internacionais da UNIFESP, Campus Osasco. Professor no Programa de Pós-Graduação em Psicologia Institucional da UFES e no Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais: Estudos do Sul Global da EPPEN-UNIFESP. Coordena o Laboratório de Análise em
Segurança Internacional e Tecnologias de Monitoramento (LASInTec) na UNIFESP.

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Publicado

08.12.2025

Edição

Seção

Dossiê: Vigiar e Punir: tecnologias do eu cinquenta anos depois. Organização: Dr. Atilio Butturi Junior