Editorial

Resumo

O número da INTERthesis que aqui apresentamos está composto por uma variedade de textos que transitam entre a Sociologia, a discussão política e a reflexão teórica. Os seis artigos assim como a resenha que aparecem neste número têm uma preocupação comum. Todos eles analisam, sob perspectivas diversas, os desafios da sociedade contemporânea perante os novos problemas e riscos próprios de nossa modernidade tardia. Dentre os muitos desafios de nossa modernidade, está a compreensão de um fenômeno recente e pouco estudado que é a proliferação de uma literatura voltada para o consumo massivo. Seja como literatura de auto-ajuda ou como best sellers, ela parece ter substituído as modalidades clássicas de produção literária, instaurando um novo critério de valor no qual a quantidade substitui o valor literário. O artigo de Fernando Moreno da Silva discute esta questão, abordando sob uma perspectiva histórica, o impacto do capitalismo na produção de livros transformados em mercadorias. No segundo artigo, Felipe de Paula Souza analisa, a partir da reflexão de autores como Susan Sontag, a circulação e produção de imagens vinculadas com o turismo, com o objetivo de compreender o que é que se oculta, e o que é que se mostra, nessa proliferação de imagens referidas a locais paradisíacos e a sonhos de consumo e lazer. Andreza Galdioli e Elói Martins Senhoras questionam o projeto de integração regional entre Brasil e Argentina no Mercosul. Ainda que muitas páginas fossem dedicadas para refletir sobre os desafios políticos, econômicos e culturais de outros projetos de integração nacional como é o caso da União Européia, resultam escassos os textos dedicados a refletir sobre os desafios e dificuldades apresentados por esse projeto de integração, o Mercosul, que parece ter ficado limitado a um simples projeto de parceria econômica. O texto que aqui apresentamos é uma contribuição para o aprofundamento de um debate necessário sobre os “tortuosos caminhos da integração do Mercosul”. Sem dúvida um dos grandes desafios de nosso presente é refletir sobre a destruição do meio ambiente. Esse é o tema analisado no artigo de José Luiz de Oliveira Soares e Rodrigo Nuñez Viégas. A originalidade deste estudo está em abordar a temática do meio ambiente a partir da perspectiva da criminalização de determinadas ações e comportamentos. Os autores tentam compreender de que modo determinados comportamentos referidos ao meio ambiente, começaram a ser considerados como crimes e seus agentes como criminosos. O tema do meio ambiente volta no artigo de Agripa Faria Alexandre e Paulo José Krischke, porém aqui como uma questão derivada de uma temática mais abrangente que é a institucionalização das políticas de sustentabilidade no Brasil, durante o período democrático de 1980 a 2006. O artigo centra-se no estudo dos limites e controvérsias que orientam tanto as conceituações de democracia como as de sustentabilidade. Por fim, Rosemeire Barbosa da Silva retoma o tema da regulação ambiental, mas em relação à uma profissão específica e muitas vezes discriminada como os catadores de materiais recicláveis. Eles estão organizados num Movimento Nacional que a autora analisa neste artigo como sendo um espaço institucional de luta contra a pobreza e a exclusão social. Além dos artigos publicados neste número da INTERthesis, Leandro Oltramari, publica uma bela resenha sobre o livro “Histórias de amor no Brasil” de Mary Del Priore. A autora foi professora de História do Brasil Colonial na Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro e na Universidade de São Paulo (USP). Essa resenha nos convida a ler o livro de Mary Del Priore como um auxílio para compreender melhor nosso presente. Indica-nos que o amor no cotidiano se constitui como uma “prática social” e que essa prática social é essencialmente histórica. A resenha sugere que é nessa história onde devemos procurar as diferentes e conflitantes faces do amor. Sandra Caponi Editora