Em tempos de retrocesso: o que definem as “novas” diretrizes curriculares (2019/2020) para formação de professores para a educação básica
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-795X.2023.e86657Palavras-chave:
Formação de Professores, Novas Diretrizes, Educação BásicaResumo
Diante da aprovação das novas diretrizes que passam a orientar a formação de professores da Educação Básica no Brasil nos próximos anos, esta pesquisa tem por objetivo analisar os contextos de influência e de produção do texto político das recentes diretrizes do Estado brasileiro, voltadas à formação inicial e continuada dos professores da Educação Básica. A partir de análises fundamentadas na abordagem do Ciclo de Políticas, de Stephen Ball, que busca romper com análises lineares e mecanizadas, pautado na pesquisa documental em uma abordagem qualitativa. Os resultados mostram que, embora os discursos a respeito da necessidade de novas diretrizes para formação de professores não sejam recentes, eles se intensificaram com a aprovação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e se consolidaram em um cenário político marcado por sérios ataques à educação pública, utilizando, assim como na reforma do Ensino Médio e na BNCC, o discurso sobre o baixo rendimento dos alunos, medido pelas avaliações em larga escala. Desse modo, a influência e o poder de organizações internacionais e fundações privadas continuam a impactar na construção, elaboração e implementação de políticas educacionais no Brasil. As novas diretrizes foram aprovadas em um rápido processo escasso de debate e podem ser consideradas como parte de um conjunto de contrarreformas educacionais neoliberais e neoconservadoras, em alinhamento à BNCC, na medida em que não há espaço, nesse projeto de educação, para o profissional renitente, mas, sim, para um professor prático, utilitário e eficiente, que atenda as demandas do mercado de trabalho.
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