Dos fazeres aos saberes: um caminho de descobertas

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/2175-795X.2023.e90644

Palavras-chave:

formação de professores, professores de idiomas

Resumo

Considerando os diferentes contextos de ensino de línguas, tanto em espaços públicos como privados, em contextos nacionais e internacionais, este dossiê reúne experiências e propostas diferenciadas que apresentam espaços múltiplos de formação para professores de línguas. Espaços de formação que operam com base em um pensamento divergente, como afirma Rodari (1982), que usa a criatividade aliada ao conhecimento teórico e prático, em prol de experiências que fazem diferença na formação do professor. Ensino curricular, cursos de extensão, núcleos de estudos, projetos institucionais, webinars, lives são espaços que contribuem para discussões sobre o fazer docente, espaços nos quais se discute diferentes concepções de ensino, abordagens, metodologias e conceitos como intercultura e decolonialidade. Ao se situar em diferentes espaços de formação presenciais e online, de curta ou longa duração, que abordam múltiplos contextos de ensino, o dossiê pretende colher experiências espalhadas pelo Brasil e pelo exterior, no campo das línguas, incluindo línguas indígenas e Libras, bem como a experiência de formação em outros países que compactuam das mesmas questões e preocupações sobre a formação docente. A partir de nossas experiências como alunos, acumulamos vivências boas e ruins que moldam o profissional que somos. No entanto, o conhecimento não é formado apenas na experiência concreta, mas é nutrido pelas teorias educacionais, “possibilitando ao professor criar ‘esquemas’ que ele mobiliza em suas situações concretas, configurando seu acervo de experiências ‘teórico-prático’ em constante processo de reelaboração.” (ALMEIDA & PIMENTA, 2014, p. 20). Levar o licenciado a, desde cedo, refletir criticamente sobre essas experiências contribui para a formação consciente desse profissional - professor e educador, que não se concentra somente no ensinar língua alvo, mas facilitar o acesso à língua-cultura (MENDES, 2015), promover letramento e contribuir para a formação de um aluno crítico.

Nos cursos de Licenciatura, as práticas de ensino são um momento privilegiado para os futuros professores, pois nesses processos de formação, muitos são os atores que compartilham responsabilidades e sucessos. As relações e reflexões que se estabelecem nos espaços formativos e nas práticas de ensino obrigatórias podem ampliar a compreensão sobre os saberes da profissão docente. Os artigos que compõem este dossiê são frutos dessas relações e reflexões. Como afirmam Almeida e Pimenta (2014, p. 20), “o ensino é uma práxis social complexa. Realizado por seres humanos entre seres humanos, é modificado pela ação e relação dos sujeitos (professores e alunos) situados em contextos (institucionais, culturais, espaciais, temporais, sociais), e, ao mesmo tempo que é modificado nesse processo relacional contextualizado, modifica os sujeitos nele envolvidos.” 

A presente proposta reúne oito artigos, cada qual abordando o tema em contextos diferenciados de ensino. O primeiro artigo, busca compreender a importância da disciplina Linguística Aplicada na formação inicial e na prática de professores de Libras que atuarão no contexto da Educação Básica, tanto com alunos surdos como ouvintes. No segundo artigo, os autores apresentam espaços e experiências formativas envolvendo professores de línguas indígenas no ensino superior. Analisam o percurso formativo de professores indígenas na Universidade Federal de Santa Catarina, com enfoque na relação desses professores com três línguas indígenas – Guarani, Kaingang e Laklãnõ-Xokleng – no contexto do curso de Licenciatura Intercultural Indígena. Nossos convidados de outras instituições brasileiras apresentam os contextos de formação inicial de professores de três línguas estrangeiras consideradas minoritárias, a saber, italiano, japonês e francês. No terceiro artigo, o Núcleo de Estudos em Língua Italiana (NELIB/CNPq) propõe reflexão sobre os saberes necessários para que as professoras e os professores de italiano desenvolvam uma prática pedagógica intercultural/decolonial e emancipatória diante de um mundo em constante transformação. O quarto artigo pretende identificar a trajetória do ensino de japonês e do desenvolvimento de materiais didáticos, considerando a transformação ao longo do tempo, até os dias de hoje, de modo a identificar a situação atual do ensino de língua japonesa no território nacional num sentido macro. O quinto artigo analisa o processo de desenvolvimento profissional de uma licencianda em Letras durante a realização de um projeto de extensão universitária desenvolvido em um Colégio de Aplicação de uma universidade federal brasileira, pautado por uma perspectiva transdisciplinar no intuito de sensibilizar jovens estudantes de Ensino Médio à importância de conhecer a biodiversidade brasileira. Por sua vez, o sexto artigo aborda questões acerca da relevância da formação continuada docente na área do inglês, numa perspectiva crítico-discursiva na qual analisa o discurso docente sobre formação continuada, a fim de discutir questões relativas à necessidade dessa formação. Renomados colegas de instituições italiana e argentina também compartilharam conosco suas reflexões e atividades de formação inicial de professores. O sétimo artigo, escrito em italiano, discute a natureza do professor e a sua formação, questionando os conhecimentos e as competências que este profissional deve ter. Por fim, o oitavo artigo, escrito em espanhol, apresenta uma experiência inovadora na Universidade de Rosário sobre ateliers de ensino de língua espanhola para migrantes e refugiados provenientes do Haiti e de Serra Leão, um espaço de formação de professores de línguas onde foram trabalhados temas como cultura de imigração e interculturalidade crítica. Ao compartilharmos as experiências e as reflexões de nossos colegas, acreditamos que o dossiê temático aqui proposto irá contribuir com conhecimento teórico, pedagógico e prático na área de educação de línguas e de formação de professores, atendendo profissionais da comunidade científica, acadêmica e escolar. 

Biografia do Autor

Clarissa Laus Pereira Oliveira, Universidade Federal de Santa Catarina

Formadora de formadores na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), possui Mestrado em Ciências da Linguagem FLE (Université des Sciences Humaines de Strasbourg (USHS), Strasbourg, França, 1996-1997 e Universidade Nancy II, Nancy, França, 1997-1998), Doutorado em Literatura Comparada (Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, Brasil, Universitat de Barcelona (UB), Barcelona, Espanha, 2006) e pós-doutorado em Interculturalidade (Université Paul Valéry Montpellier 3, Montpellier, França, 2020). Atualmente é professora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), responsável pelas disciplinas Metodologia do FLE e estágios supervisionados obrigatórios 1 e 2 no curso de Letras Francês. Foi coordenadora da área do francês do Projeto Multidisciplinar PIBID Línguas Estrangeiras/UFSC (2020/2022).

Daniela Bunn, Universidade Federal de Santa Catarina

Professora do Centro de Ciências da Educação, Departamento de Metodologia do Ensino, da Universidade Federal de Santa Catarina (MEN/CED/UFSC). Mestre e Doutora em Literatura pela Universidade Federal de Santa Catarina. Atuou no Ensino Fundamental, Médio e Superior. Foi coordenadora da área do italiano do Projeto Multidisciplinar PIBID Línguas Estrangeiras/UFSC (2020/2022). Membro do Núcleo de Estudos em Língua Italiana no Contexto Brasileiro (NELIB/CNPq), coordenadora do Projeto de Extensão Italiano per tutti (UFSC), do Núcleo de Estudos Interdisciplinares de Italiano (NEIITA/UFSC) e coordenadora da área do italiano no Núcleo Institucional de Línguas e Tradução (NILT/UFSC/SINTER). Traduziu treze livros de literatura infantil (italiano-português e português-italiano).

Raquel Carolina Souza Ferraz D'Ely, Universidade Federal de Santa Catarina

Possui graduação em Licenciatura em Letras/Inglês (1979), Mestrado em Letras Inglês e Literatura Correspondente (1983), e Doutorado em Inglês e Linguística Aplicada (2006) pela Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC. Fez pós doutorado em 2016 na Universidade Federal do Ceará e, em 2021-22, na Universidade Federal do Espírito Santo. É professora associada atuando nos cursos de graduação e pós graduação em Letras-Inglês e Letras - Secretariado Executivo em Inglês, junto ao Departamento de Língua e Literaturas Estrangeiras (DLLE). Também foi bolsista Recém-Doutor da CAPES (ProDoc) nessa mesma instituição, no período de janeiro de 2008 a maio de 2009. Possui também experiência no ensino a distância, tendo atuado no período de 2008 à 2009 como tutora e 2010 até o 2015 como professora. Foi colaboradora do PECPISC (Programa de Formação Continuada de Professores de Santa Catarina) e tem se engajado em ações pedagógicas na área de formação de professores de língua estrangeira desde 2002, atuando em um curso de formação continuada a distância em parceria com a Secretaria de Educação do Estado de Santa Catarina e, no momento, engajada no movimento Multidisciplinar Pibid.

Referências

ALMEIDA, Maria Isabel de., PIMENTA, Selma Garrido. Centralidade do estágio em cursos de Didática nas Licenciaturas: rupturas e ressignificações. In: ALMEIDA, Maria Isabel de., PIMENTA, Selma Garrido. (orgs). Estágios supervisionados na formação docente. São Paulo, Cortez, 2014.

RODARI, Gianni. Gramática da Fantasia. São Paulo: Summus, 1982.

MENDES, E. A ideia de cultura e sua atualidade para o ensino-aprendizagem de LE/L2. Revista EntreLinguas, Araraquara, v. 1, n. 2, p. 203–222, 2015. DOI: 10.29051/el.v1i2.8060. Disponível em: https://periodicos.fclar.unesp.br/entrelinguas/article/view/8060. Acesso em: 18 ago. 2022.

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Publicado

2023-12-13

Como Citar

Laus Pereira Oliveira, C., Bunn, D., & Souza Ferraz D’Ely, R. C. (2023). Dos fazeres aos saberes: um caminho de descobertas. Perspectiva, 41(4). https://doi.org/10.5007/2175-795X.2023.e90644