Queixas do viver só: emoções, gênero e envelhecimento na vida cotidiana
DOI:
https://doi.org/10.1590/1806-9584-2025v33n193870Palavras-chave:
antropologia das emoções, solidão, gênero, envelhecimento, famíliaResumo
A proposta mais ampla deste artigo é refletir sobre a experiência da solidão em seu entrecruzamento com questões de gênero e do curso da vida. Entenderemos o estar só não como algo estagnado e de sentido único - uma “sensação de separação do outro” ou “contemplação libertária” -, mas como uma experiência emocional oriunda das negociações cotidianas operadas pelos sujeitos acerca de suas próprias vidas. Tendo como base teórico-metodológica a antropologia das emoções, é objetivo deste texto explorar as vicissitudes e ambiguidades do sentir-se só a partir das narrativas de queixas presentes em duas histórias de vida de mulheres cisgêneras, heterossexuais, brancas, pertencentes às classes populares e hoje com mais de sessenta anos de idade. A etnografia dessas trajetórias nos revela que a sensação de solidão tem lugar a partir de um continuum entre solidões acontecidas e deliberadas, entre o prazer de estar só e a sensação de distanciamento dos outros.
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