Representações do corpo-capoeira: um diálogo com Foucault e as tradições orais africanas

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/1807-1384.2025.e108977%20

Palavras-chave:

capoeira, corpo, biopoder, oralidade, tradições africanas

Resumo

Este artigo busca discutir o corpo-capoeira como prática que evidencia as tensões entre disciplina e autonomia, articulando a tradição oral africana e o estudo de Michel Foucault. Para estabelecer essa relação, buscou-se investigar como o corpo é tomado nos estudos foucaultianos- partindo de uma análise do corpo individual à biopolítica- e como o corpo, por meio da arte, é concebido nas tradições orais africanas. Conclui-se que o corpo-capoeira subverteu a lógica do poder dominante transformando-se em um espaço de resistência e saber afro-diaspórico, no qual a memória, a performance e a oralidade se articulam para construir uma subjetividade negra que desafia o controle e a normatização. Por meio da ginga e do jogo, a capoeira ressignifica o corpo negro historicamente submetido e disciplinado, convertendo-o em agente de autonomia e afirmação cultural. Assim, reconhecer o corpo-capoeira como repositório de saber e resistência é também reafirmar a própria identidade no contexto cultural afro-brasileiro. 

Biografia do Autor

Rossaly Beatriz Chioquetta Loresent, Universidade Federal de Santa Catarina

Doutora em Linguística pela Universidade Federal de Santa Catarina. Mestra em Estudos Linguísticos pela Universidade Federal da Fronteira Sul, graduada em Letras Português, Inglês e Espanhol e respectivas literaturas. Professora e Pesquisadora da Universidade do Oeste de Santa Catarina.

Roberta Ribeiro Pinto, Universidade Federal de Santa Catarina

Mestranda em Linguística pela Universidade Federal de Santa Catarina, graduada em Letras Português pela Universidade Federal de Santa Catarina e Pedagogia Bilíngue pelo Instituto Federal de Santa Catarina. Professora de Língua Portuguesa pelo Estado de Santa Catarina.

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Publicado

30.12.2025

Edição

Seção

Dossiê: Vigiar e Punir: tecnologias do eu cinquenta anos depois. Organização: Dr. Atilio Butturi Junior