Aqueles que podem dar ordens, o fazem; aqueles que são smart, obedecem: uma crítica anarquista à “inteligência” neoliberal no contexto de smart cities

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/1807-1384.2025.e103513

Palavras-chave:

Smart cities, Neoliberalismo, Florianópolis, obediência, Anarquismo

Resumo

As cidades inteligentes são uma tendência urbana em crescimento, mas sua definição permanece indefinida, frequentemente moldada pelos interesses de seus idealizadores. Embora as cidades inteligentes não tenham se originado no Sul Global, tornaram-se um tema de discussão no Brasil, apresentadas como uma necessidade para que as cidades possam competir por investimentos. Em 2018, um grupo de associações locais, juntamente com a Prefeitura de Florianópolis, no sul do Brasil, lançou os relatórios “Smart Floripa”. Esta pesquisa busca oferecer uma crítica à conceituação de "inteligência" implícita nesses relatórios, fundamentando-se na teoria anarquista e na geografia crítica, revelando-a como um artifício retórico em disputas sobre políticas urbanas e princípios de organização sociopolítica. Como método, escolhemos a análise documental de dois relatórios: “Smart Floripa 2030: transformando Florianópolis em uma cidade inteligente” e “Smart City Florianópolis: a jornada para criar o caminho da inovação em uma ilha turística”. Iniciamos o artigo considerando o neoliberalismo e seus impactos nos municípios brasileiros. Em seguida, discutimos as cidades inteligentes e os relatórios Smart Floripa, que reforçam políticas de urbanização neoliberais, verificadas pela literatura crítica como um paradigma de desenvolvimento urbano. Concluímos com reflexões sobre o significado da “inteligência” neoliberal.

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06.03.2025

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