“Trezentas mil implicações”: possibilidades familiares em uma pesquisa sobre conjugalidade
DOI:
https://doi.org/10.5007/1807-1384.2017v14n1p152Resumo
Este artigo consiste em um recorte de minha pesquisa de Mestrado, na qual investiguei a experiência da conjugalidade homossexual a partir de entrevistas com quatro casais, tendo como referenciais teóricos os estudos queer. No presente texto, parto de recentes contribuições sobre parentesco de Marilyn Strathern (2005/2015), especialmente suas discussões sobre parentalidade e demais relações familiares, para apresentar as narrativas de um dos casais de mulheres entrevistadas e pensar os (des)encontros entre certa ordem familiar instituída e novos arranjos familiares. Dentre as muitas expectativas, planos e dilemas, observamos que, no tocante à geração de filhos, são temidos os questionamentos da família de origem quanto à identificação e inclusão do genitor na rede familiar, à orientação sexual das mães etc. O discurso do casal aponta para uma complexa trama que envolve variadas possibilidades de arranjos parentais e familiares, sexualidades e afetos. Não obstante, o casal de mulheres entrevistadas parece operar sob uma reiteração subversiva: as possibilidades são discutidas e negociadas tendo a família de origem como referência legitimadora, como instituição que se autoriza a indagar seus vínculos, afetos e desejos. Nesse sentido, o casal analisado apropria-se de determinadas referências familiares porque estas dizem respeito às histórias individuais, ao mesmo tempo em que as negociam, reformulam-nas, submetem-nas às reavaliações que fazem em seu projeto de uma vida a dois ‘alternativa’.
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