“Profissionalização” da várzea?: Controvérsias e dinâmicas do rodar no futebol popular paulistano
DOI:
https://doi.org/10.5007/1807-1384.2024.e101285Palavras-chave:
Antropologia, Futebol de várzea, Etnografia, Amadorismo, ProfissionalismoResumo
Nos últimos anos, a cada início da temporada do futebol de várzea na cidade de São Paulo, despontam reportagens sobre a participação de ex-jogadores do futebol profissional de homens nas competições varzeanas. A discussão sobre a “profissionalização”, que muitas vezes vem acompanhada de discursos saudosistas sobre o “fim” da várzea “tradicional”, tem sido cada vez mobilizada, dentro e fora do circuito varzeano. Esse debate sobre as categorias amador e profissional se insere em uma lógica dicotômica já tradicional no campo das práticas esportivas. Contudo, para compreender seus diferentes significados, essa polaridade deve ser problematizada e redimensionada, sempre de forma contextual, situacional e relacional. Neste artigo, retomarei e sintetizarei algumas questões trabalhadas com base em etnografia de longa duração realizada entre 2010 e 2014, que, dentre outros recortes, acompanhou a participação de um clube de várzea na Copa Kaiser de Futebol Amador de 2012 e as dinâmicas do rodar varzeano daquele ano. Foi possível concluir que as controvérsias mobilizadas em torno dessa dicotomia são constitutivas do processo de atualização, entre permanências e descontinuidade, do futebol popular paulistano.
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