Memórias intergeracionais da ditadura de 1964 no TikTok a partir do filme Ainda Estou Aqui (2024)
DOI:
https://doi.org/10.5007/1807-1384.2025.e107025Palavras-chave:
Ditadura militar, memórias intergeracionais, mídias sociais, Ainda Estou Aqui, TikTokResumo
Em 2024, os 60 anos do golpe civil-militar no Brasil foram marcados pela difusão de discursos negacionistas da ditadura, reproduzidos também nas mídias sociais, sublinhando a permanência das disputas de memória sobre o período no país. Ao mesmo tempo, a efeméride foi igualmente marcada pelo sucesso do longa Ainda Estou Aqui, que acabou vencendo o Oscar de melhor filme internacional ao abordar o terrorismo de Estado de uma perspectiva das histórias de família. Nesse contexto, neste artigo, analisamos criticamente a produção e o compartilhamento de memórias intergeracionais sobre a repressão política da ditadura a partir de postagens na mídia social TikTok motivadas pelo filme. A análise incide sobre quatro vídeos específicos de jovens mulheres, bem como suas características (número de visualizações, comentários, curtidas etc.). Distintos comentários também são analisados, uma vez que intencionamos identificar as principais temáticas, afetos, formas de negação e de generificação agenciados por usuários/as que interagiram com os vídeos. Para tanto, aportes teórico-metodológicos do trabalho historiográfico com mídias sociais são considerados, como Prado (2021), Costa Silva (2022) e Wolff e Schmitt (2024). Discutimos, ainda, os conceitos de “memória-prótese” (Landsberg, 2003) e “pós-memória” (Hirsch, 2008) como instrumentos pertinentes à reflexão brasileira da transmissão intergeracional das memórias traumáticas da ditadura militar de 1964. Esperamos contribuir para a ampliação das pesquisas que problematizam as disputas de memória das violências do passado recente considerando as formas de representação e de subjetivação através da internet.
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