Justiça e utilidade: revisando as bases da coexistência entre ciência e conhecimentos tradicionais

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/1807-1384.2020.e67664

Resumo

A consolidação do paradigma moderno como embasamento para a interpretação do mundo trouxe consigo questões sobre a diversidade cultural, inclusive no que respeita à produção de conhecimentos. Este trabalho tem como principal objetivo chamar a atenção para o fato de que historicamente temos feito da Ciência um sistema caracterizado pela desconsideração e o silenciamento de outros regimes de saberes, como os tradicionais. Nele, procuramos demonstrar, por meio da apresentação de um estudo bibliográfico, a existência de forte tendência hegemônica, a necessidade de nos dedicarmos à superação dessa característica e a possibilidade de criarmos condições para uma coexistência mais justa e mais útil com os regimes de saberes tradicionais. Após expormos um caso de sucesso na combinação de conhecimentos científicos e tradicionais, consideramos, finalmente, que se faz necessária a tomada de posição por parte de nós cientistas para que a Ciência possa cumprir o papel de contribuir com o bem-estar da humanidade.

Biografia do Autor

Luiz Francisco Loureiro, Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, Tefé, AM

Mestre em Ciências Humanas pela Universidade do Estado do Amazonas. Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, Grupo de Pesquisa em Territorialidades e Governança Socioambiental na Amazônia, Tefé, AM, Brasil. Bolsista PCI


Cristiane da Silveira, Universidade do Estado do Amazonas, Tefé, AM

Doutora em História Social pela Pontifícia Universidade Católica e São Paulo. Professora adjunta da Universidade do Estado do Amazonas, Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas, Tefé, AM, Brasil

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Publicado

06.07.2020

Edição

Seção

Artigos - Sociedade Meio Ambiente, Migrações e Risco