Maternidade e cuidado na pandemia entre brasileiras de classe média e média alta

Autores

DOI:

https://doi.org/10.1590/1806-9584-2022v30n286991

Palavras-chave:

maternidade, cuidado, gênero, pandemia de Covid-19

Resumo

A pandemia de Covid-19 incidiu diretamente sobre os arranjos e exercício do cuidado interpelado às mulheres. Investigou-se como mulheres mães exerceram esses cuidados, as mudanças ocorridas nesse exercício e os efeitos ressentidos, por meio de um survey online (N = 5.643). Responderam principalmente mulheres brancas de classe média a alta com escolarização avançada. Mesmo para esse segmento privilegiado, constatou-se que a pandemia exacerbou as desigualdades de gênero no cuidado doméstico e familiar. As mulheres encontravam-se sobrecarregadas e cansadas; sozinhas na encruzilhada entre trabalho profissional e trabalho de cuidados múltiplos; cuidando muito e sendo pouco cuidadas; muito disponíveis para outros e pouco disponíveis para si; e relataram culpa e sentimento de inadequação no cuidado e relação com os filhos.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Valeska Zanello, Universidade de Brasília

Professora Associada no Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília e no Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica e Cultura. Coordena o grupo "Saúde mental e Gênero", no CNPq. Orientadora de mestrado e doutorado no Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica e Cultura/UnB.

Carla Antloga, Universidade de Brasília

Professora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica e Cultura da Universidade de Brasília. Líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Psicodinâmica do Trabalho Feminino - Psitrafem. Mãe do Miguel e do Francisco.

Eileen Pfeiffer-Flores, Universidade de Brasília

Professora Adjunta no Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília e no Programa de Pós-Graduação em Ciências do Comportamento. Durante as primeiras etapas deste trabalho, encontrava-se no Departamento de Filosofia da King's College, Londres, na qualidade de Professora Visitante (bolsa de pós-doutorado - FAP-DF).

Iara Flor Richwin, Universidade de Brasília

Pesquisadora colaboradora no Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica e Cultura da UnB, onde realizou pesquisa de pós-doutorado. Participa do grupo de pesquisas em “Saúde Mental e Gênero”. Psicóloga na SEJUS/DF.

Referências

ANDREW, Alison et al. How are mothers and fathers balancing work and family under lockdown? The Institute for Fiscal Studies, 2020.

ARNTZ, Melanie; YAHMED, Sarra; BERLINGIERI, Francesco. “Working from Home and COVID-19: The Chances and Risks for Gender Gaps”. Intereconomics, v. 55, n. 6, p. 381-386, 2020.

AZEVEDO, Kátia; ARRAIS, Alessandra. “O Mito da Mãe Exclusiva e seu Impacto na Depressão PósParto”. Psicologia: Reflexão e Crítica, v. 19, n. 2, p. 269-276, 2006.

BADINTER, Elizabeth. Um amor conquistado: o mito do amor materno. Rio de Janeiro: Nova

Fronteira, 1985.

CARNEIRO, Sueli. Racismo, sexismo e desigualdade no Brasil. São Paulo: Selo Negro, 2011.

CARUSO, Maria Beatriz; RAMALHO, Manuela; PHILIPP, Juliana; BRAGAGNOLO, Cibele. “Maternity, science and pandemic: an urgent call for action!” Hoehnea, v. 47, n. 1, e812020, 2020.

COLLINS, Caitlyn; LANDIVAR, Liana; RUPPANNER, Leah; SCARBOROUGH, William. “COVID-19 and the gender gap in work hours”. Gender Work and Organization, v. 28, n. S1, p. 101-112, 2021.

CYRINO, Rafaela. “A gestão do trabalho doméstico entre as mulheres executivas. Um exemplo

de combinação de dados de uma pesquisa de Usos do Tempo com metodologia qualitativa”.

Revista de ciências sociais – Política & Trabalho, [S. l.] v. 34, 2011. Disponível em https://periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/politicaetrabalho/article/view/12187. Acesso em 21/11/2021.

DINIZ, Débora. “Mundo pós-pandemia terá valores feministas no vocabulário comum, diz

antropóloga Débora Diniz”. Folha de S. Paulo, 06 abr. 2020. Disponível em https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2020/04/mundo-pos-pandemia-tera-valores-feministas-novocabulario-comum-diz-antropologa-debora-diniz.shtml. Acesso em 21/11/2021.

DONATH, Orna. Mães arrependidas: uma outra visão da maternidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2017.

ERICKSON, Rebecca. “Why Emotion Work Matters: Sex, Gender, and the Division of Household

Labor”. Journal of Marriage and Family, v. 67, p. 337-351, May, 2005.

ETHERIDGE, Bem; SPANTIG, Lisa. “The Gender Gap in Mental Well-Being During the Covid-19 Outbreak: Evidence from the UK”. Institute for Social & Economic Research, n. 2020-08, June, 2020.

FEDERICI, Silvia. O Ponto Zero da Reprodução: Trabalho Doméstico, Reprodução e Luta Feminista. São Paulo: Editora Elefante, 2019.

FISCHER, Kimberly; ROBSON, John. Daily Routines in 22 Countries: Diary Evidence of Average Daily Time in Thirty Activities. Oxford, UK: Center for Time Use Research, University of Oxford, 2010.

FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 1996.

FREITAS, Rita de Cássia; ALMEIDA, Carla; LOLE, Ana. “As mulheres e a pandemia da COVID-19 na encruzilhada do cuidado”. In: LOLE, Ana; STAMPA, Inez; GOMES, Rodrigo (Orgs.). Para além da quarentena: reflexões sobre crise e pandemia. Rio de Janeiro: Mórula Editorial, 2020.

INSFRAN, Fernanda; MUNIZ, Ana. “Maternagem e Covid-19: desigualdade de gênero sendo

reafirmada na pandemia”. Diversitates International Journal, v. 12, n. 2, p. 26-47, julho/dezembro 2020.

IPEA - INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA. SIPS – Sistema de Indicadores de Percepção Social. Tolerância social à violência contra as mulheres. Brasília: IPEA, 2014.

IPEA - INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA. Desigualdades no mercado de trabalho e pandemia da covid-19. Brasília: IPEA, 2021.

KERR, Margaret; RASMUSSEN, Hannah; FANNING, Kerrie; BRAATEN, Sarah. “Parenting During

COVID-19: A Study of Parents’ Experiences Across Gender and Income Levels”. Family Relations, v. 70, n. 5, p. 1327-1342, December, 2021.

LAQUEUR, Thomas. Inventando o sexo: corpo e gênero dos gregos a Freud. Rio de Janeiro:

Relume - Dumará, 2001.

MARUANI, Margaret. “Les Sciences Sociales du Travail à L´épreuve des Différences de Sexe”. In: Jacqueline LAUFER; Catherine MARRY; Margaret MARUANI (Orgs.). Le travail du genre: les sciences sociales du travail à l’épreuve des différences de sexe. Paris: La Découverte/MAGE, 2003. p.163-180.

MELO, Hildete. A vida das mulheres em tempos de pandemia. Friedrich Ebert Stiftung, 13 de

abril de 2020. Disponível em https://brasil.fes.de/detalhe/a-vida-das-mulheres-em-tempos-depandemia/. Acesso em 21/11/2021.

OBSERVADF. DF: mulheres foram as que mais perderam emprego durante pandemia. 11 de

novembro de 2021. Disponível em https://observadf.org.br/2021/11/11/unb-esta-entre-as-dezinstituicoes-publicas-com-mais-graduacoes-cinco-estrelas-em-ranking-nacional/. Acesso em 21/11/2021.

OLIVEIRA, Anita. “A espacialidade aberta e relacional do lar: a arte de conciliar maternidade,

trabalho doméstico e remoto na pandemia de covid-19”. Rev. Tamoios, v. 16, n. 1, Especial

COVID19, p. 154-166, maio 2020.

PARENT IN SCIENCE. Produtividade acadêmica durante a pandemia: efeitos de gênero, raça e parentalidade. Parent in Science, 2020. Disponível em https://327b604e-5cf4-492b910b-e35e2bc67511.filesusr.com/ugd/0b341b_81cd8390d0f94bfd8fcd17ee6f29bc0e.pdf?index=true. Acesso em 21/11/2021.

SANTOS, Juliana et al. “A vivência da maternidade em meio à pandemia”. Global Academic

Nursing Journal, n. 2 (Spe.1), e95, 2021. DOI: 10.5935/2675-5602.20200095. Disponível em https://globalacademicnursing.com/index.php/globacadnurs/article/view/175. Acesso em 21/11/2021.

SOF - SEMPRE VIVA ORGANIZAÇÃO FEMINISTA. SEM PARAR: o trabalho e a vida das mulheres

na pandemia. SOF, 2021. Disponível em https://mulheresnapandemia.sof.org.br/. Acesso em

/11/2021.

SERAFIM, Antonio et al. “Exploratory study on the psychological impact of COVID-19 on the

general Brazilian population”. PLOS ONE, v. 16, n. 2, e0245868, 2021. DOI: 10.1371/journal.

pone.0245868. Disponível em https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.

pone.0245868#sec012. Acesso em 21/11/2021.

SOUZA, Lorena de; MACHADO, Luiza. “Casa, maternidade e trabalho no distanciamento social:

a “pandemia” da sobrecarga de trabalho para as mulheres”. Revista da ANPEGE, v. 17, n. 32, p.

-308, 2021.

TRONTO, Joan. “Care démocratique et démocraties du care”. In: MOLINIER, Pascal; LAUGIER,

Sandra; PAPERMAN, Patrícia. Qu’est-ce que le care?. Paris: Payot & Rivage, 2009. p. 35-55.

TURER, Shari. “The Myths of Motherhood”. In: O’REILLY, Andrea (Org.). Maternal Theory: Essential Readings. Toronto: Demeter Press, 2007, Edição do Kindle, cap. 21.

USSHER, Jane. The madness of women. Nova York: Routledge, 2011.

VIANNA, Cláudia Pereira. “A feminização do magistério na educação básica e os desafios para

a prática e a identidade coletiva docente”. In: YANNOULAS, Silvia. (Org). Trabalhadoras. Análise

da feminização das profissões e ocupações. Brasília: Abaré, 2013, p. 159-180.

ZAMARRO, Gema; PRADOS María. “Gender differences in couples’ division of childcare, work and mental health during COVID-19”. Review of Economics of Household, v. 19, p. 11-40, Janeiro 2021.

ZANELLO, Valeska. “Dispositivo materno e processos de subjetivação: desafios para a Psicologia”. In: ZANELLO, Valeska; PORTO, Madge (Orgs.). Aborto e (Não) Desejo de Maternidade(s): questões para a Psicologia. Brasília: CFP, 2016. p. 103-122.

ZANELLO, Valeska. Saúde mental, gênero e dispositivos: cultura e processos de subjetivação.

Curitiba: Appris, 2018.

Downloads

Publicado

2022-09-14

Como Citar

Zanello, V., Antloga, C., Pfeiffer-Flores, E., & Richwin, I. F. (2022). Maternidade e cuidado na pandemia entre brasileiras de classe média e média alta. Revista Estudos Feministas, 30(2). https://doi.org/10.1590/1806-9584-2022v30n286991

Edição

Seção

Fazendo Gênero em tempos de pandemia

Artigos Semelhantes

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 > >> 

Você também pode iniciar uma pesquisa avançada por similaridade para este artigo.