Pela desfamilização da política de assistência social no Brasil

Autores

  • Mariana Prandini Assis
  • Marina Brito Pinheiro

DOI:

https://doi.org/10.1590/1806-9584-2023v31n292878

Palavras-chave:

Política de assistência social, Brasil contemporâneo, Análise crítica de discurso, Leis, regulamentações e diretrizes, Abolição da família

Resumo

Este artigo busca problematizar o lugar e o papel da família na política de assistência social brasileira. A partir da análise crítica de conteúdo de leis, regulamentações e diretrizes federais a partir da Constituição de 1988, apontamos as contradições persistentes no campo da assistência social que, por um lado, propõe-se a engendrar autonomia e dignidade individuais, mas por outro, implementa ações com foco acentuado na família e na sua manutenção como instituição central de sociabilidade humana. Argumentamos que, ao longo da implementação da política, observa-se um processo de familização, por meio do qual a família foi se tornando seu objeto central e o veículo por meio do qual os seus outros objetivos são implementados. Valendo-nos de teorias feministas que propõem a abolição da família, realizamos um exercício de imaginar um processo inverso, de desfamilização da política de assistência social no Brasil.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

ALCHORNE, Sindely. “20 anos de LOAS: análise das normativas nacionais”. O Social em Questão, Rio de Janeiro, v. 16, n. 30, p. 25-46, 2013. Disponível em http://osocialemquestao.ser.puc-rio.br/media/OSQ_30_Sindely_2.pdf. Acesso em 09/05/2023.

ANDRADE, Priscilla Maia de; PEREIRA, Lucélia Luiz. “A (In)visibilidade de Gênero e Raça na Assistência Social: estudo de caso nos Centros de Referência de Assistência Social”. O Social em Questão, Rio de Janeiro, v. 22, n. 45, p. 57-79, 2019. Disponível em http://osocialemquestao.ser.puc-rio.br/media/OSQ_45_art_3.pdf. Acesso em 09/05/2023.

BARTHOLO, Letícia; PASSOS, Luana; FONTOURA, Natália. “Bolsa Família, autonomia feminina e equidade de gênero: o que indicam as pesquisas nacionais?”. Cadernos Pagu, Campinas, n. 55, e195525, 2019. Disponível em https://www.scielo.br/j/cpa/a/qZYLBdhpfMRJVjgMDpQfXff/?lang=pt. Acesso em 09/05/2023.

BRASIL. Lei Nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993. Lei Orgânica da Assistência Social. Brasília: Congresso Nacional, 1993. Disponível em https://bit.ly/2WsWkev. Acesso em 13/05/2020.

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Política Nacional de Assistência Social (PNAS). Brasília: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, 2004.

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Norma Operacional Básica (NOB/SUAS). Brasília: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, 2005.

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Norma Operacional Básica de Recursos Humanos do Sistema Único de Assistência Social (NOB-RH/Suas). Brasília: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, 2007.

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social. Orientações Técnicas: Centro de Referência de Assistência Social. Brasília: Ministério do Desenvolvimento Social, 2009a.

BRASIL. Conselho Nacional de Assistência Social. Resolução N. 109/2009. Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais. Brasília: Conselho Nacional de Assistência Social, 2009b.

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Orientações Técnicas: Centro de Referência Especializado de Assistência Social - CREAS. Brasília: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, 2011.

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social. Orientações Técnicas sobre o PAIF volume 1. Brasília: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, 2012a.

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social. Orientações Técnicas sobre o PAIF volume 2. Brasília: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, 2012b.

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Norma Operacional Básica (NOB/SUAS). Brasília: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, 2012c.

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social. Fundamentos ético-políticos e rumos teórico-metodológicos para fortalecer o Trabalho Social com Famílias na Política Nacional de Assistência Social. Brasília: Ministério do Desenvolvimento Social, 2016a.

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social. Curso de atualização sobre a organização e oferta dos serviços da proteção social especial. Brasília: Ministério do Desenvolvimento Social, 2016b.

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social. Caderno de orientações: Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família e Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos. Brasília: Ministério do Desenvolvimento Social, 2016c.

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social. Curso de atualização sobre especificidade e interfaces da proteção social básica do SUAS. Brasília: Ministério do Desenvolvimento Social, 2017.

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social. Boletim Mulheres no SUAS. Brasília: Ministério do Desenvolvimento Social, 2018. (Boletim Vigilância Socioassistencial, n. 5) Disponível em https://bit.ly/2QP9lMw. Acesso em 28/03/2020.

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social. Boletim Mulheres no SUAS . Brasília: Ministério do Desenvolvimento Social, 2019. (Boletim Vigilância Socioassistencial, n. 7) Disponível em http://blog.mds.gov.br/redesuas/wp-content/uploads/2019/03/Boletim-7-Mulheres-no-SUAS-2-1.pdf. Acesso em 18/12/2022.

BRASIL. Decreto Nº 10.987, de 8 de março de 2022. Institui o Programa Mães do Brasil. Brasília: Congresso Nacional, 2022. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2022/decreto/D10987.htm. Acesso em 10/08/2023.

BRONZO, Carla. “Vulnerabilidade, empoderamento e metodologias centradas na família: conexões e uma experiência para reflexão”. In: SPOSATI, Aldaiza. Concepção e gestão da proteção social não contributiva no Brasil. Brasília: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome/Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, 2009. p. 171-201.

BROWN, Wendy. Undoing the Demos: Neoliberalism’s Stealth Revolution. New York: Zone Books, 2015.

BUTLER, Judith. “Regulações de Gênero”. Cadernos Pagu, Campinas, n. 42, p. 249-274, 2014. Disponível em https://www.scielo.br/j/cpa/a/Tp6y8yyyGcpfdbzYmrc4cZs/?format=html&lang=pt. Acesso em 09/05/2023.

CALVI, Valéria; CÔRTES, Soraya Vargas. “Feminismo e regimes de bem-estar social: da crítica ao conceito de ‘cidadania’ à constituição da categoria de desfamilizaçao”. In: LIMA, Luciana Leite; SCHABBACH, Leticia Maria. Políticas públicas: questões teórico-metodológicas emergentes. Porto Alegre: Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul/CEGOV, 2020. p. 109-127.

CAMPOS, Carmen Hein de; BERNARDES, Márcia Nina. “Ideologia de gênero e o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos”. Revista Estudos Feministas, v. 30, 2022. Disponível em https://www.scielo.br/j/ref/a/43NqLDdCy6Gjzb8BSPfJf5H/. Acesso em 10/08/2023.

CARLOTO, Cássia; MARIANO, Silvana. “A família e o foco nas mulheres na política de assistência social”. Sociedade em Debate, Pelotas, v. 14, n. 2, p. 153-168, 2008. Disponível em https://bit.ly/3Mch30h. Acesso em 09/05/2023.

CARLOTO, Cássia Maria; MARIANO, Silvana Aparecida. “No meio do caminho entre o privado e o público: um debate sobre a papel das mulheres na política de assistência social”. Revista Estudos Feministas, v. 18, n. 2, p. 451-471, 2010. Disponível em https://periodicos.ufsc.br/index.php/ref/article/view/S0104-026X2010000200009/13631. Acesso em 10/06/2023.

CARMONA, Daniele; SOUZA, Gislaine; SANTOS, Fernanda. “Transversalidade de gênero e mulheres na política de assistência social: uma análise documental”. Revista Sociais e Humanas, Santa Maria, v. 32, n. 2, p. 69-88, 2019. Disponível em https://periodicos.ufsm.br/sociaisehumanas/article/view/34700/pdf. Acesso em 09/05/2023.

ESPING-ANDERSEN, Gosta. The three worlds of welfare. Princeton: Princeton University Press, 1990.

ESPING-ANDERSEN, Gosta. Social Foundations of Postindustrial Economies. Oxford/New York: Oxford University Press, 1999.

FEDERICI, Silvia. O Ponto Zero da Revolução: Trabalho Doméstico, Reprodução e Luta Feminista. São Paulo: Elefante, 2019.

FRASER, Nancy. “Social justice in the age of identity politics: redistribution, recognition and participation”. In: FRASER, Nancy; HONNETH, Axel. Redistribution or Recogniton? A political-philosophical exchange. London/New York: Verso, 2003. p. 7-96.

GUTIERRES, Kellen Alves. Projetos políticos, trajetórias e estratégias: a política de assistência social entre o partido e o Estado. 2015. Doutorado (Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais) - Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brasil.

IPEA. INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA. Políticas Sociais: acompanhamento e análise. Brasília, n. 25, 2018.

JACCOUD, Luciana; BICHIR, Renata; MESQUITA, Ana Cleusa. “O SUAS na proteção social brasileira”. Novos Estudos CEBRAP, São Paulo, v. 36. n. 02, p. 37-53, 2017. Disponível em https://www.scielo.br/j/nec/a/Vkv7r47xGw7Hd6XmZdh7HfL/?forma. Acesso em 09/05/2023.

KUNZ, Rahel. The political economy of global remittances: gender and governmentality. New York: Routledge, 2011.

MARIANO, Silvana Aparecida; CARLOTO, Cássia Maria. “Gênero e combate à pobreza: programa bolsa família”. Revista Estudos Feministas, v. 17, n. 3, p. 901-908, 2009. Disponível em https://periodicos.ufsc.br/index.php/ref/article/view/S0104-026X2009000300018/12147. Acesso em 10/06/2023.

MELLO, Luiz. “Familismo (anti)homossexual e regulação da cidadania no Brasil”. Revista Estudos Feministas, v. 14, n. 2, p. 497-508, 2006.

MEYER, Dagmar Estermann; KLEIN, Carin; FERNANDES, Letícia Prezzi. “Noções de família em políticas de ‘inclusão social’ no Brasil contemporâneo”. Revista Estudos Feministas, v. 20, n. 2, p. 433-439, 2012. Disponível em https://periodicos.ufsc.br/index.php/ref/article/view/S0104-026X2012000200005/22843. Acesso em 10/06/2023.

MIOTO, Regina Célia Tamaso; CAMPOS, Marta Silva; CARLOTO, Cássia Maria. Familismo direitos e cidadania: contradições da política social. São Paulo: Cortez, 2015.

PAIVA, Andrea B.; PINHEIRO, Marina Brito; LÍCIO, Elaine Cristina; NATALINO, Marco. “Assistência social”. Políticas Sociais: acompanhamento e análise, Brasília, n. 28, p. 65-107, 2021.

PAIVA, Andrea B.; PINHEIRO, Marina Brito; LÍCIO, Elaine Cristina; DIREITO, Denise do Carmo. “Assistência social”. Políticas Sociais: acompanhamento e análise, Brasília, n. 29, p. 1-53, 2022.

QUINONEIRO, Camila; ISHIKAWA, Carlos T.; NASCIMENTO, Rosana Cristina; MANTOVAN, Rosimeire Aparecida. “Princípios e diretrizes da Assistência Social: da LOAS à NOB SUAS”. O Social em Questão, Rio de Janeiro, v. 16, n. 30, p. 47-69, 2013. Disponível em http://osocialemquestao.ser.puc-rio.br/media/OSQ_30_Quinonero_3.pdf. Acesso em 09/05/2023.

TORRES, Iraildes Caldas. As primeiras-damas e a assistência social: relações de gênero e poder. São Paulo: Cortez, 2002.

VAITSMAN, Jeni; ANDRADE, Gabriela Rieveres Borges de; FARIAS, Luis Otávio. “Proteção social no Brasil: o que mudou na assistência social após a Constituição de 1988”. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 14, n. 3, p. 731-741, 2009. Disponível em https://www.scielo.br/j/csc/a/kv7MJrxjLCWw7xkK5Z4nh5M/?lang=pt#:~:text=Alguns%20efeitos%20da%20expans%C3%A3o%20do,sistema%20p%C3%BAblico%20de%20assist%C3%AAncia%20social. Acesso em 09/05/2023.

WEEKS, Kathi. The problem with work: Feminism, Marxism, Antiwork politics, and Postwork imaginaries. Durham: Duke University Press, 2011.

WEEKS, Kathi. “Abolition of the family: the most infamous feminist proposal”. Feminist Theory, p. 1-21, 2021. Disponível em https://doi.org/10.1177/14647001211015841. ISSN 1741-2773. DOI: 10.1177/14647001211015841. Acesso em 08/05/2023.

ZIMMERMANN, Clovis Roberto. “Conservadorismo como linha auxiliar do liberalismo nas políticas sociais do Governo Bolsonaro”. In: ZIMMERMANN, Clovis; UZEDA, Danilo. Políticas sociais no Governo Bolsonaro: entre descasos, retrocessos e desmontes. Buenos Aires/Salvador: CLACSO, 2022. p. 37-51.

Downloads

Publicado

2023-12-06

Como Citar

Prandini Assis , M. ., & Brito Pinheiro , M. . (2023). Pela desfamilização da política de assistência social no Brasil. Revista Estudos Feministas, 31(2). https://doi.org/10.1590/1806-9584-2023v31n292878

Edição

Seção

Seção Temática Feminismos: Atuação Em Rede, Crise Democrática E Possibilidades Futuras

Artigos Semelhantes

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 > >> 

Você também pode iniciar uma pesquisa avançada por similaridade para este artigo.

Artigos mais lidos pelo mesmo(s) autor(es)