Pardismo, Colorismo e a “Mulher Brasileira”: produção da identidade racial de mulheres negras de pele clara

Autores

DOI:

https://doi.org/10.1590/1806-9584-2023v31n283015

Palavras-chave:

Pardismo, Colorismo, Racismo, Embranquecimento, Negras de pele clara

Resumo

Neste artigo, baseado em estudos, leituras e discussões ocorridas em reuniões de orientação coletiva entre as autoras, trazemos reflexões preliminares à realização de pesquisa sobre a população parda e o tema do “pardismo” na sociedade brasileira. Buscamos refletir a respeito dos processos de invisibilização da negritude com base na ambiguidade de traços fenotípicos. Como todas as opressões que operam na sociedade ocidental colonial, a violência simbólica da desracialização, combinada com as opressões de gênero, pode provocar efeitos psicossociais significativos em pessoas que ocupam posições de gênero não hegemônicas. Com foco em mulheres negras de pele clara, procuramos refletir sobre as formas como a negação da identidade racial incide sobre os processos de subjetivação dessas mulheres em uma sociedade marcada pela colonialidade. Refletimos ainda sobre a adequação do conceito de “colorismo” à realidade brasileira.

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Biografia do Autor

Mara Coelho de Souza Lago, Universidade Federal de Santa Catarina

Professora Emérita da Universidade Federal de Santa Catarina, mestre em Antropologia Social (UFSC) e doutora em Psicologia da Educação (UNICAMP). É professora titular aposentada da UFSC, onde atua como voluntária nos Programas de Pós-Graduação em Psicologia e Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas. Participa do Instituto de Estudos de Gênero (IEG/UFSC) e da coordenação editorial da Revista Estudos Feministas.

Débora Pinheiro da Silva Montibeler, Universidade Federal de Santa Catarina

Psicóloga formada pela Universidade Federal de Santa Catarina e mestranda no Programa de Pós-graduação da mesma instituição. Ela desenvolve pesquisa sobre pardismo, colorismo, processos de subjetivação, ideologia do embranquecimento e relações raciais, com enfoque em gênero e decolonialidade.

Raquel de Barros Pinto Miguel, Universidade Federal de Santa Catarina

Possui graduação e mestrado em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Doutora em Ciências Humanas pela mesma universidade. Estágio pós-doutoral pela Université Paris Diderot - Paris 7 e pela Université Paris 13 - Sorbonne Paris Cité. Docente do Departamento de Psicologia da UFSC. Coordenadora do Núcleo de Estudos e Ações em Gênero, Educação, Mídia e Subjetividade (NUGEMS).

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Publicado

2023-12-06

Como Citar

Lago, M. C. de S. ., Montibeler, D. P. da S. ., & Miguel, R. de B. P. . (2023). Pardismo, Colorismo e a “Mulher Brasileira”: produção da identidade racial de mulheres negras de pele clara. Revista Estudos Feministas, 31(2). https://doi.org/10.1590/1806-9584-2023v31n283015

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