História e racialização do gênero no pós-abolição uruguaio: o ativismo de Iris Cabral e Maruja Pereyra como parte do repertório das lutas por cidadania (Montevidéu, 1930-1950)
DOI:
https://doi.org/10.5007/1984-9222.2024.e101951Palavras-chave:
racialização do gênero, generificação da raça, UruguaiResumo
O artigo analisa o ativismo de Iris Cabral e Maruja Pereyra na cidade de Montevidéu (UY) à luz do pós-abolição nas Américas como problema histórico. Utiliza como fontes textos de autoria de ambas as mulheres publicadas no periódico negro Nuestra Raza (que circulou em 1917 na cidade de San Carlos; e entre 1933 e 1948 na cidade de Montevidéu), bem como sobre elas e sobre atividades por elas desenvolvidas no mesmo periódico e no Órgano del Partido Autóctono Negro (que circulou em 1937 e era o porta-voz do partido político de recorte racial homônimo). A análise das fontes, manejadas à luz das discussões sobre interseccionalidade, em diálogo crítico com a produção historiográfica contemporânea, permite afirmar que as ativistas eram mulheres negras, empregadas domésticas, colaboradoras dos órgãos referenciados e ativas no movimento sufragista daquele país cujas atuações estiveram imbricadas com lutas por cidadania, estendidas em um aspecto mais geral às Américas. Os resultados elucidam aspectos da luta das mulheres negras a partir dos contornos políticos por elas estabelecidos, o que contribui para uma escrita da história das Américas que desestabiliza as noções de igualdade, e para a historicização de como a racialização do gênero e a generificação da raça estiveram presentes e marcaram as relações sociais no Uruguai, imbricando economia e política.
Referências
ALBUQUERQUE, Wlamyra R. de. O jogo da dissimulação: Abolição e cidadania negra no Brasil. São Paulo: Cia das Letras, 2009.
ANDREWS, George Reid. Negros en la nación blanca: historia de los afro-uruguayos, 1830-2010. Montevideo: Linardi y Risso, 201.
ANZALDÚA, Gloria. "Falando em línguas: uma carta para as mulheres escritoras do Terceiro Mundo". Revista Estudos Feministas, v. 8, n. 1, p. 229-236, 2000.
ANZALDÚA, Gloria. Borderlands/La Frontera: The New Mestiza. San Francisco: Aunt Lute Books, 1987.
CARNEIRO, Sueli. Enegrecer o feminismo: a situação da mulher negra na América Latina a partir de uma perspectiva de gênero. Racismos contemporâneos. Rio de Janeiro: Takano Editora, v. 49, p. 49-58, 2003.
CATES, David. Scottsboro Boys. North Mancato (Minessota): ABDO, 2012.
CHABATURA, Gabriela Maria. María Esperanza Barrios: a voz insurgente da mulher negra no jornalismo uruguaio (1912-1917). Encuentros Uruguayos, v. 16, n. 1, 2023.
CHAGAS IGLESIAS, Karla. Trabajadoras, escritoras y ciudadanas. Aportes para un estudio de las mujeres afrouruguayas (1930-1950). Montevideo, Universidad de la República, Tesis de Maestría en Historia Rioplatense, 2021.
CHAGAS, Karla; STALLA, Natalia. Recuperando la memoria: Afrodescendientes en la frontera Uruguayo-brasileña a mediados del siglo XX. Montevideo: Mastergraf, 2009.
CIRIO, Pablo Norberto. Tinta negra en el gris del ayer: Los afroporteños a través de sus periódicos entre 1873 y 1882. Buenos Aires: Editorial Teseo, 2009.
COLLINS, Patricia Hill. Bem mais que ideias: a interseccionalidade como teoria social crítica. São Paulo: Boitempo Editorial, 2022.
COLLINS, Patricia Hill. Pensamento feminista negro: conhecimento, consciência e a política do empoderamento. Boitempo editorial, 2019.
DAMONTE, Ana. Variables estadísticas relevantes durante el siglo XX. 2001. Instituto Nacional de Estadística. Disponível em: https://www5.ine.gub.uy/documents/Demograf%C3%ADayEESS/PDF/Informes%20Demogr%C3%A1ficos/Variables%20Estad%C3%ADsticas%20Relevantes%20Durante%20el%20Siglo%20XX%20-%201%20Poblaci%C3%B3n.pdf. Acesso em: 25 jul. 2024.
GASCUE, Alvaro. Un intento de organización política de la Raza Negra en Uruguay. Revista Hoy es Historia, ano 5, n. 27, Montevideo, junho de 1988, p. 47-54.
HARTMAN, Saidiya. Tempo da escravidão. Contemporânea: Revista de Sociologia da UFSCar, São Carlos, v. 10, n. 3, p. 927-948, 2020.
JOSIOWICZ, Alejandra. Gênero e história. Estudos Históricos (Rio de Janeiro), v. 33, n. 70, p.221-226, 2020.
KILOMBA, Grada. Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano. Editora Cobogó, 2020.
LA LUZ BAQUETE, Micaela. Silenciadas: análisis sobre la participación de las afrouruguayas en la prensa escrita (1945-1955). Montevideo: Universidad de la República, Trabajo final de grado Licenciatura en comunicación, 2024.
LUGONES, María. Toward a decolonial feminism. Hypatia, v. 25, n. 4, p. 742-759, 2010.
LUGONES, María. Radical multiculturalism and women of color feminisms. Journal for Cultural & Religious Theory, v. 13, n. 1, 2014.
MARTÍNEZ, Mónica García. Mujeres afrouruguayas en el contexto del Primer Congreso Nacional de Mujeres del Uruguay (1936). Corpus. Archivos virtuales de la alteridad americana, v. 8, n. 2, 2018.
NAHUM, Benjamín. Manual de História del Uruguay: Tomo II- 1903-2010. Montevideo (Uruguay): Ediciones de la Banda Oriental, 2014.
NASCIMENTO, Álvaro Pereira. Trabalhadores negros e o" paradigma da ausência": contribuições à História Social do Trabalho no Brasil. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 29, n. 59, p. 607-626, 2016.
NUNES, Hariagi Borba. Contrabandeio de subjetividades fronteiriças: práticas de resistência nas trajetórias de mulheres racializadas na cidade binacional de Aceguá (Uruguai-Brasil) nos séculos XX e XXI. 2024. Porto Alegre, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Tese (Doutorado História), 2024.
OLIVA, María Elena. “Queremos nuestra emancipación y la conseguiremos”: mujeres en la prensa negra/afro de Cuba y Uruguay durante la primera mitad del siglo XX. Perspectivas Afro, v. 1, n. 1, p. 83-109, 2021.
PALERMO, Eduardo R. Prensa y política afro uruguaya: Nuestra Raza y el Partido Autóctono Negro-primera mitad del siglo XX. Revista Prâksis, v. 1, p. 07-31, 2019.
PEDRO, Joana Maria. Relações de gênero como categoria transversal na historiografia contemporânea. Topoi (Rio de Janeiro), v. 12, p. 270-283, 2011.
PINSKY, Carla Bassanezi. Estudos de gênero e história social. Revista Estudos Feministas, v. 17, n. 01, p. 159-189, 2009.
PINTO, Ana Flávia Magalhães. Imprensa negra no Brasil do século XIX. Selo Negro, 2014.
PORRINI, Rodolfo. Izquierdas uruguayas y algunas experiencias educativas y formativas: Montevideo, 1920-1950. Educação Unisinos, v. 20, n. 2, p. 146-154, 2016.
PORRINI, Rodolfo. Trayectorias laborales, relatos de vida y mundo del trabajo (1940-1950). Segundas Jornadas de Historia Regional Comparada, p. 1-24, 2005. Disponível em https://cdn.fee.tche.br/jornadas/2/H7-08.pdf Acesso em: 3 ago. 2024.
RODRIGUES, Iliriana Fontoura. Em terras de gente preta se colhem imagens: Acervos Fotográficos de Famílias Negras Rurais (Timbaúva/RS). 2021. Dissertação (Mestrado em Cultura e Territorialidades) - Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2021.
RODRÍGUEZ VILLAMIL, Silvia; SAPRIZA, Graciela. Feminismo y política: Un análisis crítico del proceso de aprobación del voto femenino en el Uruguay. Hoy es Historia – Revista Bimestral de Historia Nacional e Iberoamericana, año 1, n 4, p. 16-31, junio-julio 1984.
RODRÍGUEZ VILLAMIL, Silvia; SAPRIZA, Graciela. Mujer, Estado y política en el Uruguay del siglo XX. Montevideo: Ediciones de la Banda Oriental, 1984.
RODRÍGUEZ, Hernán. Memoria e identidad en el relato histórico de los intelectuales afrouruguayos del Centenario (1925-1930). Claves. Revista de Historia, v. 5, n. 9, p. 145-173, 2019.
RODRÍGUEZ, Romero Jorge. Mbundo, Malungo A Mundele: Historia del movimiento Afrouruguayo y sus alternativas de desarrollo. Montevideo: Rosebud Ediciones, 2006.
SERRAT, Alberto Britos. Antología de poetas negros uruguayos, volume 1. Ediciones Mundo Afro, 1990.
SMITH, Christen. Lembrando Beatriz Nascimento: quilombos, memória e imagens negras radicais. In: Chalhoub, Sidney; PINTO, Ana Flávia Magalhães. Pensadores negros-Pensadoras negras: Brasil séculos XIX e XX. Belo Horizonte: Fino Traço Editora, 2020. p.371-385.
TERRA, Paulo Cruz; SANTOS SOUZA, Robério. Relações raciais e racismo nos mundos do trabalho. Revista Mundos do Trabalho, Florianópolis, v. 15, p. 1–6, 2023.
TILLY, Louise A. Gênero, história das mulheres e história social. Cadernos Pagu, n. 3, p. 28-62, 1994.
TROCHÓN, Ivette. Las rutas de Eros: la trata de blancas en el Atlántico Sur: Argentina, Brasil y Uruguay (1880-1932). Montevideo: Taurus, 2006.
URUGUAI. El Libro del Centenario del Uruguay, 1825-1925. Montevideo: Agencia Publicidad Capurro & Cía. 1925.
URUGUAY. Instituto Nacional de Estadística. Series históricas: Censos 1852 – 2011. Población en el País, según departamento 1852 – 2011. Disponível em: https://www.gub.uy/instituto-nacional-estadistica/datos-y-estadisticas/estadisticas/cuadros-censales-comparativos. Acesso em: 25 jul. 2024.
VALDES, Ildefonso Pereda. La Línea de Color – ensayos afro-americanos. Santiago de Chile: ediciones Ercilla, 1938.
VÁZQUEZ, Alesandra Martínez. Roles y representaciones de la mujer obrera según la publicación sindical¡ Lucha! de la industria de la carne (Uruguay), 1946-1952. Claves. Revista de Historia, v. 5, n. 8, p. 153-179, 2019.
VOGEL, Todd (Ed.). The Black press: New literary and historical essays. Rutgers University Press, 2001.
XAVIER, Giovana. Brancas de almas negras? Beleza, racialização e cosmética na imprensa negra pós-emancipação (EUA, 1890-1930). 2012. Tese (Doutorado em história) – Unicamp, Campinas, 2012.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Os autores cedem à Revista Mundos do Trabalho os direitos exclusivos de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution (CC BY) 4.0 International. Esta licença permite que terceiros remixem, adaptem e criem a partir do trabalho publicado, atribuindo o devido crédito de autoria e publicação inicial neste periódico. Os autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não exclusiva da versão do trabalho publicada neste periódico (ex.: publicar em repositório institucional, em site pessoal, publicar uma tradução, ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial neste periódico.