Vagaroso, árduo e silencioso: o racismo na experiência de trabalho de um ativista negro em São Paulo (1900-1930)

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/1984-9222.2023.e95486

Palavras-chave:

jornais negros, trabalho, pós-Abolição

Resumo

Este artigo emprega métodos biográficos, complementados por meio de imaginação histórica, para ilustrar as inúmeras maneiras pelas quais o racismo moldou as experiências de trabalho dos sujeitos negros na São Paulo do início do seculo xx. Concentrando-se na labuta de uma das principais figuras do associativismo negro, Frederico Baptista de Souza, quando primeiro ele mostra como a imprensa negra foi um órgão fundamental para se observar o racismo no mundo do trabalho. Jornalistas negros narraram os empenhos de diversos grupos — de trabalhadores domésticos a funciona?rios públicos — em uma época em que proliferavam os esforços para apagar as contribuições dos indivíduos negros a sociedade. Em segundo lugar, ao justapor as discussões publicas de Frederico sobre questões raciais com sua experiência pessoal de trabalho, ganhamos uma perspectiva mais completa de como o racismo afetou o trabalho de pessoas negras. Como guarda da Faculdade de Direito (FD) da cidade, Frederico era responsável por patrulhar o prédio da escola. Durante esse processo, ele encontrou diariamente os restos mortais de Jacinta Maria de Santana, uma mulher negra cujo corpo quase mumificado era exposto publicamente em uma sala de aula. Por 19 anos Frederico testemunhou como alunos e professores brancos da escola humilhavam o cada?ver da mulher. O silêncio subsequente desse homem negro, pessoalmente bem-sucedido e politicamente ativo, foi intencional. As possíveis represálias por desafiar esse erro eram muito graves para o jovem trabalhador negro e sua família. O relativo privilégio que ele tinha como funcionário publico não o protegeria do racismo arraigado das instituições brasileiras que silenciariam reflexivamente a dissidência. Em suma, as experiências de Frederico nos permitem compreender melhor a dinâmica do racismo no âmbito do trabalho em sua época; elas também nos oferecem reflexões sobre a longa história do racismo silencioso dentro de instituições públicas no Brasil após a abolição.

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Publicado

2023-12-06

Como Citar

TIEDE, Livia Maria. Vagaroso, árduo e silencioso: o racismo na experiência de trabalho de um ativista negro em São Paulo (1900-1930). Revista Mundos do Trabalho, Florianópolis, v. 15, p. 1–19, 2023. DOI: 10.5007/1984-9222.2023.e95486. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/mundosdotrabalho/article/view/95486. Acesso em: 3 dez. 2024.

Edição

Seção

Dossiê: Relações raciais e racismo nos mundos do trabalho

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