Brecha camponesa e jardins de resistência: tenacidade ambiental entre trabalhadores rurais na Zona canavieira do Nordeste do Brasil, século XX
DOI:
https://doi.org/10.5007/1984-9222.2025.e102038Palavras-chave:
Açúcar, Brecha camponesa, EurocentrismoResumo
A história ambiental constitui um recurso inovador na busca de uma perspectiva liberando a história das amarras do velho eurocentrismo. Com efeito, ela pode permitir o resgate de realidades naturais e humanas da não-Europa, como diria Blaut, da subalternidade à qual as bases axiomáticas da disciplina eurocêntrica e evolucionista as condenam. Ensaiar-se-á o exercício com o exemplo dos sítios e roçados dos trabalhadores rurais da zona canavieira de Pernambuco. As tradições camponesas das populações, de origem e deportadas, formaram, séculos a fio, trabalhadores de ambos os sexos enquanto produtores de abastecimentos diversos (comida, roupas, remédios etc.) para aqueles submetidos a uma situação concentracionária.
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