Palavrões e turpilóquios à vontade: os serviços de streaming e a atualização das normas de tradução para legendagem
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-7968.2024.e99146Palavras-chave:
tradução audiovisual, legendagem interlinguística, normas de tradução, serviços de streamingResumo
Redes e canais de TV tradicionais, como RTP [Rádio e Televisão de Portugal] e SIC [Sociedade Independente de Comunicação] em Portugal e Globosat e HBO [Home Box Office] no Brasil, têm uma abordagem mais conservadora em suas diretrizes gerais de legendagem no que diz respeito à norma padrão da língua (Ramos Pinto, 2010) e ao uso de palavrões e turpilóquios (HBO, 2001). Entre as orientações gerais para os tradutores de legendas estão, por exemplo, amenizar a linguagem de baixo calão e respeitar a norma culta do português. Com a chegada da Netflix ao mercado de legendagem, notou-se um afrouxamento dessas regras. O serviço de streaming permite o uso de palavrões sem qualquer tipo de censura e a redação de legendas mais idiomáticas e coloquiais (Netflix, 2023). O presente artigo pretende identificar orientações explícitas ou implícitas que justifiquem essa mudança de abordagem na confecção das legendas do serviço de streaming para o português. Para isso, procedemos ao levantamento e à análise das diretrizes gerais de legendagem de dois provedores de conteúdo audiovisual: HBO Latin America (2001) e Netflix (2023), lançando mão do conceito de normas de tradução (Toury, 1978) para detectar três conjuntos distintos de normas que atualmente coexistem no sistema de tradução audiovisual do português. O artigo discute ainda se as traduções amadoras, que costumam ignorar os parâmetros profissionais da indústria, exigem do espectador um esforço cognitivo maior. Como conclusão, sugerimos três explicações para o comportamento não normativo por parte dos tradutores da Netflix: (1) o desconhecimento das normas restritivas de outros agentes da indústria de legendagem, pois, com o advento da Netflix, uma nova geração de tradutores entrou no mercado; (2) o fato de os assinantes do serviço de streaming terem voz ativa na produção e na pós-produção dos programas que consomem; (3) as diretrizes linguísticas menos normativas da Netflix de fato deram espaço a um maior grau de liberdade às soluções tradutórias.
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