“Herdeiro das gloriosas tradições de luta dos homens e mulheres da sua raça”: trabalhadores, política, classe e raça na Bahia no pós-Segunda Guerra Mundial
DOI:
https://doi.org/10.5007/1984-9222.2023.e95429Palavras-chave:
PCB, Operariado negro, Questão racialResumo
Nas eleições para a Assembleia Nacional Constituinte, em dezembro de 1945, o ativista portuário Juvenal Souto Júnior, candidato pelo Partido Comunista do Brasil, foi apresentado na imprensa comunista como um “legítimo herdeiro das gloriosas tradições de luta dos homens e mulheres da sua raça, os negros da Bahia, que dirigiram ou participaram dos movimentos de 1835 e seguintes contra a opressão e pela igualdade de direitos dos trabalhadores de cor”. Juvenal foi o segundo candidato mais votado na legenda pecebista, superado apenas por Carlos Marighella, o único deputado comunista eleito pela Bahia. No pós-Estado Novo, muitos dos operários que se destacaram no movimento sindical baiano eram negros. Alguns destes operários viram no curto período de legalidade do PCB (1945-1947) uma importante janela de participação na política partidária e eleitoral. Recentes estudos têm focalizado a relação do PCB com a questão racial e a participação negra na política partidária e eleitoral. Contudo, essas pesquisas têm privilegiado a perspectiva do partido político e do ativismo negro e as variáveis conjunturais, não dedicando a mesma atenção às experiências e trajetórias de operários e ativistas sindicais negros que tiveram atuação efetiva na militância partidária e na disputa eleitoral no pós-Estado Novo. O presente artigo parte da perspectiva de que a relação desses operários negros com a política partidária e eleitoral eram uma via de mão dupla, onde os discursos, as diretrizes e deliberações do partido político e dos movimentos negros podiam ser apropriados e ressignificados a partir de suas trajetórias e experiências pessoais e sociais.
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