Diglossia em (re)tradução nas literaturas francófonas: o caso de Gouverneurs de la rosée, de Jacques Roumain, no Brasil
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-7968.2025.e100783Palavras-chave:
Retradução, Diglossia, Literaturas francófonas, Gouverneurs de la rosée, Jacques RoumainResumo
O escritor oriundo de antigos espaços coloniais franceses pode se ver diante de um dilema: em que língua escrever? A escolha pela língua do colonizador (o francês) ou pela língua materna traz consequências poéticas, editoriais e políticas que não podem ser negligenciadas. Gouverneurs de la rosée (1944), romance do haitiano Jacques Roumain, oferece uma solução: utiliza o francês, mas sem abandonar o crioulo. Para isso, encena narrativamente um dispositivo tradutório em que os personagens sabidamente se comunicam em crioulo, mas o narrador reporta e traduz suas falas para um francês “perfumado” (Depestre, 2006) pela língua crioula. Assim, apropria-se da língua do antigo colonizador e transforma-a face à dinâmica cultural haitiana, desarmando a diglossia colonial. Partindo dessa constatação, e apoiando-nos nos estudos de Hoffmann (1976, 2003), Laroche (1981), Constantini (2003, 2005), Chaulet-Achour (2010) e Mattos e Provinzano Amaral (2023), analisamos a tradução (Donos do orvalho, de 1954, de Emmo Duarte) e a retradução (Senhores do orvalho, de 2020, de Monica Stahel) brasileiras do romance, a fim de percebermos como cada projeto tradutório retextualiza o conflito diglóssico presente na obra de Roumain e, poderíamos afirmar, em grande parte das chamadas literaturas francófonas. O paradigma tradutório revela-se uma maneira promissora de lermos e analisarmos as poéticas francófonas pós-coloniais, mas também as poéticas tradutórias desenvolvidas no Brasil para dar a ler ao público brasileiro a disputa diglóssica na qual o francês se transforma em “butim de guerra”, como dizia Kateb Yacine, e é devorado pelo escritor francófono.
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