A Cartilha Normal Portuguésa de António Teixeira (1902): entre tradições, mudanças e intercâmbios
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-7968.2024.e102049Palavras-chave:
cartilha, língua portuguesa, métodos didáticos, alfabetizaçãoResumo
O século XIX europeu assistiu a numerosas revoluções sociais, entre as quais as que afetaram os sistemas pedagógicos nacionais ocupam um lugar digno de consideração nos estudos didáticos. De fato, foi nesse período que as cartilhas voltaram novamente a assumir um papel de destaque, uma vez que, a partir delas, os pensadores elaboraram vários materiais voltados à alfabetização. Essa explosão de recursos, junto com o crescimento das escolas públicas, levou o governo português a ampliar e reforçar o sistema escolar e, ao mesmo tempo, a unificar os diversos métodos didáticos em circulação. No entanto, para amortizar o elevado custo dos livros, os professores foram encorajados a se tornarem autores, como testemunha a Cartilha Normal Portuguésa do cônego cabo-verdiano António Teixeira (1902). Teixeira foi uma figura nota dentro do cenário cultural do arquipélago na viragem dos séculos XIX-XX, empenhado na luta contra o analfabetismo e no desenvolvimento de uma consciência identitária. Sua cartilha simboliza a síntese de uma longa tradição pedagógico-didática europeia, modernizada pelos novos desenvolvimentos linguísticos e filológicos do século XIX e filtrada pelas diretrizes didáticas de autores portugueses, como António de Castilho, Carlos Dias, Francisco de Aulete e João de Deus. O presente estudo busca destacar esta cartilha, que combina padrões tradicionais e inovações modernas, surgida além das fronteiras geográficas europeias, mas que condensa perfeitamente todo o fervente movimento intelectual finissecular do Velho Mundo.
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