Entre “aringas” e “quilombos”: experiências e comunidades de trabalhadores no norte de Moçambique no século XIX
DOI:
https://doi.org/10.5007/1984-9222.2024.e98675Palabras clave:
trabalhadores africanos, Moçambique, colonialismoResumen
Ao longo do século XIX, é possível observar, no norte de Moçambique (atual província de Nampula), o surgimento de novas configurações sociais e políticas compostas originalmente por africanos escravizados fugidos e libertos, denominadas nas fontes portuguesas de “aringas” e “quilombos”. O objetivo deste artigo é explorar como as experiências de trabalhadores e as múltiplas formas de organização do trabalho influenciaram a formação dessas comunidades. Num primeiro momento, apresentei duas povoações – Missanga e Ampapa – e a sua relação com as formas de trabalho marcadas pelo sistema escravista europeu e com as dinâmicas locais africanas, como os processos de migração e o comércio de longa distância. Num segundo momento, analisei a formação de uma terceira comunidade – “aringa de Farelay” – e a sua ligação com as novas formas de relações de trabalho advindas da implementação do colonialismo europeu. Por fim, discuti o uso dos termos “aringas” e “quilombos” para identificar essas comunidades e possíveis aproximações entre os sentidos dados a essas experiências de trabalhadores no norte de Moçambique e em outros espaços geográficos.
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