Os “pequenos trabalhadores agrícolas”: a exploração do trabalho infantil nas lavouras de café no Vale do Paraíba Fluminense entre o final da escravidão e o pós-abolição
DOI:
https://doi.org/10.5007/1984-9222.2025.e105500Palavras-chave:
Trabalho Infantil, Tutelas, SoldadasResumo
O artigo analisa o papel das soldadas e das tutelas na composição do mercado de trabalho rural e camponês no Vale do Paraíba Fluminense entre o final da escravidão e o pós-abolição. A presença de crianças tuteladas e de jovens pobres assoldadados foi crucial para a manutenção do funcionamento da lavoura cafeeira na crise da escravidão e no período que se seguiu imediatamente à abolição. A figura do lavrador, adulto e chefe de família, que estabelecia contratos de colonato, arrendamento, parceria, morada, empreitada, aforamento, dentre outros acordos laborais, não pode apagar a existência desses outros atores que também trabalharam no meio rural e que foram essenciais na conformação dos arranjos de trabalho no campo. Em vista disso, coletamos para esta investigação 18 soldadas e 26 tutelas para os municípios de Vassouras, Piraí e Valença (localidades cafeeiras centrais no Vale do Paraíba fluminense em sua parte ocidental), entre os anos de 1871 e 1916, recorte temporal balizado pela Lei do Ventre Livre, de 1871, até o Código Civil aprovado no Brasil em 1916. É por meio da análise destas fontes que buscaremos compreender a história desses “pequenos trabalhadores agrícolas” como parte da história mais ampla do campesinato e da história social do trabalho no Brasil.
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