“Operação Flagelados”: a migração em massa de nordestinos para diversas regiões do país e a política de escoamento forçada do governo federal (Ceará, 1958-1959)

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/1984-9222.2025.e107774

Palavras-chave:

Sertanejos, Hospedaria Getúlio Vargas, migração, operação flagelados

Resumo

Em 1958, os nordestinos vivenciaram uma das maiores intempéries climáticas do século XX, com a ocorrência de diversas problemáticas relacionadas à seca, tais como fome, doenças e morte. A migração tornou-se assim a última instância para a sobrevivência. Uma das principais capitais que recebeu esses sujeitos em deslocamento foi Fortaleza, no Ceará. Um dos motivos para tal ocorrência era a existência de uma hospedaria, denominada Getúlio Vargas, que desde 1943 recebia os retirantes, concedendo passagens subsidiadas pelo governo federal. Mas a respectiva instituição, que foi criada para receber até 1.200 sujeitos, no período mais crítico da seca de 1958 chegou a ter em suas o quantitativo de aproximadamente 12 mil pessoas. Com medo que essas pessoas pudessem se revoltar, como efetivamente ocorreu durante aquele ano, o governo federal decidiu organizar uma força tarefa que envolveu diversos agentes, inclusive Marinha, Exército e Aeronáutica, realizando uma migração em massa e forçada, que foi denominada “Operação Flagelados”. Uma operação, que foi realizada entre fins de 1958 e início de 1959, com o intuito de deslocar milhares de sujeitos para diversas regiões do país, mas, sobretudo, para a região amazônica. A partir da análise de diversas fontes, tais como jornais, documentos oficiais e entrevistas, conseguimos debater sobre as consequências dessa decisão, que culminaram na proposta de criação de hospedarias rurais nas cidades de Fortaleza, Belém e Manaus.

Biografia do Autor

Renata Felipe Monteiro, Secretária Municipal de Educação de Fortaleza

Doutora em História Social pela Universidade Federal do Ceará. Professora de História da Prefeitura Municipal de Fortaleza.

Referências

BARBOZA, Edson Holanda Lima. Ida ao Inferno Verde: experiências da migração de trabalhadores do Ceará para a Amazônia (1942-1945). 2005. 182 f. Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Programa de Estudos Pós-Graduados em História, São Paulo, 2005.

BENCHIMOL, Samuel. Amazônia: um pouco-antes e além-depois. Manaus: Editora Umberto Calderano, 1977.

CAMPOS, André Luiz Vieira. Políticas Internacionais de Saúde na Era Vargas: o Serviço Especial de Saúde Pública, 1942-1960. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2006.

CASTRO, Lara de. “Políticas antimigratórias: entre as tentativas de imobilização através da oferta de trabalho em obras públicas e a pujante vigilância nas fronteiras.” In: CANCELA, Cristina Donza; CASTRO, Lara de (org.). Nortes migrantes: deslocamentos, trajetórias e ocupação na Amazônia brasileira. Brasília: Senado Federal, 2023.

CHRYSOSTOMO, Maria Isabel de Jesus; VIDAL, Laurent. “Do depósito à hospedaria de imigrantes: gênese de um ‘território da espera’ no caminho da emigração para o Brasil.” Revista História, Ciências e Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, p. 1–23, jun. 2013.

GOIS, Sarah Campelo Cruz. As linhas tortas da migração: estado e família nos deslocamentos para a Amazônia (1942-1944). 2013. 198 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Ceará, Centro de Humanidades, Programa de Pós- -Graduação em História Social, Fortaleza, 2013.

GUILLEN, Isabel Cristina Martins. Errantes da selva: histórias da migração nordestina para a Amazônia. 1999. 310 f. Tese (Doutorado) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, Programa de Pós-Graduação em História, Campinas, 1999.

MARTINELLO, Pedro. A batalha da borracha na Segunda Guerra Mundial. 2. ed. Rio Branco: Edufac, 2018.

MORALES, Lúcia Arrais. Vai e vem, vira e volta: as rotas dos soldados da borracha. São Paulo: Annablume; Fortaleza: Secult, 2002.

MOURA, Soraya. Hospedaria de imigrantes de São Paulo. São Paulo: Paz e Terra, 2008.

NEVES, Frederico de Castro. A multidão e a história: saques e outras ações de massas no Ceará. Rio de Janeiro: Relumé Dumará; Fortaleza: Secretaria de Cultura e Desporto, 2000.

REZNIK, Luís; FERNANDES, Rui Aniceto Nascimento. “Hospedarias de Imigrantes nas Américas: a criação da hospedaria da ilha de Flores.” Revista História, São Paulo, v. 33, n. 1, jun.–jul. 2014.

ROCHA, Dom Jaime Vieira. Sob os signos da esperança e da responsabilidade social. In: I E II ENCONTRO DOS BISPOS DO NORDESTE. Anais [...]. Campina Grande, 1956/Natal, 1959. Rio de Janeiro: Presidência da República – Serviço de Documentação, 1960; Campina Grande: EDUEPB, 2016. p. 312.

SECRETO, Maria Verônica. A ocupação dos “espaços vazios” no governo Vargas: “Discurso do rio Amazonas” à saga dos soldados da borracha. Estudos Históricos, n. 40, p. 115-135, 2007.

SECRETO, Maria Verônica. Soldados da borracha: trabalhadores entre o sertão e a Amazônia no Governo Vargas. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2007.

SOUZA, Ramon Feliphe. Fé, foice, facão e fuzil: Igreja Católica, desenvolvimento e saúde no Brasil da Guerra Fria (1952-1964). 2022, 367 f. Tese (Doutorado) – Fundação Oswaldo Cruz, Casa Oswaldo Cruz, Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e Saúde, Rio de Janeiro, 2022. p. 309.

UDAETA, Rosa Guadalupe Soares. Nem Brás, nem flores: Hospedaria de Imigrantes da Cidade de São Paulo. São Paulo: FFLCH/USP, 2016.

Downloads

Publicado

2025-12-17

Como Citar

MONTEIRO, Renata Felipe. “Operação Flagelados”: a migração em massa de nordestinos para diversas regiões do país e a política de escoamento forçada do governo federal (Ceará, 1958-1959). Revista Mundos do Trabalho, Florianópolis, v. 17, p. 1–22, 2025. DOI: 10.5007/1984-9222.2025.e107774. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/mundosdotrabalho/article/view/107774. Acesso em: 24 dez. 2025.

Edição

Seção

Dossiê: História Rural da América Latina: trabalhos e trabalhadores

Artigos Semelhantes

1 2 3 > >> 

Você também pode iniciar uma pesquisa avançada por similaridade para este artigo.